Para aqueles estrangeiros da alumina em Barcarena-PA e para aqueles outros em Minas Gerais com 19 mortes no Vale dos Inconfidentes (Mariana) e 270 no caudal do Parauapebas, (Brumadinho) não vai nem ameaça de uma cadeinha?
10-11-2024 às 09h:00 – Jose Altino Machado*
Nove anos… Já se passaram nove anos do estouro da barragem de Fundão em Mariana. Ainda dá para se contar em dedos das mãos.
Segundo históricos, a Samarco do grupo Samitri/Marcona foi adquirida pela Companhia Vale do Rio Doce que repassou cinquenta (50%) por cento de sua propriedade e operação da jazida para a BHP, mineradora anglo-australiana. Uma das maiores do mundo, que trazia nova tecnologia para concentração e enriquecimento de minérios com baixos teores. Uma novidade…
Ali pertinho, bem nas vizinhanças, se encontrava outra mina, conhecida como morro do Fraga, porém de bauxita. Sua proprietária a ouro-pretana, Saramenha, empresa do grupo anglo canadense Alcan do Brasil.
Tudo e todos estrangeiros, mas como adoram abrasileirar colocando logo atrás o nome originário do pau brasil, nos fazendo de bestas. Vamos deixar que se sirvam à vontade.
Só que, o citado minério da alumina acabou e deixou exposta uma belíssima jazida de ferro, a qual, repassou à Vale do Rio Doce. Não mais que de repente, faminta, a colocou em operação.
Em retrospecto, é preciso que saibam que operações com minérios de ferro em Minas Gerais remontam há quase um século. Quase isso… Um Percival Facquar.
Na ocasião este mineral ostentava um majestoso pico de 1.200 pés, referência da aviação da época, conhecido como Cauê. Riquíssima fortuna de ferro do Gringo Percival em solo brasileiro rico. Teores os melhores.
Vale do Rio Doce, criada por decreto, mais para agência de desenvolvimento que empresa de mineração, assume tais bens desapropriados do americano, prioritariamente a auxílio de esforços de guerra. Internamente seria a se tornar um moderno modelo empresarial em um Brasil que surgia.
Em seus estatutos e propósitos, bem lavrados, estavam a aplicação parcial de seus lucros nas regiões às quais atravessava. Deveria ainda sobretudo exercer, bem diferente dos modelos arcaicos da então existente fidalguia patronal brasileira, principalmente cafeicultora, maior exportadora de antanho, o pagamento de melhores salários possíveis ao quadro trabalhador, em todos os níveis.
Mais ainda, como maior cuidado, deveria estar sempre entregue e gerida por técnicos altamente capacitados, com muitos deles ascendendo a postos de direção por merecimentos internos, nunca por qualquer indicação de interesse privado ou político.
E ela cumpria seus deveres estabelecidos em sua certidão de “criação”. Este seu cumprimento com seus desígnios foi exatamente o enterro de seus propósitos.
Sua legitimidade, seu sucesso, solidez e espaço conquistado, não só no país, como no exterior, tornou-se um completo tesouro, desejado ambiciosamente por sedentos argentários.
Para eles sua conquista era questão de honra. Era um atrevimento o Estado criar, formar e engrandecer não só uma gigantesca empresa, imune a sacanagens outras, corrupções políticas a qualquer fim. Copiaram o romano Catão, não existindo Cartago, mas tal qual. “Delenda Vale”.
Acharam então a melhor ferramenta para a tomada do sucesso de muitos. Um político fantasiado de socialista na presidência que a vendesse como banana ou mesmo pimenta brava na feira.
E assim o foi e lá se foi a Vale do Rio Doce.
Logo em primeira assembleia privada, se deram ao direito de modificar, sabe Deus como, um decreto presidencial retirando dos lucros a região de sua travessia e retirando ainda até seu endereço, ficando só Vale.
Quanto aos então qualificados funcionários, que seriam modelos nacionais de eficiência e ganhos, publicamente intitulados, maldosamente a fins midiáticos, de barões, marajás, dispensou a todos, jogando a fundos de pensão e, no muito, um INSzinho. Sem tempo para novas e eficientes contratações, àqueles indispensáveis para seu funcionamento, embora os tendo aposentado, chamou de volta com salários bem longe dos anteriores.
Empresário bão, fidalgo, criado no São Paulo, com exceções poucas, faz é assim…
Mas, o mais grave a todos nós e a quem a cerca, veio logo e mais que a cavalo. Também dispensados e retirados os poderes gerenciais de seus excelentes técnicos não houve quem com sabedoria prevenisse os grandes “executivos” dos perigos das lavras ambiciosas. E seus desastres foram mortais.
Em Mariana, na Fundão não houve rompimento e sim estouro por excesso de peso na base da barragem feita irresponsavelmente em declive. O vídeo do estouro mostra poeira e não lama; caso de rompimento.
E assim o mais grave:
A POUCA HONESTA ATITUDE EM NÃO ASSUMIR, QUE ELA, ALÉM DA SAMARCO, TAMBEM JOGAVA REJEITOS NAQUELA BARRAGEM DA MINA VIZINHA, ADQUIRIDA AOS CANADENSES.
Como gravame de conduta, deixa como peso e maldição ao conhecimento público, o nome solitário de Samarco e BHP, inventando até empresa fantasia, jamais mineradora, para postergar suas responsabilidades e suas devidas reparações.
Sim, deveria existir uma Renova, mas de bom caráter.
Nós por cá e por lá como queiram na Amazônia, não poderemos mesmo nunca entender o porquê governos e, principalmente, o atual, autonomeado defensor de humildes e trabalhadores, assim o diz, sai tão agressivamente a perseguir outros pequenos mineradores, operosos dentro seus saberes e culturas, secularmente conhecidos como garimpeiros, que jamais mataram quem quer que fosse nos exercícios de seus trabalhos, deixando a solta criminosos promotores de autênticas chacinas em suas ordens de trabalho.
E ainda os permite a saírem por aí promovendo como deuses dos tempos, conferências e encontros sagrados todos os meses, por engravatados e enfatiotados lobistas que tem procurado sobremaneira obscurecer não só crimes que redundaram em mortes coletivas, mas graves e irreparáveis danos ao meio ambiente e a sociedade periférica.
Lembro as autoridades, se ainda as têm, que não existe mineração garimpeira ilegal e, sim, não restaurada como legal, uma vez que todos sendo legais, foram criando leis e deles retirando o fulcro da legalidade e retroagindo burlando o direito adquirido.
Ainda mais que, neste caso, os ilegais são os agentes de governo que, como manda a Constituição, seriam responsáveis por tal legalização.
Nenhum, nenhum cidadão se auto legaliza.
Mais, que perguntem às autoridades, se a Fiocruz, com renome nacional, endossa e assina em baixo as afirmações de seu pseudocientista de nome Bostas, se realmente, sem a caríssima analise isotrópica pode reafirmar que seja o mercúrio metálico de uso concentrador histórico do ouro, o criminoso contaminador de crianças índias e outros tantos, inclusive a ministra representante das ricas ONGs.
E mais que isso: que o governo tenha responsabilidade em não retirar a quase secular parceria de sustento aos povos originários, ouvindo apenas a matadores de aves para com penas serem vistos como representantes indígenas.
Seria muito interessante que a administração federal apagasse as luzes da ribalta e humildemente trouxesse uma honesta luz as realidades nacionais.
Nesta semana, incrível… outra grande conferência, sobre a Amazonia. Ninguém de lá ou do trabalho da terra e da região, mas alguns dos patrocinadores presentes, foram autores dos maiores e até mortais, desastres ambientais, que não só o Brasil, mas toda a América já viu ou registrou.
Talvez por isso, além do útil, todos os dias e a todos os tempos temos assistido em busca de silêncios e conluios, tantas inúteis propagandas deles em canais televisivos de grandes redes.
Corre um boato aqui onde moram os trabalhadores garimpeiros, que serão presos aqueles que imputáveis agentes do governo encontrarem minerando.
Fica a pergunta:
Para aqueles estrangeiros da alumina em Barcarena-PA e para aqueles outros em Minas Gerais com 19 mortes no Vale dos Inconfidentes (Mariana) e 270 no caudal do Parauapebas, (Brumadinho) não vai nem ameaça de uma cadeinha?
Pode ser de luxo, desde que seja cadeia.
Já lá se vai, mesmo, um tempinho bom de tomarem vergonha na cara…
Belo Horizonte/Macapá
*José Altino Machado é jornalista