21-12-2024 às 08h08
Por Dr. Handel Cecílio
A verdadeira origem da data do Natal é complexa, com fatores teológicos, culturais e históricos. Os primeiros cristãos não celebravam inicialmente o nascimento de Jesus. Em vez disso, a Páscoa era considerada a principal celebração cristã, centrada na morte e ressurreição de Cristo. Embora o dia 25 de dezembro seja amplamente celebrado como o nascimento de Jesus por cristãos em todo o mundo, a verdade é que ninguém sabe exatamente quando Ele nasceu. A data foi fixada apenas no final do século IV, quase 400 anos após a crucificação e a ressurreição. Curiosamente, essa data ainda é rejeitada por uma parcela significativa de cristãos ortodoxos orientais, que celebram o nascimento de Cristo no dia 6 de janeiro. Inicialmente, o nascimento de Jesus não era um evento significativo no calendário litúrgico cristão, até por não haver uma referência bíblica para a data precisa. A única citação encontra-se no Evangelho de Lucas que narra: “havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho”. Muito provavelmente, isso não ocorreu durante o inverno, pois em Israel, essa estação é marcada por chuvas frequentes, o que faz a temperatura cair, chegando até a nevar em algumas regiões. Então, os pastores transferem seus rebanhos de ovelhas ao redil, pouco antes de outubro, para passarem o inverno recolhidas. Outra indicação para essa colocação é que os censos realizados pelo Império Romano em Israel, mencionados no Evangelho de Lucas (2:1-5), geralmente aconteciam em períodos específicos do ano, como no outono ou no início do inverno, pois envolviam um grande deslocamento de pessoas, sendo essa época mais favorável para facilitar o transporte. Não há registros de tal comemoração nos escritos dos primeiros teólogos cristãos, como Irineu (c. 130-200) ou Tertuliano (c. 160-225). No final do segundo século, Clemente de Alexandria (150-215), um dos primeiros teólogos cristãos, chegou a ridicularizar aqueles que tentavam determinar uma data específica para o nascimento de Cristo por não haver evidências bíblicas ou históricas claras sobre a data. Em sua obra “Stromata” (I, 21, 145.5), onde ele reflete sobre a importância da razão, da sabedoria divina e das práticas cristãs, Clemente enfatiza que o nascimento de Jesus não deveria ser celebrado de maneira específica ou em uma data fixa, sugerindo que tais práticas eram inapropriadas. Em sua visão, a adoração e a celebração de Cristo deveriam ser focadas no aspecto espiritual e no entendimento da doutrina cristã, não em rituais externos ou datas.
A origem da celebração do Natal é frequentemente associada à “conversão” de Constantino ao cristianismo, com muitos estudiosos destacando seu papel na oficialização da fé cristã. Antes de sua “conversão”, o imperador romano Constantino (272 d.C. – 337 d.C.), o Grande, manteve uma relação próxima com o culto ao Sol Invicto, uma divindade solar que se tornou oficial no Império Romano sob o imperador Aureliano em 274 d.C. O culto ao Sol Invicto estava associado à adoração do Sol como uma divindade suprema, refletindo a importância do Sol na cultura romana. O Decreto promulgado em 7 de março 321 d.C., emitido por Constantino, foi um marco significativo na história do cristianismo e na transformação da sociedade romana. Neste decreto, ele estabeleceu o “dies Solis” (Dia do Sol) como um dia de descanso para a população, determinando que o trabalho fosse suspenso aos domingos, em honra ao “Sol Invicto”. Esse Edito do imperador Constantino representou um passo importante para a integração do cristianismo na estrutura do Império Romano, pois o domingo passou a ser associado não apenas ao culto solar, mas também à “ressurreição de Jesus Cristo”. Apesar do empenho de Constantino em transformar Constantinopla na nova Roma, existem evidências que contradizem a ideia de que ele tenha instituído o dia 25 de dezembro como o dia oficial para o nascimento de Jesus. Por exemplo, não houve reconhecimento oficial da natividade de Jesus em Constantinopla durante a vida de Constantino. Na verdade, embora tenha vivido na cidade de 324 até sua morte em 337, a celebração do Natal só começou a ser adotada em Constantinopla quase 50 anos depois, por volta de 380, conforme registrado nos sermões de João Crisóstomo e Gregório Nazianzeno. Sob qualquer aspecto, de acordo com o Calendário Filocaliano de 354 d.C., o dia 25 de dezembro celebrava o nascimento da divindade Sol Invictus, o “Sol Inconquistável”. Isso coincidia apropriadamente com a celebração romana do solstício de inverno, o dia em que o ápice do sol está mais próximo do horizonte.
Os primeiros registros históricos e a instituição oficial da data de 25 de dezembro como o nascimento de Jesus de fato surgem no século IV. Antes disso, teólogos como Irineu (130-202) associaram a concepção de Jesus à Semana da Paixão, especificamente ao dia 25 de março. A ideia de que o nascimento de Jesus ocorreria no dia 25 de dezembro surgiu a partir de cálculos teológicos feitos no século III, mas não foi uma afirmação direta de Irineu. Esse raciocínio foi seguido por Hipólito de Roma (170-236 d.C.), que mencionou o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de Cristo em seu comentário ao Livro de Daniel, escrito por volta de 204 d.C. Outro importante historiador cristão, Sextus Julius Africanus (160-240 d.C.), registrou de forma mais explícita o dia 25 de dezembro como o nascimento de Jesus, no ano de 221 d.C., ajudando a solidificar essa data em registros históricos cristãos. Esse alinhamento entre os primeiros cristãos contribuiu para o estabelecimento do 25 de dezembro como a data amplamente reconhecida para a celebração do Natal. Embora não haja uma base bíblica direta, essa data passou a ser universalmente aceita pela Igreja Cristã.
Por volta do final do século IV, a Igreja Cristã começou a adotar oficialmente o 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus. Embora a data já fosse celebrada em Roma e outras regiões do Império, a popularização da celebração em Constantinopla pode ser atribuída ao sermão de Gregório Nazianzeno (329 – 389 d.C.) em 381 d.C., pregado durante a Festa das Luzes (6 de janeiro), no qual ele se referiu à celebração do 25 de dezembro anterior, assumindo o papel de “exarchos da festa”, o que é interpretado como “instituidor” da celebração em sua cidade. Além disso, João Crisóstomo, em um sermão de Natal pregado em Antióquia em 386, mencionou que a data da Natividade de Jesus era conhecida na região há menos de dez anos (ABRUZZI, 2018).
Os primeiros escritores cristãos, como João Crisóstomo, apoiaram a celebração do nascimento de Cristo em 25 de dezembro. Crisóstomo, um influente pregador e bispo cristão, fez uma homilia significativa em Antióquia, em 25 de dezembro de 386 d.C., defendendo a data do 25 de dezembro como o nascimento de Jesus. Em seu sermão, Crisóstomo mencionou o censo romano e sugeriu que o nascimento de Jesus era parte de um plano divino, orquestrado com precisão histórica. Ele também fez uma conexão entre o nascimento de Jesus e o relato de Lucas (1:8-13), no qual Zacarias, pai de João Batista, recebe a visita do anjo Gabriel enquanto realiza rituais sacerdotais no templo. Crisóstomo sugeriu que, como esse evento ocorreu seis meses antes da anunciação a Maria, isso indicaria que o nascimento de Jesus seria calculado a partir dessa linha temporal. No entanto, essa conexão cronológica, embora teológica, não é baseada em dados históricos comprovados. O relato de Lucas não confirma que Zacarias fosse o sumo sacerdote, e o altar de incenso não estava localizado no Santo dos Santos, mas no Santo Lugar. Embora a argumentação de Crisóstomo tenha sido importante para a reflexão teológica sobre o Natal, não há evidências históricas suficientes para confirmar essa linha temporal com precisão. A escolha do 25 de dezembro como data do nascimento de Jesus foi um desenvolvimento gradual, consolidado pela Igreja Cristã ao longo do século IV, com o apoio de teólogos como Sextus Julius Africanus e Gregório Nazianzeno, e não está diretamente vinculada aos detalhes históricos do sacerdócio de Zacarias ou à sequência de eventos descrita no Evangelho de Lucas.
O Calendário Litúrgico e o Tempo do Natal – Embora não tenha sido uma bula papal específica que estabeleceu o 25 de dezembro como a data oficial do Natal, a prática de celebrar o nascimento de Jesus nessa data se consolidou ao longo do tempo, especialmente após o século IV, quando a Igreja buscou uniformizar as práticas litúrgicas, particularmente após o Concílio de Nicéia em 325 d.C., que, embora tenha se concentrado em questões doutrinárias, como a natureza de Cristo e a formulação do Credo Niceno, e não fixou a data do nascimento de Jesus, mas ajudou a estabelecer um modelo para a uniformização das datas litúrgicas, o que, a longo prazo, contribuiu para a definição de datas litúrgicas, como a Páscoa. A celebração do Natal foi oficialmente consolidada pela Igreja durante o papado de Papa Júlio I, por volta de 350 d.C., quando a data de 25 de dezembro foi formalmente adotada. Essa data foi escolhida, em parte, para coincidir com festividades pagãs, como o Sol Invictus, que celebrava o solstício de inverno. A Igreja pode ter buscado substituir uma festividade pagã popular por uma cristã. O início do Calendário Litúrgico passou a ser marcado por essa data, iniciando o Tempo de Natal, que culmina com a Festa da Epifania, em 6 de janeiro. Inicialmente, as celebrações variavam entre as diferentes regiões, mas a prática se consolidou com o tempo, incluindo a Missa do Galo, celebrada à meia-noite, simbolizando o nascimento de Cristo. As cores litúrgicas durante o Tempo de Natal incluem o branco, que representa a pureza, santidade e luz de Cristo; o dourado, que simboliza a glória divina e a majestade; e o vermelho, usado ocasionalmente em festas específicas dentro da temporada natalina, como aquelas dedicadas a mártires e santos.
O Tempo do Advento foi introduzido no Calendário Litúrgico como os domingos que antecedem o Natal, marcando o início do Ano Litúrgico Cristão. Trata-se de um período de preparação para a celebração do Natal, começando quatro semanas antes de 25 de dezembro, no primeiro domingo mais próximo de 30 de novembro. O Advento prepara os cristãos para a chegada do Messias, tanto em sua primeira vinda (o Natal), quanto em sua prometida vinda futura. A palavra “Advento” vem do latim “adventus”, que significa “chegada” ou “vinda”. Na simbologia das cores litúrgicas, o roxo é tradicionalmente associado ao Advento, simbolizando preparação, penitência e expectativa. Em algumas tradições, como nas igrejas católicas pós-Concílio Vaticano II, utiliza-se o azul como uma cor alternativa, refletindo esperança e paz. Na terceira semana, chamada de Gaudete (a semana da alegria), usa-se a cor rosa, para refletir a alegria no meio da expectativa e a proximidade do Natal.
Liturgicamente, há um repertório específico para cada Tempo do Calendário Litúrgico. A música litúrgica é cuidadosamente selecionada para refletir adequadamente o tema e o caráter de cada período, como o Advento, o Natal, a Quaresma e a Páscoa. Durante o Advento e o Natal, a música desempenha um papel essencial tanto na preparação espiritual quanto no sentido teleológico de cada momento. No Advento, os hinos enfatizam a expectativa e o anseio pela chegada do Messias, refletindo sobre o próximo Tempo Litúrgico, o nascimento de Cristo no Natal. Hinos tradicionais como “Veni, Veni Emmanuel” (Oh! Vem, Oh! Vem Emanuel) e “Come, Thou Long-Expected Jesus” (Vem, Jesus há muito esperado) são cantados com o intuito de reforçar essa preparação para o grande evento do Natal. No Tempo do Natal, as músicas mudam de tom, refletindo o júbilo e a celebração do nascimento de Jesus, como exemplificado em canções como “Gloria in Excelsis Deo” (Glória a Deus nas Alturas) e “Adeste Fideles” (Vinde Fiéis). Assim, a relação entre o Advento e o Natal é marcada por uma transição de expectativa para alegria, e a música se torna uma poderosa forma de expressar essa jornada litúrgica.
O repertório litúrgico próprio do Tempo do Advento é composto por uma série de músicas, hinos e cantos que expressam o espírito de preparação e expectativa para o Natal, com ênfase na vinda do Messias, como exemplificado no hino “Oh! Vem Emanuel”. As celebrações do Advento incluem músicas tradicionais, como:
- “Veni, Veni Emmanuel” (século IX), baseado nas chamadas “O Antífonas”, que são orações que invocam o Messias.
- “O Come, O Come, Emmanuel”, uma melodia gregoriana do século XV, adaptada em 1851 para o inglês, sendo especialmente cantada nas igrejas protestantes como versão de “Veni, Veni Emmanuel”.
- “The Advent of Our King”, de Charles Coffin (1686–1749), um hino francês com uma melodia envolvente que destaca a chegada do rei celestial.
- “Lo, How a Rose E’er Blooming” (Eis que Uma Flor Cresceu), tradicional, baseado em um antigo hino alemão do século XV. Este hino celebra a profecia de Isaías sobre a vinda de Cristo como uma flor que brota da raiz de Jessé.
- “Come, Thou Long-Expected Jesus”, (Vem Jesus Tão Desejado) de Charles Wesley, um dos fundadores do movimento metodista, tradicionalmente cantado nas celebrações do Advento nas igrejas protestantes.
- “Hark! A Thrilling Voice Is Sounding”, texto latino do século XIII que faz referência à preparação para a chegada do Salvador, sendo geralmente cantado nas igrejas católicas e anglicanas.
- “Em Silêncio Toda a Carne”, melodia francesa do século XVII, que enfatiza a ideia de silêncio e espera. Esses dois conceitos são fundamentais durante o Advento, um tempo de introspecção, oração e reflexão, no qual os cristãos aguardam com esperança a chegada do Messias.
As músicas próprias do Tempo do Natal, também conhecidas como “carols”, têm uma longa história que remonta aos primeiros séculos do cristianismo, embora o termo “carol” tenha originalmente se referido a canções festivas e alegres, não necessariamente religiosas. Inicialmente, os “carols” eram canções seculares cantadas em celebrações populares, frequentemente acompanhadas de dança, especialmente em festas de inverno. Apenas a partir do século XIV, especialmente na Inglaterra, os carols passaram a ser associados às festividades de Natal, adquirindo um caráter litúrgico e devocional, com letras que celebravam o nascimento de Cristo. Durante o século XIX, especialmente na Inglaterra vitoriana, os “carols” se tornaram uma parte central das celebrações de Natal. O termo “Christmas Carol” se popularizou para descrever as canções que celebram o Natal, com uma ênfase especial nas canções de rua, onde grupos de pessoas, conhecidos como “carolers”, iam de casa em casa cantando para divulgar a mensagem natalina e arrecadar presentes ou esmolas. No Brasil, essa tradição se limitou mais à prática de cantar músicas de Natal nas portas ou janelas das casas dos membros das igrejas. As canções natalinas desempenham um papel central nas celebrações, refletindo sobre o nascimento do Messias, como em canções como “Nasce Jesus”, e continuam a ser uma expressão importante das tradições e crenças cristãs. A seguir, algumas obras compostas para serem cantadas no Tempo do Natal:
- Os primeiros hinos de Natal conhecidos tem suas origens na Roma do Século IV:. Hinos em latim, como “Veni redemptor gentium”, escritos por Ambrósio, arcebispo de Milão, foram compostos para afirmar a doutrina da Encarnação em oposição ao arianismo. Outro exemplo é “Corde natus ex Parentis” (“Do amor do Pai gerado”), do poeta espanhol Prudentius, composto por volta de 413. Este hino permanece em alguns repertórios da Igreja até hoje. A seguir, citam-se algumas músicas do repertório próprio do Tempo Litúrgico do Natal.
- Período Medieval: Nos séculos IX e X, a sequência ou prosa foi introduzida nos mosteiros do norte da Europa, evoluindo para estrofes rimadas, com algumas influências de figuras como Bernardo de Clairvaux. Por volta do século XII, o monge parisiense Adam de Saint Victor começou a adaptar canções populares para a liturgia, aproximando-as da forma tradicional das canções de Natal. Durante a Idade Média, surgiram os “carols” na Inglaterra e os “villancicos”na Espanha. Inicialmente, essas canções não tinham conotação religiosa, mas, com o tempo, passaram a ser associadas às celebrações natalinas.
- Renascimento e Início do Período Moderno: No século XIII, influenciado por figuras como São Francisco de Assis, uma forte tradição de canções populares de Natal em idiomas nativos começou a se desenvolver em regiões como França, Alemanha e Itália.
- Na Inglaterra, o termo “carol” apareceu pela primeira vez em uma obra de 1426 de John Awdlay, que listava vinte e cinco “Caroles of Cristemas”, provavelmente cantadas por grupos de “wassailers”, que iam de casa em casa. “Hark! The Herald Angels Sing”, originalmente intitulada “Hark! How All the Welkin Rings”, foi escrita por Charles Wesley em 1739 e posteriormente adaptada à sua forma atual, com uma melodia composta por Felix Mendelssohn no século XIX.
Exemplos de composições natalinas dos séculos XIX e XX:
- Renascimento Vitoriano: No século XIX, houve um ressurgimento do interesse pelas canções de Natal, e muitas das canções que conhecemos hoje foram compostas ou popularizadas nessa época. Este período foi fundamental para revitalizar muitas das canções natalinas que conhecemos hoje, em grande parte devido à influência dos romances e contos do escritor britânico Charles Dickens (1812-1870), que ajudaram a restabelecer o Natal como uma grande celebração pública e familiar. Destacamos de sua obra o conto “A Christmas Carol”, publicado em 1843.
- “Ó Noite Santa” (“Cantique de Noël” ou “O Holy Night”): Composta em 1843 por Placide Cappeau e musicada por Adolphe Adam, essa canção é conhecida por sua melodia grandiosa e sua letra profunda, que celebra o nascimento de Jesus Cristo.
- “Noite Feliz” (“Stille Nacht”): Composta em 1818 por Joseph Mohr e Franz Xaver Gruber, essa canção austríaca se tornou uma das mais amadas no mundo.
- “Jingle Bells”: Originalmente intitulada “One Horse Open Sleigh”, essa música americana foi composta em 1857por James Lord Pierpont. Embora não tenha sido escrita especificamente para o Natal, ela se tornou um clássico das festas natalinas.
- “Hark! The Herald Angels Sing”: Composta por Charles Wesley em 1739, esta canção foi adaptada em sua versão moderna no século XIX, com modificações feitas por George Whitefield e a melodia de Felix Mendelssohn.
- “Feliz Navidad”, de José Feliciano (1970), mistura o inglês e o espanhol, tornando-se uma das músicas de Natal mais populares em todo o mundo.
- “White Christmas”, composta por Irving Berlin em 1942, se tornou um clássico atemporal, evocando a nostalgia de um Natal com neve.
- “Boas Festas” de Assis Valente, composta em 1932, é uma das canções de Natal mais populares do Brasil, refletindo sobre as festividades e a solidão.
- “All I Want for Christmas Is You”, escrita por Mariah Carey e Walter Afanasieff em 1994, trouxe uma nova abordagem emocional ao gênero das canções de Natal, focando no desejo de amor.
Essas canções refletem a diversidade cultural e histórica das celebrações natalinas, cada uma com sua história única que contribuiu para a rica tapeçaria musical do Advento e do Natal.
Ao longo dos séculos, o Natal passou por diversas transformações, tanto em seu significado religioso quanto em sua celebração cultural. O que inicialmente era uma data litúrgica para marcar o nascimento de Cristo passou, com o tempo, especialmente após a Idade Média e mais intensamente a partir da Era Moderna, a incorporar elementos culturais e sociais, distantes de seu significado estritamente religioso, à medida que se tornava uma festividade global. Embora o Natal continue sendo, para muitos, uma celebração do nascimento de Jesus, também se tornou um evento de união familiar, solidariedade e troca de presentes, com símbolos como o Papai Noel e a árvore de Natal ganhando destaque. Essas mudanças refletem a maneira como a festividade se adaptou a diferentes culturas e contextos, transformando-se em uma celebração multifacetada, que vai além do seu significado religioso original.
Os “símbolos natalinos” carregam significados profundos e se tornaram “ícones” do período natalino, com origens que remontam a diversas tradições culturais, religiosas e até seculares. Alguns desses símbolos têm raízes em tradições pagãs, mas não é o objetivo deste artigo abordar a associação desses símbolos ao paganismo. Os principais símbolos do Natal são: a árvore de Natal, o presépio, a estrela de Natal, os sinos, a guirlanda, os presentes, as velas, o bastão de Natal (cajado de pastor), os anjos, a neve, as renas, as cores do Natal (vermelho, verde, dourado, branco e prata) e, claro, o Papai Noel. A seguir, trataremos especificamente sobre o Papai Noel.
O Papai Noel – Figura emblemática do Natal: Conhecido por sua generosidade e pelo hábito de presentear crianças bem-comportadas na véspera de Natal, o Papai Noel tem sua origem em São Nicolau, um bispo do século IV, que nasceu em Patara, na região da Lícia, atual Turquia, e ficou famoso por sua generosidade ao ajudar famílias necessitadas. Com o tempo, a figura de São Nicolau se misturou a várias tradições culturais, incluindo influências de tradições nórdicas e folclóricas. Na mitologia nórdica, Odin, o deus principal, também distribuía presentes durante o “Festival Yule”, montado em seu cavalo de oito patas, “Sleipnir”, e descia pelas chaminés. Essa tradição ajudou a moldar a imagem moderna do Papai Noel, especialmente a figura de um velhinho barbudo que visita as casas na noite de Natal. A figura foi nomeada “Papai Noel” na tradição francesa e “Santa Claus” na tradição anglo-saxônica. Com o tempo, a imagem do Papai Noel foi incorporando elementos de várias culturas e tradições, incluindo influências de Odin e de São Nicolau, e se popularizou no século XIX, especialmente por meio das campanhas publicitárias. A imagem moderna de Papai Noel, vestindo seu icônico traje vermelho e branco, foi consolidada no século XIX. O cartunista americano Thomas Nast foi pioneiro ao ilustrar o bom velhinho com essas características, publicando suas representações na revista “Harper’s Weekly”. Mais tarde, em 1931, a Coca-Cola desempenhou um papel crucial em popularizar ainda mais essa imagem, através de uma campanha publicitária que ajudou a solidificar a figura do Papai Noel como a conhecemos hoje. Atualmente, o Papai Noel é uma figura central nas comemorações de Natal, representando os valores de generosidade e alegria que marcam essa época. Sua trajetória ilustra como as tradições de diferentes culturas se entrelaçam, criando a rica tapeçaria de símbolos que celebramos globalmente durante o Natal.
O verdadeiro significado do Tempo Litúrgico do Natal — a vinda do Messias, o Salvador, o Redentor — tem, de fato, perdido ênfase e importância em diversos contextos culturais e contemporâneos. Muitas vezes, o Natal é representado por cenas de presépios, árvores de Natal e, principalmente, na expectativa da chegada do Papai Noel. O Natal tem se afastado das festividades religiosas, sendo cada vez mais marcado por compras, trocas de presentes e celebrações comerciais, o que muitas vezes reduz o foco no verdadeiro protagonista, Jesus. Embora o tradicional hino de Advento “Veni, Veni Emmanuel” (século IX), traduzido como “Ó vem, ó vem, Emanuel”, fale da vinda de Emmanuel (Jesus, o Deus Conosco), na prática, muitos têm esperado o Tempo do Natal mais pela vinda do Papai Noel, transformando-se, de certa forma, em “Ó vem, ó vem, Papai Noel”, como uma metáfora para ilustrar a ênfase moderna na figura secular do Natal. No contexto comercial, um “Pré-Advento” se estabeleceu, com lojas e shopping centers começando a decorar e criar promoções de vendas desde o final de outubro ou início de novembro, antecipando as festividades de Natal, na realidade, as vendas do Natal. Nesse cenário contemporâneo de celebrações natalinas, o Advento, que deveria ser um tempo de preparação para o nascimento de Cristo, acabou se transformando em uma contagem regressiva para a chegada do Papai Noel, desviando-se de sua essência sagrada. O Natal, que antes era sinônimo de reflexão e celebração da esperança trazida por Jesus, hoje se perde no brilho das luzes comerciais, tornando-se uma festa que aos poucos esquece seu verdadeiro propósito. Assim, os períodos do Advento e do Natal têm se tornado, cada vez mais, associados à figura do Papai Noel, em vez de à vinda do Salvador e ao nascimento de Jesus.
Doutor em Música pela UNICAMP/Universidade de Coimbra
Organista, Pianista e Cravista – Concertista Internacional – Professor de Música
Músico em Eventos e Cerimônias – www.handelcecilio.com