Direto da Redação

24-09-2022

6h:42

Alberto Sena

Enquanto espiava pela janela o final da tarde, semelhante ao nascimento do dia, coberto de nuvens pesadas e muito vento, não neste momento, mas no período da manhã, me lembrei, nem sei por que, da entrevista dada outro dia pelo compositor e cantor Milton Nascimento, o Bituca, ao site UOL.

Uma bela duma entrevista, diga-se de passagem. Entre tantas outras coisas ditas a mais marcante foi: “A música brasileira está uma merda”. Acho, entretanto, que ele demorou muito a vir a público para dizer ter constatado essa verdade. A música brasileira está realmente de péssima qualidade.

Chamou também a minha atenção a declaração dele de que está desiludido com o mundo e não vem tendo inspiração para compor música, mas cantar ele não vai deixar de cantar nunca. Isto significa, ele irá cantar as canções de sempre, já que perdeu a inspiração para fazer novas composições.

Refleti sobre o que disse e faço a ele uma sugestão em meio a indagações: se o mundo e a música brasileira estivessem bem, ele teria então inspiração para compor? É necessário que tudo esteja, como se diz, numa boa, para que você, Milton venha a ter inspiração de compor?

Ora, meu artista preferido, por que você não se utiliza do material decomposto no momento para expressar a sua opinião e oferecer ao País e à musicalidade dos artistas alternativa para encontrar outros caminhos, mais substanciais do que os elementos atuais que tornam o Brasil, o mundo e a música brasileira “uma merda”?

Imagine, Bituca, você, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Gal, Betânia, além de outros nomes consagrados juntos em um movimento pro-salvação da música brasileira?

Milton dizer que a música brasileira está “uma merda”, ele só está metendo o dedo na ferida. Aponta o problema, problema que, aliás, nós todos sabemos e estamos vivendo há muito tempo, mas não apresenta solução.

Ele e os demais citados deviam raciocinar, depois deles não sugiram, com algumas poucas exceções, grandes nomes e foi então aí que a coisa degringolou. Cabem então a eles formarem uma nova geração de compositores e cantores capazes de resgatar a música brasileira, porque nenhum deles ficará para semente e quando partirem deste planeta, se nada fizerem para melhorar a situação, quem fará alguma coisa no lugar deles?

Então, Milton, que tal ganhar ânimo, já que o ânimo não está fora de você, mas dentro de você, que tal dar uma sacudida e iniciar a composição mais importante da sua vida, mais do que as canções daqueles tempos áureos da música brasileira em que você se consagrou ao demonstrar seu poder aglutinador e engrandecedor da nossa música?