O mundo inteiro sabe das tragédias de Mariana e Brumadinho e a essa altura espera-se que as empresas mineradoras já tenham percebido ser melhor, humana e economicamente, evitar que ocorram
Anes Otrebla*
Como jornalista de pontas de dedos calejadas de tanto escrever sobre a questão do minério de ferro, fico a refletir sobre a falta de tato – para não dizer outras coisas – das empresas mineradoras, que, a essa altura da exploração agressiva do terreno, já podiam estar pensando com a cabeça e não só com o bolso.
Já podiam ter um plano para civilizadamente bem lidar com a comunidade onde se instalam abruptamente. Saber de todas as necessidades da comunidade, participar da vida dela, com o intuito de encontrar a maneira mais sensata para conversar com as pessoas, principalmente as mais prejudicadas. Sentar frente a frente com elas, porque, afinal de contas, a comunidade existia desde antes e merece todo respeito. Em resumo, as mineradoras tinham de saber lidar com a comunidade antes mesmo de explodir a primeira dinamite.
Em sã consciência, não se pode evitar que Minas Gerais, rica em minerais como é, sofra a exploração. Evidentemente, há áreas que não podem ser exploradas, como a Serra do Curral, em Belo Horizonte, para citar um exemplo. A exploração dos minerais pode ser feita em outras áreas, desde que seja legalmente praticada.
O mundo inteiro tem conhecimento das tragédias de Mariana e Brumadinho e a essa altura espera-se que as empresas envolvidas – Vale S.A. e outras – já tenham percebido que é mais humano e econômico, até, evitar que ocorram.
Evitar por exemplo que as comunidades como a de Santa Bárbara (MG) tenham que apelar para manifestações como essa mais recentemente denunciando o 6° acionamento indevido de sirene da barragem da mineradora AngloGold Ashanti.
Mas não só devido ao disparo de sirene, que gera mal-estar enorme às pessoas, soando em cada uma delas de uma certa forma, mas de modo geral criando pânico desnecessário.
Moradores de Santa Bárbara ocuparam a frente da portaria da AngloGold, como informa o jornalista Jurandir Persichini Cunha, ambientalista de primeira hora. Dizia ele que os moradores foram protestar também contra “o corte de árvores indiscriminado, as ausências das ações da causa animal, a defesa da Serra do Curral, da agroecologia e das áreas verdes urbanas”,
E mais, “por um País soberano e sério, contra o saque dos nossos minérios”.
Isto é só uma amostra das “nossas lutas”, quando nos dias 29 e 30 próximos acontecerá na cidade a Conferência Municipal do Meio Ambiente.
*Jornalista e escritor