Isso se deu há mais de 40 anos, quando os brasileiros, em uníssono, exigiram a volta da democracia sem disparar sequer um tiro nem explodir bomba alguma.
20-01-2025 às 07h50
Alberto Sena*
Quarenta anos atrás, o Brasil extirpava a ditadura com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Ele enterrou de fato o regime militar, que se iniciou em 1964, com o golpe de Estado, à semelhante do que Bolsonaro e a sua turma dele estavam querendo trazer de volta com os eventos de 8 janeiro de 2022, como o Supremo Tribunal Federal investiga.
Quem tem boa memória vai se recordar do patriotismo dos brasileiros de então, que, sem disparar sequer um tiro ou explodir uma bomba fizeram a campanhas das Diretas Já, estimulada por Ulisses Guimarães, à época presidente nacional do PMDB.
Este foi um período dos mais brilhantes da história deste País. O regime militar agonizante, articulou para impedir a aprovação da emenda Dante de Oliveira, que restituía o voto direto para presidente da República.
Após a derrota da Emenda das Diretas, as ruas do Brasil se encheram da insatisfação popular que catapultou a conquista de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. No seu discurso, ele resgatou o exemplo da luta dos brasileiros pelo Estado de Direito, a democracia, o que repercutiu no mundo inteiro
“A história da Pátria, que se iluminou através dos séculos com o martírio da Inconfidência Mineira; que registra, com orgulho, a força do sentimento de unidade nacional sobre as insurreições libertárias durante o Império; que fixou, para admiração dos pósteros, a bravura de brasileiros que pegaram em armas na defesa de postulados cívicos contra os vícios da Primeira República, a História situará na eternidade o espetáculo inesquecível das grandes multidões que, em atos pacíficos de participação e de esperança, vieram para as ruas reivindicar a devolução do voto popular na escolha direta para a Presidência da República”, discursou Tancredo.
Os brasileiros que participaram dessa pressão maciça para resgatar a democracia são os mesmos que deploraram o horror registrado em Brasília, patrocinado pelos mesmos militares que tiveram participação no golpe de 1964, alguns deles presos e respondendo processos no STF.
“Não vamos nos dispersar” – dizia Tancredo em seu discurso. E é como se estivesse a ouvi-lo repetir: “Continuemos reunidos, como nas praças públicas, com a mesma emoção, a mesma dignidade e a mesma decisão. Se todos quisermos, dizia-nos, há quase duzentos anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, poderemos fazer deste País uma grande Nação. E vamos fazê-la”, concluiu Tancredo.
Em memória de Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, os brasileiros de boa vontade repudiam os atos e as notícias falsas que certos políticos e gente mal intencionada querem emplacar no Brasil de hoje e não irão conseguir porque o espírito democrático é mais forte do que esses cidadãos que buscam o caos de outrora, e merecem o repúdio de quem possui senso político.
Alberto Sena é jornalista e escritor