É triste, mas casos de abandono de idosos e crianças crescem
O número de denúncias registradas no primeiro semestre de 2024 foi de 12.533, havendo aumento de 48% em comparação ao mesmo período de 2023, que terminou com o registro de 8.455 denúncias do tipo
10-08-2024 às 07h:57
Bento Batista
Havia acabado de ler um texto sobre a foto de um homem com trajes de mendigo, barba comprida, um cajado na mão. Não era um homem comum. Era Lev Tolstoi um gigante da literatura russa e mundial.
Conta-se que ele caíra em depressão aos 50 anos. Sem motivo algum. Era considerado um conde, um dos homens mais ricos do país, e famoso em todo o mundo. Mesmo assim era infeliz.
“Para ele, o dinheiro não era nada, o poder não era nada. Nem a saúde tinha peso pesado; havia pessoas doentes cheias de vontade de viver e havia pessoas saudáveis que estavam angustiadas por medo de sofrer”, dizia o texto.
Ele esqueceu-se de si mesmo, dos problemas, da tristeza. A partir daquele momento que Tolstoi desistiu dos vestidos de cavalheiros, do luxo, dos seus privilégios, começou a levar uma vida simples, doando o que possuía a quem precisava.
“Não me fale sobre religião, caridade, amor”, costumava dizer ele, “mas mostre-me religião nas suas ações”. Ele foi o primeiro teórico da não-violência. Pregou a fraternidade entre os povos e suas ideias inspiraram outro homem do século XX, Mahatma Gandhi.
Acabei de ler o texto e me deparei com a notícia de que a mineira Maria Aparecida Augusto Soares de Jesus, de 52 anos, retornou à terra natal para visitar o pai, de 84 anos, em Fronteira dos Vales, no Mucuri (MG). Ela ficou em estado de choque com o cenário desolador em que o pai vive.
Sob responsabilidade de um irmão dela, o pai não apresentava sequer o mínimo de higiene sobre a cama. As condições de saúde dele não permitem que deixe a cama sozinho. E ele vive sozinho.
A diferença entre o pai de Maria Aparecida e Tolstoi é que este abandonou a vida de vestidos de cavalheiros, do luxo, dos privilégios e passou a viver da forma mais simples depois de doar tudo que possuía por decisão própria e por isso foi tido por louco.
Um amigo dele, que vivia no luxo, o encontrou e disse-lhe: “Para que propósito estás a fazer tudo isto? O que você se importa com os outros? Devias pensar em ti mesmo”. Tolstoi respondeu: “Se sentes dor, estás vivo, mas se sentes a dor dos outros, és humano”.
Particularmente, acredito no que chamamos de “Lei do Retorno”. Tudo que a gente faz, de bom ou de ruim em relação aos outros, volta para gente de alguma forma. Pode não ser da mesma maneira, mas retorna de alguma forma.
Um filho que tem a responsabilidade de cuidar do pai e não cuida, adiante, quando ele estiver velho – se chegar à idade do pai – ele pode vir a receber tratamento semelhante ao dado ao velho.
Maria Aparecida registrou um “boletim de ocorrência” contra o irmão mais novo, alcoólatra, que mora na mesma rua do pai. Ela não consegue levar o velho para São Paulo porque os parentes são contra a remoção dele.
“Meu irmão não passava período integral com meu pai, deixava ele dormir sozinho. Ouvi relatos de amigos e vizinhos que ouvem ele gritando com meu pai, mas ninguém tem coragem de denunciar. Pessoas de minha confiança sempre iam fazer uma visita e encontravam ele sozinho, no escuro e até mesmo sem os cuidados de higiene necessários. Eu mesma quando cheguei lá encontrei meu pai com goteiras caindo em cima da cama dele”, ela contou.
Casos como o do pai de Maria Aparecida – e de qualquer pessoa seja velho ou velha ou criança – podem ser denunciados por meio do “Disvque 100" do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH).
O número de denúncias registradas no primeiro semestre de 2024 foi de 12.533, havendo aumento de 48% em comparação ao mesmo período de 2023, que terminou com o registro de 8.455 denúncias do tipo, o que é no mínimo lastimável.
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