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A capital mineira surgiu sob os auspícios da modernidade e os sinais estão em muitos dos seus imóveis

A capital mineira surgiu sob os auspícios da modernidade e os sinais estão em muitos dos seus imóveis

O modernismo literário irrompeu em Belo Horizonte e Cataguases (MG), “mas nas artes plásticas só após a transferência de Guignard para Belo Horizonte”, em 1944.

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Direto da Redação

18-09-2022

8h:00

Alberto Sena

O livro “Uma Tristeza Mineira Numa Capa de Garoa” escrito pela dupla Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes nos leva a entender a importância da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, em virtude das transformações operadas a partir dela em todos os segmentos das artes e da vida brasileira. Semana essa da qual um poeta montes-clarino – Agenor Barbosa – participou da organização e da programação, sendo o único aplaudido, inclusive ao declamar o próprio poema.

Mais: o livro nos traz, além da descoberta do poeta de Montes Claros, o reconhecimento da vanguarda de personagens mineiros, que em um mundo no qual o “parnasianismo e simbolismo ditavam as normas e estabeleciam um cânone prestes a virar ruína”, como resgata no prefácio, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos.

Outro mais o livro nos ensina: o modernismo literário irrompeu em Belo Horizonte e Cataguases (MG), “mas nas artes plásticas só após a transferência de Guignard para Belo Horizonte”, em 1944.

Em 1920, o poeta Carlos Drummond de Andrade já iniciava a publicação dos seus primeiros poemas e deu início ao chamado “grupo da Rua da Bahia”, formado por ele, Anatole France e o poeta Olavo Bilac.

Mas é preciso dizer que tudo começou a mudar naquele ano de 1922, “com o modernismo em ascensão e a República Velha em derrocada, rumo à revolução de 1930, pela qual os modernistas chegaram ao poder”, lembra Ângelo Oswaldo.

É sempre bom frisar – eu é quem está dizendo – que a tal revolução teve um estopim em Montes Claros, por intermédio de Dona Tiburtina, que todo montes-clarino conhece e sabe do evento envolvendo o vice-presidente da República, Melo Viana, obrigado a fugir da cidade às carreiras e de “carreirinhas”.

Belo Horizonte nasceu dentro desse espírito de modernidade, e é interessante saber o que os dois pesquisadores resgataram: “o procedimento para a construção de Belo Horizonte e a transferência da capital estão intimamente ligados à concepção ideológica, positivista e republicana”.

Olha só como em 1895, Aarão Reis, o engenheiro responsável pelas obras de construção da cidade descreveu a disposição das ruas de Belo Horizonte.

Eu, particularmente, considero isso uma pérola trazida a lume por Ivana e Fabiano.

“Às ruas fiz dar a largura de 20 metros, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o tráfego dos carris e trabalhos da colocação e reparações das canalizações subterrâneas. Às avenidas fixei a largura de 35 metros, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população. Apenas a uma das avenidas – que corta a zona urbana de norte a sul e é destinada à ligação dos bairros opostos – dei a largura de 50 m, para constituí-la em centro da cidade e, assim, forçar a população quanto possível, a ir-se desenvolvendo de dentro para a periferia, como convém à economia municipal, à manutenção da higiene sanitária, e ao prosseguimento regular dos trabalhos técnicos (SILVA, 2006, P.53).

Posso assegurar que o leitor, depois de saber de como a nossa Belo Horizonte foi criada, e saber por meio da pena do Aarão Reis, daqui para frente irá ver o traçado da capital mineira com outros olhos. Os olhos da alma.

 

Imagem da Galeria Livro "Uma Tristeza Mineira Numa Capa de Garoa", de Fabiano Lopes e Ivana Rebello
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