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Eucalipto estraga clima da região e "deserto verde” expõe empresários sem visão ambiental

Eucalipto estraga clima da região e "deserto verde” expõe empresários sem visão ambiental

No Vale do Jequitinhonha, região de Grão Mogol, se pode viajar de carro horas entre maciço de eucalipto. Segundo estudo divulgado, um pé de eucalipto isoladamente consome 30 litros de água por dia, daí ressecar o terreno

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Direto da Redação

29-09-2022

6h:35

Alberto Sena

O Vale do Jequitinhonha, mais especificamente a região de Grão Mogol, município distante da capital quase 600 quilômetros de Belo Horizonte, considerado “fim de mundo”. Tanto é verdade que décadas atrás brotou na cabeça de alguém a ideia de encher de eucalipto a região, pois que ninguém iria se importar com a região, mesmo em detrimento da fauna, da flora e do clima locais.

É possível viajar horas entre maciços de eucalipto, um verdadeiro mar verde dentro do qual nada procria, a não capim se serventia. Nenhum pássaro frequenta e no máximo se pode encontrar em seu meio cobras.

O “deserto verde” tem vários responsáveis na região. A começar do ex-governador Newton Cardoso, Vale do Rio Doce (Floresta Rio Doce), Plantar, Rima, Calsete e outras, além do famigerado “fazendeiro florestal”.

Todos contribuíram para tornar ainda mais árida as áreas integrantes do Polígono das Secas (as secas eram cíclicas, agora, com os eucaliptos, são permanentes). Essa corrida ao eucalipto originou sérios problemas de grilagem de terras.

Os mais antigos personagens de Grão Mogol contam, antes da vinda dos eucaliptos, o clima da região era outro, bem mais agradável. Chovia em abundância, até além do período considerado normal. A sede do município tinha fama de possuir clima temperado comparável a certos lugares da Europa. Os rios esbanjavam água, os ribeirões e córregos também.

Atualmente, a não ser de madrugada, quando a temperatura cai um pouco, Grão Mogol ficou quase tão quente quanto está Montes Claros. A luz solar incide nas pedras e estas refletem o calor ajudando tornar os dias e as noites muitas das vezes quase insuportáveis. A vantagem é que lá venta devido às serras, e em Montes Claros vento é quase só o do ventilador ou do ar-condicionado.

Muita coisa mudou na região e o eucalipto é apontado como o principal responsável por isso. Por isso e por muito mais, porque destruiu a flora e afugentou a fauna.

Em eucalipto nada aparece além de “formigas e caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como abrigo, mas não se alimentam delas)”, como explica em estudo específico Rafael Said Bhering Cardoso, Mestre em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Os impactos negativos do eucalipto são por demais conhecidos. É necessário pôr um basta na ganância empresarial e impedir a expansão dos maciços. É fundamental não pensar só economicamente, mas ter visão mais ampla dos prejuízos que uma monocultura de eucalipto provoca. Quem ganha é só o empresário. Hoje, do plantio a colheita, tudo é mecanizado.

Para quem sabe ler e raciocinar basta dizer, um pé de eucalipto isoladamente visto em meio ao maciço consome por dia 30 litros de água. E o que isso pode gerar adiante senão um déficit hídrico nas regiões onde são cultivados eucaliptos? É o que acontece na região de Grão Mogol. Numa linguagem popular, os eucaliptos chupam a água da região.

O problema é grave. Ressecamento do solo significa maior exposição à erosão. O eucalipto visando unicamente “maior viabilidade econômica possível” empobrece o solo e o expõe.

Terra é gente como a gente. Terra sente dores, como a gente. Terra empobrece também. Todo agricultor sabe disso. Para recuperar a terra é necessário alto investimento. A biodiversidade diminui e a diversidade da fauna também.

Para contrapor ao discurso falso de oferta de “empregos e reflorestamento”, a especialização da atividade gerou grande desemprego e põe em risco até mesmo a cultura de um povo. Esse problema pode acabar por gerar grande impacto social na região. Tudo isto sem nada falar da transformação da paisagem, quando as florestas heterogenias são substituídas por monocultura de eucalipto. Clones que, a cada ano vão tornando desértico onde antes havia um paraíso natural.

Imagem da Galeria Os maciços de eucalipto são um problema para o clima da região
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