06-09-2024 às 09h:30

Bento Batista*

Alguém ainda tem dúvida de que o “modus vivendi” exterior – o que acontece ao redor de nós – seja o reflexo de nós mesmos?

É preciso ter tempo para a gente mesmo, em qualquer circunstância, a fim de refletirmos sobre nós como se estivéssemos diante de um espelho vendo a nossa imagem. Não só a física, mas o reflexo interior de cada um de nós.

O que as pessoas mais fazem é reclamar. Aqui não se inclui a reclamação de direito jurídico.

Quem reclama no dia a dia por coisas insignificantes mal sabe, ao reclamar está chamando para si o contexto da reclamação e sem querer querendo pratica um exercício sado-masoquista.

Claro, as exceções existem em tudo.

Há quem conheça a força e a energia positiva do elogio. E elogia.

Faz o outro crescer.

Outros podem até elogiar, entretanto sempre haverão de colocar “mas” como conjunção ou advérbio.

Muitas das vezes, o que nos incomoda no outro é justamente o que temos de corrigir em nós mesmos.

Na realidade, se vivemos bem ou mal, o problema é nosso, porque não estamos nos cuidando por dentro como deveríamos.

Essa incursão ao interior de nós mesmos deve ser feita individualmente.

E conscientemente.

Ninguém tem procuração para melhorar o outro. É preciso querer e saber.

Basicamente, requer muita reflexão, o que, acredito, as pessoas não vinham tendo tempo para isso, até vir a pandemia e a Terra parou.

Se antes muita gente vivia inconscientemente, incapaz de descobrir o tesouro existente dentro de si, é de se esperar que algo de bom se evidencie.

Senão a vida voltará a ser uma quimera.

Na mitologia grega, a quimera era um monstro fantástico. Tinha cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão.

Mas quimera é também “produto da imaginação, mas impossível de se realizar; fantasia; absurdo; utopia”.

Etimologicamente quimera vem do Latim, “chimaira”.

Acredito, porque tenho esperança e sei, ela é a mãe da fé, acho que muitos de nós sairemos melhores dessa pandemia, porque pudemos refletir o bastante sobre nós mesmos, a fim de transmudar se a quimera com cabeça de leão, corpo de cabra e causa de dragão em energia factível do bem comum.

Na minha ignorância, penso que se assim não for, daqui para a frente correremos o risco de enfrentarmos juntos aos nossos filhos, netos e bisnetos, quimeras outras vorazes. E elas irão nos consumir.