
Filosofia e linguagem filosófica - créditos: UESB
21-06-2025 às 09h00
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
A filosofia se preocupa menos com as respostas e mais com as perguntas que possam, linguisticamente, ser elaboradas. É instrumental que tem o propósito de questionar e interpretar o mundo, compreendê-lo, em certa medida. Afinal, depara-se o homem, diversas vezes, com o absurdo da precariedade da existência humana.
O filósofo questiona o humano, os acontecimentos, situações e reações. Afinal, aquele que não tem dúvidas tende a repetir, indefinidamente, o que ouve, lê e é proposto, sem condições elaboradas de raciocinar criticamente acerca do que é apresentado e do que fui construído outrora.
Pensar de modo estruturado, com mais elementos e proposições não é dado. Afinal, é indispensável se aprender a raciocinar de modo complexo, levando mais variáveis em consideração, o que permite dialogar com o texto, a fala, o acontecimento e não simplesmente naturalizar e aquiescer com as ideias e cenários propostos e impostos.
A filosofia é uma ciência libertadora, pois permite ao filósofo a coragem construtiva de assumir uma posição radicalmente livre diante de seus questionamentos, abandonando respostas já esgarçadas, sedimentadas e naturalizadas.
Do filósofo, espera-se, inquietude, curiosidade e disposição para pensar de modo livre diante das questões. Para isto, deve dedicar-se a estudar os pensamentos filosóficos já sedimentados, conhecer autores, textos e correr riscos ao entrar em contato com questões desafiadoras e inquietantes.
O laboratório do filósofo, em muitas circunstâncias, é a sala de aula, onde se refletem e debatem ideias sobre a conformação da vida, seus desafios, potencialidades e limitações.
Historicamente, foram realizados questionamentos e exaradas teorias sobre democracia, consciência, liberdade, desejos, paixões humanas e suas complexidades, existência, morte, natureza das coisas, linguagem, religião, razão, enfim, uma infinidade de questões são debatidas e rebatidas no campo da filosofia.
A linguagem humana, por exemplo, pressupõe implicações de herança genética, educação, crenças, regras morais e culturais. Espera-se, de uma linguagem eficaz do ponto de vista de debater ideias, de um lado, compartilhamento do léxico, entendimento da mensagem, proposta e capacidade argumentativa, de outro, compreensão do conteúdo linguístico pelos ouvintes. Trata-se da externalização do brocado popular: “conversando a gente se entende”. São importantes fatores de aderência ao debate: simpatia, sorrisos, olhares de abertura e troca de ideias diferentes das próprias.
A linguagem expressa, no momento de exteriorização da mensagem, potencializa pensamentos e entendimentos de mundo. Desta feita, a palavra é vetor poderoso, assim, é preciso aprender a fascinante e sedutora arte do diálogo bem embasado em ideias, argumentos, que externaliza conclusões e permite perceber o fio condutor do entrelaçamento de premissas e conclusões, eis uma arte do orador vocacionado que causa fascínio.
Pensar bem, também ajuda no expressar-se de maneira mais aperfeiçoada, já que o pensamento antecede a palavra.
Por outro prisma de análise, a paixão é perigosa, à medida em que rompe com a capacidade de pensar com clareza ou de levar em conta mais elementos. Arroubos de paixão cegam. Pessoas apaixonadas em demasia, tendem a organizar a vida em torno do objeto de desejo e, desta feita, a emoção prolonga o êxtase e dificulta a percepção de outras nuances. Paixões descontroladas costumam desaparecer na mesma intensidade em que se iniciaram. Tudo é frenético, desarrozoado, fugaz e, desta feita, costuma se esvair rapidamente.
O olhar do apaixonado e o fascínio da paixão alteram a percepção, deturpam e cegam. Sabe-se que toda realidade é complexa e que, portanto, não há apenas um único modo de observar os fatos, circunstâncias e pessoas. A realidade pode ser percebida de inúmeras formas. Tudo é multifacetado, dúbio, há uma riqueza de variáveis a serem levadas em conta.
Desta feita, a paixão também é dualidade, se o ser apaixonado se cega em certa medida, por outro lado, há uma importância ímpar de apaixonar-se, pois ultrapassa-se a mera análise racional e objetiva.
Enfim, vida é complexidade. Objetividade e subjetividade, racionalidade e paixão tudo se entrelaça. Há uma riqueza de elementos a serem percebidos, uma confluência de variáveis: gozo, responsabilidade e avaliação conjectural. Tudo flui e influi. Que cada um assuma seus riscos e não prescinda de pensamento crítico e tomada de decisões consciente, pois o hoje é urgente e insurgente. Brindemos a caminhada!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, Residente Pós-doutoral UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Autodidata na arte da vida e da pintura.