O artesanato é um trabalho importante enquanto meio de manifestação artística e cultural de uma determinada sociedade. Carrega questões de ancestralidade, tradição
26-11-2024 às 08h:57
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Um tipo de trabalho ainda remanescente na sociedade atual é o artesanal. Que é aquele feito manualmente ou com auxílio de poucas ferramentas, produzido em menor escala, em que os conhecimentos são transmitidos através das gerações. Quem o executa é o artesão, com criatividade, ao desenvolver, por exemplo, trabalhos em gesso, cerâmica, madeira, barro, metais, reciclagens, bijuterias, bordados, patchwork e tantos outros insumos.
É produzido com matéria-prima disponível em oficinas domésticas, com objetos de uso frequente na comunidade em que residem. O próprio José, pai de Jesus Cristo, era artesão.
Geralmente, o artesanato é um trabalho importante enquanto meio de manifestação artística e cultural de uma determinada sociedade. Carrega questões de ancestralidade, tradição, transmissão de conhecimento entre gerações e cumpre uma importante função econômica.
O artesanato é produzido em menor escala e cada objeto é único, personalizado.
Muito se fala dos benefícios deste tipo de labor para a saúde, como forma de terapia, que reduz o estresse, a ansiedade, a depressão, enquanto mecanismo mental e motor.
Produtos artesanais, em regra, são únicos e aproximam os consumidores da história por detrás das peças. São importantes atividades econômicas, são vendidos em feiras de artesanato, sendo meio de trabalho e sobrevivência para muitas pessoas.
Mas, se por um lado, é sensacional estar em uma feira de artesanato, lidando com um artesão que produz manualmente um produto e o expõe para venda e conta toda uma história de produção daquele bem, por outro lado, se colocam muitos desafios para que este trabalho seja exercido de modo mais digno e para que a relação entre consumidores e vendedores se faça de modo realmente enriquecedor.
Os desafios perceptíveis em feiras de artesanatos, dizem respeito a um amadorismo brutal, que muitas vezes, torna a compra dificultosa em demasia. Existem artesãos que vão as feiras para vender seus produtos, mas não têm os preços expostos ou fixados nas mercadorias o que lhes permite fazer o preço de acordo com a que lhe aprouver no momento. É o famoso preço de acordo com a “cara do freguês”.
Outro ponto desafiador, diz respeito à falta de qualificação no atendimento ao cliente, pois parte significativa dos artesãos, não passou por um curso de capacitação para tratamento aos compradores. Portanto, alguns são rudes em demasia, outros não têm ainda a menor noção de como expor suas mercadorias que ficam amontoadas, sem visibilidade.
Neste caso, se o cliente for manuseá-las eles não gostam. Querem mais é que o cliente compre e pronto.
Outra dificuldade, é que muitos não têm meios de exposição digital de seus produtos, em plataformas como Instagram ou mesmo uma comunicação via “whatsapp”.
Parte significativa, só se comunica na própria feira, se o cliente fizer uma encomenda só na semana seguinte saberá se foi exitosa. Por vezes, o cliente chega na feira e descobre que sua encomenda não foi fabricada. Pasmem, isto ainda é comum!
Há uma incomunicabilidade com estes artesãos e não visibilidade destes produtos.
Isto até seria razoável se a atividade de venda fosse um hobby, algo recreativo, mas não, na maioria das vezes, é o ganha pão do feirante, mas ele não sabe expor suas mercadorias, é rude, ou seja: há um amadorismo prejudicial reinante.
A rudeza e falta de trato com a clientela é, sob muitos aspectos, o ponto mais tênue das contratações. Se o consumidor tiver algum problema com o produto adquirido, dificilmente o vendedor terá um pós-venda. Ou seja, dane-se o cliente.
Os produtos artesanais têm qualidades inúmeras, por vezes, atendem aos requisitos de bom preço e beleza, além de serem únicos ou produzidos em baixa escala.
Porém, a não capacitação dos artesãos é um problema. Deveriam estes como qualquer outro trabalhador estarem sujeitos a uma avaliação feita pela clientela, com vistas, a aprimorar a prestação de serviços.
A importância do artesanato é amplamente reconhecida, inclusive, a força pujante enquanto elemento de elegância e diferenciação é exaltada na contemporaneidade, pois o indivíduo ao comprar uma peça artesanal adquire algo com certa exclusividade para a sua decoração e de acordo com o seu estilo e gosto, de modo próprio e particular.
A habilidade manual, deve ser prestigiada, deve propiciar melhoria do padrão de vida do artesão. Esta atividade deve ser valorizada cada vez mais social e economicamente, porém é preciso capacitar esta classe de trabalhadores, conceder-lhes instrumentos para bem atender. Retirar o véu do amadorismo, pois atendimento de qualidade é fundamental para quem busca comprar um produto artesanal.
Que as feiras de artesanato possam ter sistemas de reputação, enquanto mecanismos de confiança entre vendedores e consumidores. Que se realizem pesquisas entre os consumidores para que estes apontem falhas a serem melhoradas e dificuldades de comunicação, tratamento rude dos vendedores, para que este serviço possa ser aperfeiçoado continuamente.
É comum, encontrar turistas que visitam feiras de artesanato relatarem que se sentiram constrangidos em perceber que o preço das mercadorias era mais elevado quando o artesão percebia que estava vendendo para um turista. Problema constrangedor este que seria facilmente resolvido se o valor das mercadorias ficasse fixado nas peças, ou visivelmente determinado
.
Sobre o atendimento ao cliente faz-se necessário criar cursos de capacitação.
No que tange ao pós-venda, deveria haver um acompanhamento dos órgãos promotores das feiras em caso de troca e devolução de produtos defeituosos, para assessorar e mitigar possíveis conflitos, ao propiciar uma mediação.
Enfim, há o que ser aperfeiçoado, para que o trabalho artesanal, seja não apenas belo, diferenciado, mas para que adquira, imprescindivelmente, algum profissionalismo.
Enfim, prezado leitor, que tenhamos uma ascensão e valorização de todo tipo de labor, mas que a discussão sobre o aprimoramento do atendimento ao cliente também se faça. Um brinde ao trabalho artesanal e o desejo de que este se instrumentalize de bons mecanismos de atendimento à clientela. Boas compras.
*Daniela é Doutora, Mestra e Especialista pela UFMG. Pesquisadora com ênfase nos estudos sobre o Direito do Trabalho, Filosofia do Direito e Linguagem.