
Convenção do PSB de Minas Gerais - créditos: PSB
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10-05-2025 às 08h48
Jerônimo Colaço de Magalhães Filho (*)
Em Minas Gerais de fato nem tudo que parece é; atrás de morro sempre terá montanha. O mineiro trabalha em silêncio só em Minas Gerais. Fora de Minas, os outros fazem o barulho por ele e para ele. Hoje, todavia, já nem tanto senão, quando se tornar o pitoresco, o folclórico projetando uma imagem estereotipada de Minas Gerais e dos mineiros, agravada com o visível e melancólico esvaziamento político do Estado no cenário nacional.
Tancredo Neves dizia que fazer política com os gaúchos era como ir à festa de aniversário com os filhos do professor Mendes Pimentel. Em uma irônica referência aos filhos do velho professor, tidos e havidos por arruaceiros nas festas da então pacata Belo Horizonte.
A menção ao estilo desabrido dos políticos gaúchos de fazer política, contrastando com o predomínio da estética do ridículo imperante no estilo mineiro de fazer política contemporânea.
Sábio e sagaz politicamente, como o Florentinho, cuidou de avisar a todos no momento delicado da transição democrática, que o faria presidente eleito e morto que o seu PMDB não era o mesmo PMDB de Miguel Arraes, então governador de Pernambuco.
Talvez, relembrando a década de 1960 em que perdera para Magalhães Pinto o Palácio da Liberdade com as surpreendentes e inesperadas mudanças que o fariam na sequência Primeiro Ministro em um parlamentarismo de proveta. Astúcias da razão.
Lá naqueles anos, o socialismo de Arraes e o udenismo de Magalhães Pinto até tinham tentado se compor visando a conquista da Presidência da República. O resultado não foi promissor e a tentativa ficou como registro histórico.
Arraes terminou preso na paradisíaca Ilha de Fernando de Noronha, no distante oceano Atlântico. Bem isolado do seu Pernambuco, rifado pelos militares que tomaram o poder.
Magalhães Pinto terminou preso na gaiola de ouro ou das loucas, como queiram, primeiro como chanceler no Itamarati, depois na presidência do Senado, até tornar-se no PP (Partido Popular), um vencido e macambúzio eleitor de seu adversário Tancredo Neves no Colégio Eleitoral devidamente monetizado.
Em todo esse cenário político, sempre transitando com o veludo na sola dos calçados, o celebre jornalista, deputado, ministro e governador, José Aparecido de Oliveira que seria o elo permanente de Minas com Pernambuco e o seu socialismo oligárquico.
Entretanto, parece que Minas Gerais é refratária às experiências socialistas, sejam elas reais, democráticas, morenas, coloridas ou criativas. Ao menos é o que se pode auferir das tentativas de Miguel Arraes na década de 1960 do século 20 com o então governador de Minas Gerais, o banqueiro Magalhães Pinto.
Eduardo Campos, governador de Pernambuco, como foi o avô, candidato à Presidência da República, já no Século 21, inovando ao dividir o palanque de Minas Gerais com o também presidenciável Aécio Neves, então governador de Minas Gerais. Ambos da mesma geração, portanto, desafiando criativamente a lei da gravidade, visto a impossibilidade de dois corpos ocuparem simultaneamente o mesmo espaço. Haja criatividade!
Terminou em agosto de 2014, sem palanque em Minas Gerais, quando teve o avião em que estava explodido, sem que se saiba, ainda hoje, a verdadeira história até mesmo da propriedade do indigitado avião. Afinal, acidentes aéreos e política, na história do Brasil, são uma curiosa constante.
De duas uma, ou os pernambucanos com aspirações presidenciais não conseguem enxergar as montanhas, atrás dos morros mineiros, ou compraram a máxima de que, em Minas a versão vale mais do que os fatos. Ou mais uma vez estão deixando claro que para eles vale mais o conceito chapliniano de que a vida é um assunto estritamente local, no caso a vida ar ou no máximo estendendo a vida local até Salgueiro e Araripina no Sertão. E viva a nova Roma, pois Paris bem vale uma missa.
Pois não é que, agora, o jovem novo e promissor prefeito de Recife, João Campos, neto de Arraes, filho de Eduardo Campos veio a Minas Gerais para entronizar na chefia do socialismo criativo mineiro seu amigo de infância e filho de um empresário com sólidos interesses em Pernambuco, não por coincidência um dos seus apoiadores em Recife.
O novo chefe do socialismo mineiro criativo é o jovem mineiro de Conceição do Mato Dentro, Otacílio Neto Costa Matos, que vem pontificando como promessa sempre como os de sua geração nas redes sociais.
Lembre-se em Minas, a versão sempre vale mais do que os fatos. O prefeito é adversário do ex prefeito José Fernando, filho do outro Zé, aquele dos anos 1960 do século 20, amigo de Arraes e de Magalhães Pinto, hoje filiado à Rede com a ministra Marina Verde em trânsito para o PSB, a convite da direção nacional, um bom enigma político mineiro a ser observado.
Portanto, não haverá surpresa para ninguém, a não ser óbvio em Minas, se a ministra se fizer acompanhar rumo ao PSB do ex prefeito José Fernando. Claro, um feliz encontro para Conceição do Mato Dentro todos à sombra benfazeja da mineradora Anglo América, sujeito não tão oculto em seus interesses enraizados em Minas Gerais ao menos desde o Brasil colônia.
Não terá sido mera coincidência a realização em Belo Horizonte do congresso do PSB criativo mineiro às vésperas de longo e generoso feriado com Lady Gaga e muito clister explodindo o Rio de Janeiro com purpurinas multicoloridas. O que certamente deve ter sido portentoso anúncio em Belo Horizonte de que, após o sisudo, cinzento e fracassado socialismo real, após o vexame do socialismo moreno com o golpe nos velhinhos aposentados do INSS, Minas Gerais pode estar inovando para além do socialismo criativo com o socialismo colorido consagrando em definitivo a estética como valor absoluto da política.
Em tempo chega a notícia de que Albertinho, jovem deputado estadual, filho do saudoso deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, este, cria de Genesco e de José Aparecido de Oliveira, estaria se filiando ao PSB criativo mineiro pelas mãos do novo chefe do PSB, o prefeito de Mato Dentro Otacílio Neto.
Enfim, em Minas, nem tudo que parece é, ao menos quando já se trata do historicamente marcado e adiado encontro do socialismo mineiro com sua matriz pernambucana (não confundir com o matriarcado socialista pernambucano).
Enfim, enquanto Pernambuco não tem montanha, Minas Gerais se delicia na praia de Copacabana sem prestar a devida atenção à praia de Boa Viagem. Em conclusão, a hipermnesia sempre será o melhor antídoto contra a deliberada amnésia política.
(*) Jerônimo Colaço de Magalhães Filho é político e administrador de Pousada em Monte Verde de Minas
“A opinião de nossos colunistas, cronistas e comentaristas não reflete, necessariamente, a opinião do jornal Diário de Minas”