
Anos 90, "Os homens eram mais homens e as mulheres eram mais mulheres" - créditos: Freepik
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30-03-2025 às 09h59
José Altino Machado (*)
Vida agitada, ansioso por viver tudo que pudesse, ainda assim falava a meus pais, das dificuldades que encontrava em me encaixar nestes tempos. Isso lá pelos anos noventa, quando já quarentão.
Mãe, paulista realista e prática, profetizava que eu deveria mais me adaptar às modernidades que já existentes e as que surgiriam para sofrer menos no futuro.
Por outro lado, pai apenas dizia:- “pare seus choramingos e vá à luta” … paradoxo familiar…
Quando nasci, acontecia no mundo uma guerra braba, como nunca acontecera.
Acredito que seja impossível à minha geração, como outras a frente ter oportunidade em conhecer verdadeiros motivos e razões para desgraceira tão grande. Afinal, quando viemos à luz, já se despontavam vitoriosos.
Assim, como quem conta a história e justificam atos são sempre os vencedores, torna-se difícil fazer justiça imparcial aos contendores.
De qualquer forma em meus julgamentos e teimosia com meus pais, insistia que aqueles tempos, mesmo belicosos, eram muito “mais melhores de bãos”.
Os homens eram mais homens e as mulheres eram mais mulheres. E quanto a esta questão atual tão discutida de gêneros humanos, à época, simplesmente cada um na sua, mantendo suas “preferencias” restritas às suas intimidades, mantendo respeito a foro íntimo. E pronto…
Só que de forma severa, acreditava que, havia sempre mais e cada vez mais políticos divisionários e inadequadas lideranças sendo seguidas. A própria sociedade também cada vez mais se atrapalhava.
Nem decorridas quinze primaveras, pós um mundial cessar fogo, apareceu excepcional pílula anticoncepcional trazendo uma radical mudança de costumes nas sociedades mundo afora, salvo alguns povos que tem preferido obedecer a Deus no “crescei e procriai”.
Ainda assim, o ritmo pro criativo continuou célere trazendo consigo sérios problemas ao sustento e, mais que isso, ao ajustamento administrativo de como fazer ou se permitir fazer, se viver com relativa paz e sossego a todo esse mundão de gente. Principalmente quando sequer o sistema educacional de adaptação às novas eras, acompanha os resultantes dos prazeres.
Volto a pai e mãe contra-argumentando aos dois, dizendo, que se tornara difícil ao mundo prosseguir sem uma melhor adequação instrutiva a líderes dos momentos ou mesmo gestores eleitos, numa emocional democracia regida por simpatias ou com um descarado comportamento de partilha da coisa pública, em atendimento ao anseio de conquista dos poderes.
Aliás, para política não os vendo para tal, o povo nem sempre escolhe seus reais e verdadeiros líderes.
Eu, ali, embirrando com eles, que os mais notáveis sentimentos humanos nestes últimos anos correntes, nos abandonaram por completo. Pudor, vergonha e, principalmente, o respeito devido a uma vida em coletividade, se acabaram.
E aqueles que ainda preservam tais comportamentos, se aquietam e se acomodam perante aquilo que, famílias, escolas e relações íntegras não mais conseguem reparar.
Expondo tais argumentos, usando de boa oratória, insistia com eles que passados, mesmo recentes, eram melhores e que eu teria gostado muito que eles tivessem se conhecido em outras encarnações e eu sendo parido em até outros séculos.
A paciência de mãe para comigo não tinha uma longa duração, mas pai acreditava que eu tinha ou teria jeito, assim saía de seus costumeiros silêncios e usando as ferramentas da experiencia, prosseguia ensinando o “burro” a pensar.
“Meu filho” … (quando ele começava assim era para ouvirmos calados). Seguiu dizendo que quando se trata da evolução de uma sociedade nem tudo pode ser como um, dois ou três grupos pensam ser. O objetivo a ser alcançado deveria ser sempre os interesses da União, que significa povo e país. Qualquer que seja um interesse diferente e maior que estes, trará inconsistência não só política, mas insegurança social e por extensão, patrimonial. Em termo de unidade só sobraria mesmo uma moralidade abatida.
Respeitosamente, para não machucar o papo, nunca ousei retrucar. Mas, certa vez, coloquei em pauta o comportamento havido com o regime militar, 64/85, que acreditava ter errado, ao proceder transmissão abrupta do poder e quanto a preparativos políticos da sucessão. A começar que deveriam ser eles, a fazerem sem maiores interferências, convocação de inteira e nova Assembleia Constituinte.
Imaginava que devessem isso a Nação.
Em resposta ouvi que tais erros e muitos outros são passíveis de acontecer.
Que venham ditaduras civis ou militares, guerras, revoluções, recessões e tantos outros males ainda que possam atingir profundamente porções da sociedade. Tudo a tempo e hora haverá de ser restaurado, sem maiores custos ou sacrifícios extremos. Mas…
Que jamais turbem as crenças, as referências de valores e o necessário ensino. Reparos a eles são dificílimos. Por outro lado, que tenhamos sempre em mente, que polícias jamais podem perder ou se politizarem. Seria o fim da segurança civil, patrimonial e do Estado organizado.
Tenhamos todos em mente que, o maior dos agravos será sempre provocado por instabilidade jurídica, permitindo-se a justiça, afrontoso comportamento ditatorial. Ainda mais quando tangida por emoções sociais ou dos próprios julgadores.
Não sobrará nenhum recurso de defesa ao cidadão e nenhum outro poder a buscar. Restando, entretanto, se advindo de exageros exarados, acontecer também exageros em resposta bem mais prejudiciais.
Pai e mãe são mortos. Confesso que os episódios que nosso país em dias de hoje atravessa, me conforta por aqui não mais estarem. Com certeza, ouviria bastante o de pior a alguém escutar: “eu não disse, eu não disse”!!!
É deprimente o que assistimos não só em eventos da política nacional, como as lamentáveis cenas em nossos maiores poderes de defesa da nação que temos tentado construir.
Sabe-se que ocupantes de cargos por indicações se equilibram em níveis dos indicadores, mas no exagero estão se permitindo ultrapassar os limites das liturgias dos encargos.
“Nunca antes na história deste país”, (do Lula) se viu uma Corte Suprema tão desrespeitada e achincalhada. E pior, no mau exemplo, tem contaminado todo um sistema composto em grande maioria por autênticos e sérios juristas.
Respostas negativas de multidões têm sido enorme, e bastante desabonadoras comprometendo o poder. Tornaram-se repetitivos os escândalos divulgados, de sentenças parecendo acordadas, penduricalhos gigantescos e cenas teatrais públicas ou em canais de televisões.
Se tem percebido intensa desconfiança de participação política de seus maiores membros, por constantes decisões favoráveis tão somente a ligados ao poder. O que tem provocado constrangimentos e desprazeres quando em aparições públicas em aeroportos, outros meios de transportes coletivos, restaurantes ou em corriqueiros logradores.
Também, “nunca antes na história desse país,” se viu tantas referencias desrespeitosas a estes senhores togados. E não só a eles, mas a muitos outros inimagináveis outrora como mal conceituados.
Assim, lá se foram momentos que decisões, sentenças e despachos jamais se discutiam, cumpria-se.
Ainda essa semana, nem pai nem mãe viram ou souberam, mas um ex -ocupante de mais alto cargo, presente a ministros magistrados, após audiência, ao deixar o plenário e ainda na porta do outrora lugar sagrado, sai a falar tal qual arara baleada. Descontrolado, com incontinência verbal, produziu razões, que no momento e local poderiam gerar possível voz de prisão, por afronta não aos ministros, mas àquele poder.
E sem limites às ambições, audacioso e auto endeusado, mostra desejo único em voltar a ocupar o lugar perdido, exatamente por tais imprudentes intempestividades.
Escolhas infelizes nos indicam outros caminhos. Ainda mais que se acabaram mesmo as eras em que a humanidade produzia homens e mulheres que eram mais respeitosos e corretos.
Juro que ao que vivi, hoje, pouco acontece…
Belo Horizonte/Macapá 30/03/2025
(*) José Altino Machado é jornalista