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A balbúrdia dos ambulantes

A balbúrdia dos ambulantes

Ainda ontem, um camarada numa kombi vendendo ovos parou justamente em frente ao nosso prédio, com uma gravação que repetia durante uns 15 minutos

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28-08-2024 às 09h:32

Alberto Sena*

Não faz muito tempo, quando alguém precisava anunciar algo por meio de alto-falante adaptado a algum veículo, era necessário “tirar uma licença”, na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH).

Era a chamada “propaganda volante”.

Afinal, se toda gente que quiser anunciar sua mercadoria sair por aí com um microfone e um alto-falante, dá para imaginar o inferno que seria, se é que lá no inferno é barulhento assim.

Mas, pelo visto e ouvido, essa exigência não está mais em vigor, porque cada dia mais aumenta o número de vendedores ambulantes armados de microfone e alto-falante ou usando gravações que só faltam deixar a gente louco de tanto ouvir a mesma coisa.

Vai daí, alguém que já está acostumado com a barulheira e tem até problemas de audição por isso mesmo, vem e diz:

- Mas eles estão trabalhando.

- Sim, eles estão trabalhando para ganhar o pão de cada dia, mas nem por isso têm o direito de incomodar as pessoas.

Ainda ontem, um camarada numa kombi vendendo ovos parou justamente em frente ao nosso prédio, com uma gravação que repetia durante uns 15 minutos a mesma mensagem, enquanto ele atendia a sua freguesia.

Confesso, quase desci lá para conversar com ele, porque assim não é possível. Mas não desci porque a essa altura do campeonato, a gente vai dando abatimentos, mas não dá para ser feliz desse jeito.

Acho que eles deviam parar num ponto e ligar a gravação e desligar em seguida, por respeito à população que quer preservar o máximo possível de silêncio.

Logo que adentram a região e fazem o primeiro anúncio, todos ouvem. Não há a menor necessidade de ficar repetindo. A repetição só incomoda. Quem quiser comprar já foi direto ao ponto. Não é porque gritam que vou comprar alguma coisa. Pelo contrário.

Sem contar os helicópteros que estão para lá e para cá, nós temos diariamente dois camaradas, cada um no sua kombi para vender legumes e frutas. Um deles passa na região e na nossa rua em um dia e o outro noutro. Parece até combinado.

Temos o carro da pamonha “passando em sua rua”. O sujeito vende também outros derivados do milho, mas repete “pamonha, pamonha, pamonha”.

De repente, mesmo com esse frio dos últimos dias, corremos o risco de ouvir “o carro do   sorvete passando em sua rua”.

Fico gelado só de ouvir e acho uma tremenda falta de respeito além de uma poluição sonora desnecessária.

Depois do carro da pamonha lá vem o do abacaxi “diretamente do Estado do Espírito Santo”. Se fosse diretamente da terceira pessoa da Santíssima Trindade, seria ótimo. Mas...

Olha lá! O homem da vassoura vem. Vem repetindo: “vassoura, vassoura, vassoura...” E eu fico a imaginar, esse cara deve ficar repetindo vassoura até dormindo e isso me faz lembrar o filme “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin.

Ele, Chaplin trabalhava numa fábrica apertando parafusos numa esteira. De tanto apertar parafusos, saía de lá armado de suas ferramentas fazendo o gesto de apertar parafusos. De repente vem uma senhora passando com o vestido cheio de botões grandes, ele parte para ela a fim de dar uns apertos. Nos botões, claro, achando ser parafusos.

Por último – não sei se estou me esquecendo de mais algum – vem a motinha do pão com o seu fon-fon, aquela buzina de borracha avermelhada.

Será que alguém aí, da Câmara Municipal de Belo Horizonte não poderia intervir numa situação desta. Afinal, os vereadores são os nossos representantes e não podem fazer ouvidos moucos. Precisam cobrar da prefeitura uma postura em relação a essa situação. Não é proibir, mas disciplinar. Ora, com efeito.

*Editor Geral do DM

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