
Museu Casa Guignard - créditos: Sistema Estadual de Museus
20-09-2025 às 12h00
Direto da Redação
O Museu Casa Guignard — equipamento do Governo de Minas, localizado em Ouro Preto e gerido pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult-MG) — inaugura, no dia 24 de setembro, uma exposição inédita que resgata, por meio de tecnologias avançadas, duas obras quase invisíveis do mestre Alberto da Veiga Guignard.
Intitulada “Do Invisível ao Visível”, a mostra apresenta os desenhos originais do artista e suas respectivas imagens restauradas com o uso de técnicas pioneiras de fotografia científica — um trabalho inédito no Brasil.
A iniciativa é resultado da pesquisa da conservadora-restauradora Larissa Oliveira, integrante do Núcleo de Gestão de Acervos da Diretoria de Museus (DIMUS/Secult-MG). O estudo foi desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob orientação do professor Alexandre Leão, e recentemente apresentado no evento internacional Archiving 2025 – Cultural Heritage Imaging, Preservation, and Access, em Granada, na Espanha.
Durante seis meses, Larissa aplicou metodologias que utilizam diferentes faixas do espectro eletromagnético — como luz visível, fluorescência ultravioleta, infravermelho e imagem multiespectral — além de técnicas como RTI (Reflectance Transformation Imaging) e luz rasante.
O resultado é surpreendente: desenhos quase apagados pelo tempo tornaram-se novamente visíveis, sem qualquer intervenção física no suporte original, preservando integralmente a obra.
“A pesquisa permitiu visualizar integralmente obras que estavam praticamente invisíveis. Também revelou detalhes antes imperceptíveis. Esse tipo de trabalho é fundamental para que pesquisadores e o público compreendam os processos de degradação ao longo do tempo e reconheçam o valor dos elementos recuperados”, explica Larissa Oliveira.
A coordenadora do Núcleo de Gestão de Acervos Museológicos da DIMUS/Secult-MG, Elvira Nóbrega, destaca que o projeto nasceu do diálogo entre instituições culturais e a universidade.
“A ideia surgiu após uma palestra no Arquivo Público Mineiro, onde a professora Márcia Almada e o professor Alexandre Leão apresentaram a aplicação da imagem multiespectral na recuperação de documentos. Pensamos: por que não aplicar essa tecnologia aos desenhos de Guignard, no contexto do patrimônio artístico?”, relembra.
Elvira também enfatiza a importância da parceria entre a Diretoria de Museus e a Escola de Belas Artes da UFMG para a introdução e aplicação de novas tecnologias na rotina dos museus.
Para o professor Alexandre Leão, coordenador do iLab e do PrismaLab da UFMG, a pesquisa demonstra o poder transformador da integração entre ciência, arte e tecnologia:
“Com as técnicas de imagem científica, conseguimos recuperar visualmente informações apagadas, sem modificar o objeto original. É uma inovação que conecta diferentes áreas do conhecimento. No caso das obras de Guignard, conseguimos revelar traços antes invisíveis — um resultado extraordinário, que reforça a importância de avançarmos nesse campo.”
Programação Especial – Primavera dos Museus
A exposição “Do Invisível ao Visível” integra a 19ª edição da Primavera dos Museus, iniciativa nacional promovida pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que neste ano aborda o tema “Museus e Mudanças Climáticas”.
Além da mostra, o Museu Casa Guignard oferecerá uma programação especial com a mesa-redonda “Práticas de Conservação em Museus: Desafios e Possibilidades”, que contará com a participação de Larissa Oliveira, do professor Régis Martins (IFMG – Ouro Preto) e da conservadora Thaís Oliveira.
O público também poderá participar de oficinas gratuitas, como “Lembrei de Você”, realizada em parceria com o grupo de bordadeiras da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), e “Observação da Paisagem”, aberta a toda a comunidade.