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O poder de um poeta não tem medida; Carlos Drummond de Andrade que o diga

O poder de um poeta não tem medida; Carlos Drummond de Andrade que o diga

Na década de 1970, por meio de um poema dele, a MBR, hoje Vale do Rio Doce, foi demovida de destruir o cartão postal de Beagá, a Serra do Curral

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Direto da Redação

15-09-2022

Alberto Sena

Trisquei no “poder de poema” e me recordei do poeta Carlos Drummond de Andrade e as lembranças me remeteram ao ano de 1975, quando as Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), hoje Vale do Rio Doce, em plena ditadura militar, deu de querer retirar o minério da Serra do Curral, bem no frontispício do cartão postal da capital.

Com o apoio do jornalista e escritor Roberto Drummond, na condição de editor do caderno “2ª Seção” do jornal Estado de Minas (Roberto substituía o editor titular Geraldo Magalhães, em férias), fiz uma reportagem baseada em um importante documento da Fundação João Pinheiro.

O tal documento denunciava a loucura pretendida pela MBR – explorar o minério do frontispício do nosso cartão postal – o que faria desaparecer, em 15 anos, o pedaço da serra bem na direção da Avenida Afonso Pena, lá no alto. A área ficaria ao mesmo nível da Praça Rui Barbosa, Praça da Estação Ferroviária, no Centro de Belo Horizonte. Isso causaria um desastre para a capital que não iria suportar os ventos de Nova Lima para cá.

Roberto Drummond titulou mais ou menos assim a reportagem: “Sou Gente-Serra do Curral e Peço Socorrooo...”.

Na época, o poeta Carlos Drummond de Andrade ouviu o pedido de socorro da Serra do Curral e fez o poema “Tristes Horizontes”. Assim, ele provou o poder e a força de um poema de muitos megatons, megatons bons, por meio dos seus versos, ele demoveu MBR do cometimento de sua loucura.

Resultado, a mineradora enviou técnicos à Europa para buscarem tecnologia de mineração que pudesse operar atrás da serra. Nasceu, então, o projeto de “Águas Claras”, e a operação por meio de bancadas, preservava a casquinha do frontispício do nosso cartão postal.

O buraco foi aberto atrás da serra. Quem for lá vai verificar. É um buraco de 300 metros de profundidade, que há cerca de 15 anos está se enchendo de água e só ficará cheio em 2025.

O lago é de meter medo, agora sob a responsabilidade da Vale do Rio Doce, a mesma empresa que deixou acontecer os desastres ambientais de Mariana e de Brumadinho, que não saem da memória de Minas, do Brasil e do mundo, como os piores já acontecidos por essas plagas.

Resta saber se a Vale tem análise de “sismo induzido”, porque o volume de água atrás da serra é enorme e a gente conhece bem o poder das águas.

Aparentemente, o espelho d’água ali está parado, mas não sabe o que acontece lá no fundo.

Tem-se a impressão de que ali um monstro semelhante ao do “Lago Ness” esteja em processo de gestação.

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