
Mulher, mãe, esposa e executiva nos tempos modernos - créditos: divulgação
08-03-2025 às 16h46
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Ser mulher é desafiador atualmente e sempre o fora. Rotula-se que são o sexo frágil, inclusive, pela delicadeza dos traços. As exigências da vida humana pressupõem muitas facetas, tais como: equilibrar vida pessoal e profissional, envelhecer e cuidar da saúde, além de se exigir o cumprimento de diversas tarefas. Porém, das mulheres espera-se mais, que estejam sempre bonitas e arrumadas, bem-vestidas, que tenham juventude eterna. Ou seja, sobre estas recai com mais intensidade o etarismo, preconceitos e exigências inúmeras. A jovialidade é apresentada como valor. Há pressões por padrões absurdos estéticos e de preenchimento de métricas.
A mídia vende como indispensável, o culto ao corpo, a beleza como obrigação, o padrão escultural, ou seja, a necessidade de esculpir um físico idealizado por padrões de perfeição, o uso obrigatório de cosméticos diversos e o desejo estético preestabelecido de um corpo esbelto, atlético e perfeito. A mulher é refém dos padrões de simetria e beleza de modo desarrozoado.
O propósito de preencher métricas alheias é sempre um risco, encerra a ânsia de aprisionar a mulher em um objeto idealizado de desejos, despossuindo-a de sua potencialidade de tornar-se um ser de vontades, pensante, crítico e livre.
Inviabiliza-se a mulher enquanto sujeito de direitos e desejos. O culto ao corpo, a beleza escultural e a ditadura de padrões midiáticos, angustiam. São exigidos o preenchimento de papéis e há expectativas de forma exaustiva, desta feita, concretizam-se sofrimentos psíquicos e físicos, ou seja, enfermidades das mais diversas.
Causa espanto que ainda haja a necessidade de um dia dedicado às mulheres para que se possibilite a discussão sobre uma efetiva igualdade de direitos entre os sexos. A igualdade substancial entre homens e mulheres é um desafio. Todo ser é irrepetível e único, nisto reside a riqueza do humano. Portanto, é impossível uma igualdade absoluta, porém uma escala de direitos iguais é indispensável. Desigualdades e desumanidades reverberam em injustiças. Pretender uma igualdade possível e o respeito ao sexo feminino é “conditio sine qua non”.
Ao Direito cabe reduzir as desigualdades e propiciar a redução progressiva das discriminações, como as por motivo de sexo, que são absurdas e não devem ser toleradas, porém há sempre véus que as mascaram. Normalmente não se discrimina de modo clarividente, apresentam-se diferenças de tratamento de modo sutil.
A discriminação por sexo é vedada no ordenamento jurídico brasileiro, mas se revela por comentários, piadas e supostas brincadeiras, o que não impede que aconteça, isto porque, o mundo dos fatos é distante do idealizado.
As situações desfavoráveis ao gênero feminino acontecem com frequência, por exemplo, quando pretendem alcançar cargos de liderança, chefia, ou mesmo quando ambicionam os mesmos patamares remuneratórios que os homens. As diferenciações discriminatórias decorrem de razões históricas e de práticas corriqueiras, nem sempre facilmente perceptíveis. Logo, muitas vezes, é um desafio atacar este cenário de injustiças e preconceitos.
A realidade é que a eliminação destas práticas é um expediente legítimo, necessário e humanizador, mas é um enorme desafio, pois a efetivação da igualdade substancial passa por vertentes de concretização de uma ordem jurídica realmente justa e humana.
Mulheres, infelizmente, são comumente assediadas. Trata-se de prática constrangedora e corriqueira, mas os assédios se configuram como efetiva doença social, como se a mulher não tivesse livre disposição sobre o próprio corpo, direito a sua integridade emocional, física e psíquica.
A proteção concedida às mulheres para concretização de direitos, não pode ser retórica, deve ser substancial. Necessita-se de mais ações que palavras, pois a luta continua. Emergem discussões, afinal o horizonte ainda é de discriminações, porém os véus se sofisticaram e a dimensão de possibilidade de subjugações permanece incrustada na sociedade e nas relações sociais.
Mulher é sinônimo de bravura, coragem e realização. Idealizações e estereótipos devem ser abandonados, afinal, ninguém deve viver para preencher lacunas ou expectativas alheias.
A condição feminina deve permitir um constante alçar voos. Que as mulheres conciliem vida profissional e pessoal, afetividade e feminilidade. Ideais não são bem-vindos, ao contrário, naturalidade, espontaneidade e liberdade, sim. Que sejam senhoras de seu tempo, mais que esposas ou mães, que possam ser o que bem entender.
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Pesquisadora com ênfase em Filosofia, Trabalho e Linguagem. Diletante na arte da pintura.