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“Tô pescando ziriguidum”

- Vou ficar “futucando” o rio porque vem aí uma turma e alguém vai me perguntar o que eu estou fazendo e vou dizer que estou “pegando ziriguidum”.

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24-02-2024 às 08h:08

Anes Otrebla*

Uma das coisas mais engraçadas já ocorridas conosco se deu na Serra do Cipó, a 100 km de Belo Horizonte, Lá na “Cachoeira Grande”.

Estávamos hospedados no Hotel Veraneio e nos levantamos cedinho para aproveitar mais o tempo. Costumamos dizer que as manhãs são mágicas. Ainda mais quando se está desfrutando da energia de um lugar como a “Cachoeira Grande”.

Fomos os primeiros a chegar às imediações da cachoeira. Achei uma vara de bambu no chão e comecei a “futucar” o fundo d’água. Em seguida me virei para Sílvia e disse:

- Vou ficar “futucando” o rio porque vem aí uma turma e alguém vai me perguntar o que eu estou fazendo e vou dizer que estou “pegando ziriguidum”.

Ela achou engraçado, não vinha ninguém ao redor, numa visão de 360 graus. Minutos depois, avistamos lá no alto uma porção de gente. Era uma turma heterogênea. Tinha desde homens e mulheres de mais idade até adolescentes.

Devia ter pelo menos vinte pessoas. Todos se juntaram a certa distância de nós e eu continuei “futucando” o fundo do rio, sem ao menos olhar para eles. Sílvia mantinha a mesma postura. Dum momento para o outro, um deles se desgarrou do grupo. Era um senhor de meia idade. Vi de soslaio.

Ele veio caminhando na nossa direção. Chegou e depois de desejar “bom dia”, perguntou:

- Você está pegando o quê?

Eu disse:

- “Ziriguidum”.

Ele perguntou:

- E o que é ‘Ziriguidum?’

Eu disse:

- Não sei, nunca peguei nenhum.

Nós três ao mesmo tempo desatamos a rir e ríamos tanto, mas tanto, que o restante da turma ficou de longe intrigado. Na cabeça de cada um passava: “Mal ele chegou, nem conhece as pessoas e está rindo daquele jeito, do que tão engraçado eles riem?’

Nisso, outro da turma se desgarrou e veio saber o que havia de tão engraçado.

- Uai, de que vocês tanto riem?

Eu falei:

- É porque estou aqui pescando com essa vara.

Ele perguntou:

- Pescando o quê?

Respondi:

- “Ziriguidum”.

E ele:

- Que bicho é esse?

Eu disse:

- Não sei, nunca peguei nenhum.

Nós quatro caímos na gargalhada. Ríamos, e ríamos tanto que outro homem da turma se desgarrou e veio do mesmo jeitinho dos dois primeiros. A conversa foi a mesma e o resultado idêntico. Rimos todos juntos e foi então que o que sobrou de gente do outro lado veio saber o que “diacho” estava acontecendo para essa risada toda.

Contamos tudo do mesmo jeito e dessa vez rimos em uníssono, nós e toda a turma numa explosão de alegria incrível, capaz de contagiar a quem por ali chegasse.

Para encurtar a história, a turma era de um curso de yôga que estava passando o fim de semana num sítio, na Serra do Cipó, e faria uma celebração logo mais à noite. Convidaram-nos, insistiram conosco, até, para que participássemos da celebração, mas os nossos planos eram outros.

Despedimo-nos com os músculos do abdômen doloridos de tanto que rimos.

Rir é o melhor preventivo à saúde, segundo me disse o humorista Carlos Nunes, “quem ri não precisa nem de remédio”.

Vamos então pescar “ziriguidum”?

*Jornalista e escritor

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