Quem o disse, e o fez em jornal da capital, é dra. Juraciara Vieira Cardoso, professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito.
10-11-2024 às 12h:12 – Manoel Hygino dos Santos*
A contaminação pelo HIV em transplantes no estado do Rio de Janeiro, em outubro, superou as fronteiras do Brasil. “Mais que um mero caso de erro médico, trata-se de uma situação de completo descaso pela vida humana. A deia de fazer testagem dos materiais apenas uma vez, para diminuição dos custos, pode ter gerado resultado falso negativo em dois pacientes, que contaminaram ao todo, outras seis pessoas com coronavírus. O fato de pacientes transplantados terem sido contaminados com vírus HIV complica ainda mais sua situação de saúde, que já é frágil”.
Quem o disse, e o fez em jornal da capital, é dra. Juraciara Vieira Cardoso, professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito.
Ela, todavia, diz mais: “Do mesmo modo, a infecção pelo HIV também compromete o sistema imunológico, e os medicamentos antirretrovirais são o único meio de prolongar a vida do paciente”. Contudo, tais medicações têm fortes efeitos colaterais, tais como insônia, cansaço, depressão, ansiedade, diarreia, perda de apetite, entre outros que, somados aos próprios do transplante, pode tornar a vida do enfermo um fardo.
Transplantar é sumamente importante nos grandes e modernos centros médicos do mundo. Por também fazê-lo e sendo a Santa Casa BH hospital de alta complexidade, viu-se elevado à condição de maior transplantador de órgãos de Minas Gerais e um dos principais do Brasil.
Nos últimos anos, a instituição vem ocupando lugar de destaque na realização de transplantes de rim, fígado, procedimentos custeados pelo Sistema Único de Saúde.
Lê-se, no seu relatório de 2022, que – naquele ano- realizou 328 transplantes de órgãos, tecidos e células. Desde 2021, o Instituto de Transplante de Medula Óssea e Terapia Celular, que integrado serviço de transplantes, oferece cada vez mais inovação e segurança aos pacientes, dispondo de leitos equipados com High Eficiency Particulate Air (HEFA), filtro de tecnologia avançada que garante eliminação de praticamente 100% das impurezas do ar.
LIDERANÇA NA ÁREA
Em 2022, a Santa Casa BH já se apresentava como o primeiro estabelecimento transplantador de órgãos, tecidos e células da capital e do estado e segundo do Brasil; era também o primeiro de BH e do estado, em coleta e acondicionamento de medula; idem de transplantes de córneas; e 2º em Belo Horizonte de rins; o primeiro em BH em transplante alogênico/autogênico de células-tronco aparentado/não aparentado; primeiro na capital e estado em transplante de fígado; e, 1º em Beagá e Minas em transplante de coração.
Em 2022, segundo levantamento do Global Health Intelligence, o Hospital já era o terceiro mais bem equipado do Brasil, atendendo 35 especialidades de média e alta complexidade, contando então com 5.496 colaboradores com vínculo empregatício e 1.490 médicos.
Em 2023, com 350 transplantes de pacientes oriundos de 212 municípios mineiros e 25 estados, a instituição reafirmou sua posição como um dos maiores centros transplantadores do Brasil. Foi quando chegou o serviço de Hematologia Pediátrica, representando não apenas um avanço numérico, mas também na qualidade do atendimento, garantindo um tratamento contínuo e acessível.
Em 2024, o estado registrou um aumento no número de transplantes entre janeiro e julho, subindo de 1.025 para 1.124, comparativamente ao mesmo período do ano anterior, já que, em 2023, somavam 337 procedimentos, o melhor resultado dos últimos anos.
Mas ainda não é tudo… A angústia pela espera é uma dura realidade para mais de 44,6 mil pessoas que aguardam na fila de transplantes de órgãos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Só em Minas Gerais. O número ultrapassa 3,8 mil, explicando casos como do Estado do Rio, transformando em escândalo nacional.
Apesar dos avanços, o médico intensivista e presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) da Santa Casa BH, dr. Lucas Timm, reforça que o tema precisa ser discutido continuamente, uma vez que ainda é rodeado de inúmeros tabus.
“Muitas pessoas ainda têm receios, acreditando, por exemplo, que a morte encefálica do possível doador pode ser diagnosticada de maneira incorreta. É importante reforçar que, a partir do momento em que o paciente realiza qualquer tipo de transplante na Santa Casa BH, ele passa a ser nosso por toda a vida. Nosso compromisso vai muito além do transplante. Queremos garantir que cada paciente receba todo o suporte necessário, desde o pré-transplante até o seguimento contínuo e integral”, afirmou o provedor Roberto Otto, que participa pessoalmente de muitos eventos.
É um tema sensível e cercado de mitos que só serão desconstruídos com informações confiáveis e de qualidade, esclarecendo que todo o procedimento é realizado de forma segura e respeitosa, tanto em relação ao doador quanto aos seus familiares.
O médico Dr. Lucas Timm lembra que é justamente para conscientizar, informar e esclarecer dúvidas da sociedade que a Santa Casa BH participou recentemente do Setembro Verde. “Fizemos intervenções internas, com nossos funcionários, e nas ruas do entorno da Santa Casa BH; entregando folders educativos, bottons e pulseiras para a população, tudo seguindo o mote da campanha que é ‘ o show pode continuar’… Também colocamos faixas nos sinais. Outras ações, como blitz em bares, aulas coletivas de funcional e fitdance também serão realizadas nos próximos meses”.
CASO EXEMPLAR
Um dos destaques foi o vídeo produzido pelo setor de Comunicação e Marketing da Santa Casa BH especialmente para a campanha e estrelado por Gustavo Henrique Alcântara. Na mensagem, ele ressalta a importância de informar à família sobre o desejo de ser doador e que esse simples gesto pode permitir que o espetáculo da vida de várias pessoas continue.
“O transplante me deu uma nova via. Desde um café com a minha avó até um passeio com a minha mãe, tudo para mim é incrível e vale cada segundo”. O sentimento de gratidão de Gustavo Henrique Alcântara, de 31 anos, que ganhou um novo fígado em janeiro de 2022, ilustra como o ato solidário de doar órgãos pode transformar a realidade dos milhares de pacientes. Foi o que aconteceu com o Gustavo, que descobriu, em 2019, que tinha colangite esclerosante primária, doença rara que consiste na inflamação do fígado, causando cicatrização progressiva e estreitamento dos dutos, podendo acarretar cirrose, insuficiência hepática e até câncer.
O diagnóstico foi na Santa Casa BH e Gustavo tratou a doença com medicamentos até que, no final de 2021, entrou para a fila de transplantes. Pela gravidade do quadro, subiu de posição na lista e, após 37 dias, o tão esperado órgão chegou. “A minha vida antes do transplante era muito difícil. Fiquei anos doente, e passei por várias internações, usei dreno biliar e não conseguia estudar, trabalhar ou realizar outras atividades diárias. Depois do transplante, foi como se eu nunca tivesse tido a doença e um mundo de novas possibilidades se abriu. Pude concluir a minha graduação em arquitetura e voltei a fazer tudo que queria, como ir à academia, sair com meus amigos, entre outras coisas”.
Para se tornar um doador, o primeiro e mais importante passo é deixar claro esse desejo para a família. No Brasil, a doação ocorre somente com a autorização do parente responsável, após a constatação da morte encefálica. No então, atualmente, também é possível manifestar o interesse por meio do sistema de Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (Aedo), lançado este ano, em uma parceria do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Notarial do Brasil. Basta acessar o link www.aedo.org.br.
No Rio, caso de Transplante é coisa muitíssimo séria. Vejamos o que aconteceu no caso recente, sumamente grave.
A Justiça do Rio de Janeiro prendeu Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do PCS Lab Saleme, no contexto da investigação dos transplantes de órgãos infectados com HIV. Ele, que chegou a ser considerado foragido, se entregou na Cidade da Polícia, zona Norte da capital, e optou por não dar declarações. O advogado do homem, Afonso Destri, informou que entraria com pedido de habeas corpus.
Antes, a Justiça também tornou réus os seis sócios e funcionários do laboratório, que é investigado por emitir laudos com falso negativo para HIV, que resultaram na infecção de seis transplantados. Na decisão, a juíza Aline Abreu Pessanha aceitou a denúncia do Ministério Público e reforçou que os envolvidos devem permanecer detidos devido à gravidade do crime e para não atrapalharem a investigação.
*Membro da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional dos Escritores.