Créditos: Divulgação
16-12-2025 às 08h34
Guilherme Salgado*
Fez agora em dezembro um ano que perdi precocemente meu irmão.
Decidi falar disso, não com nenhum intuito de ensinamento, mas como uma lembrança e homenagem a ele.
Ricardo Henrique Carvalho Salgado era um giver, um verdadeiro doador, que na concepção entregava tudo a todos.
Durante sua internação fiquei impressionado nas dezenas de pessoas que o visitaram e falaram: “seu irmão mudou minha vida”. Dezenas.
Pra um professor da Faculdade de Direito da UFMG penso ser o grande legado que todos buscam (ou deveriam).
A disponibilidade e atenção de todos, durante esses dias difíceis, que precederam sua partida: para ficar com ele, organizar livros, ajudar a mim e a meus pais. Foi genuína e aos montes.
Só na hora de nossa morte que saberemos de fato quem impactamos. Meu irmão tocou muita gente. E com profundidade. E não por acaso.
Sem formalidades, brincalhão e um gênio (literal) conciliador, muito raramente falava mal de alguém. Brilhante tecnicamente.
Tentei ler seu livro e fiquei só na tentativa. Brincava com ele: “Ninguém entende nada que você escreveu”.
- “Então, pode escrever qualquer coisa.”
Doutorandos, que foram orientados por ele, fizerem um livro em homenagem aos 20 anos dele como professor.
Pai dedicado, super presente e preocupado com sua filha, minha afilhada. Um ótimo ex-marido!
Um filho intenso em todos os sentidos: bravo às vezes, mas carinhoso e hiper presente. Era onipresente com minha mãe e meu pai. Tudo de bom ou ruim passava por ele.
Por fim, um irmão generoso. Preguiçoso pra algumas coisas do dia a dia, mas na hora do aperto ele estava sempre disponível e intenso. Lembro que na pandemia algumas vezes fui trabalhar na casa dele. Sem eu pedir nada, ele sempre comprava o que eu gostava de comer e mudava a casa toda para eu ficar confortável.
No dia do procedimento, eu estava no quarto do hospital com ele e meus pais antes dele ir para o bloco. Precisei fazer um vídeo com um dos meus maiores clientes. Lembro da voz dele ao fundo “gente, vamos ficar em silêncio porque o Gui está trabalhando”. E assim o fizeram durante uma hora.
Sua partida me trouxe o cuidado com minha saúde e minhas relações que há anos precisava e não fazia.
Nada diminui a saudade sem fim e sem hora para chegar que senti e sinto frequentemente nesse um ano sem ele.
Compartilhar um pouco quem foi meu irmão pode até fazer alguém refletir sobre algo.
Com certeza me faz bem relembrar e escrever.
(*) Ricardo Henrique Carvalho Salgado é CEO da healthtech 3778.


