
Fui convidado pelo jornalista e radialista Ilídio Costa para escrever uma coluna sobre turfe (corridas de cavalos) CRÉDITOS: Reprodução
Getting your Trinity Audio player ready...
|
24-04-2025 às 10h26
Márcio de Ávila Rodrigues*
O Jornal de Minas, setor de esportes, investiu na contratação de repórteres especializados e colunistas. Era um jornal diário dos anos 1970.
Nos idos de 1972, pouco antes de atingir a maioridade de 18 anos, fui convidado pelo jornalista e radialista Ilídio Costa para escrever uma coluna sobre turfe (corridas de cavalos) no Jornal de Minas, um jornal diário impresso de boa circulação em Belo Horizonte.
Para melhor contextualizar, informo que a capital mineira tinha na época um grande jornal diário para assuntos gerais que se chamava Estado de Minas. E tinha outros dois, também diários, que também eram grandes empresas pois possuíam rotativa, a máquina de impressão que era um equipamento grande e caro. Estes dois eram o Diário de Minas e o citado Jornal de Minas.
Tive oportunidade de escrever um capítulo de um livro sobre a minha vivência e experiência neste meio de comunicação. Para os interessados, disponibilizo o link do texto que está publicado no site Recanto das Letras:
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/6126540.
Apesar do tamanho da empresa, não era um jornal rico. Como eu detalho no texto citado acima, não pagava bons salários, não era bem administrado e estava sempre à procura de benesses dos poderosos e dos líderes políticos.
O futebol já era o grande esporte popular na época e a mídia dividia a cobertura esportiva em dois blocos. O maior era o futebol e o bloco menor abrangia todos os demais esportes sob a denominação de “esportes especializados”.
Eu tinha uma coluna assinada com o singelo título “Turfe”. Ainda que fosse muito importante para a minha formação profissional, eu me lembro que a vaidade foi o principal fator que me moveu quando aceitei a incumbência. Ser colunista de jornal era uma questão de afirmação para um menino que ainda não havia chegado sequer à maioridade.
Eu era um “foca”, gíria da época para os aprendizes de repórter. Em meados de 1973 aconteceu uma reviravolta no setor: o responsável pelos esportes especializados virou editor de esportes. E eu fui o indicado para ficar como responsável pela página de esportes especializados, dividindo os textos com outros dois “focas” que posteriormente conseguiram se transferir para o futebol, área mais valorizada.
Mudei o nome de minha coluna “Turfe” para “Quadra”, com a finalidade de publicar pequenas notas que não mereciam uma matéria exclusiva. Meus outros textos eram reportagens próprias ou edição de textos adquiridos das agências de notícias.
Mas o jornal também contava com outras colunas sobre outros temas, assinadas por colaboradores. Lembro-me de pronto de automobilismo, futebol amador (ou de várzea) e judô. Todas gratuitas, sem vínculo profissional entre colunista e jornal.
Todos os colunistas tinham seus interesses e motivos, eram pessoas de um ramo específico e queriam divulgação.
Muito interessante foi o caso do Osmar Camilo, um árbitro que trabalhava no futebol de várzea. Copio a história do texto citado acima: “Durante meu aviso-prévio, o colunista de futebol amador Osmar Camilo da Silva foi o indicado para assumir a página de esportes especializados e fui seu orientador, apesar de 10 anos mais novo. Por lá ele ficou cerca de 15 anos e depois seguiu apenas na carreira de árbitro de futebol (chegou a ser o diretor de árbitros da Federação Mineira de Futebol por longo período). Aposentou-se como jornalista”.
Outro caso interessante foi o do especialista em automobilismo, Boris Feldman. Ele já era um jovem (nascido em 1944) totalmente envolvido com a atividade. Era engenheiro mecânico e piloto de corridas, e profundamente envolvido com o jornalismo especializado, situação em que permanece hoje (2025) no alto de seus 80 anos de idade.
Boris Feldman tem até página na Wikipédia, um verbete (como se dizia com relação às enciclopédias tradicionais). Ela informa que ele nasceu em Belo Horizonte em 10/07/1944. É engenheiro eletricista e mecânico, piloto de automobilismo e jornalista. Boris iniciou sua carreira como jornalista especializado em veículos e automobilismo em 1966, já começando como editor do caderno de veículos da sucursal mineira do jornal Última Hora (RJ). Participou como piloto de competições de vários rallies e corridas de automóveis.
As colunas tinham data e formato fixo. Na condição de editor da página, eu recebia o texto já datilografado e coordenava a publicação.
Fora do meu setor, destaco o caso do repórter policial José Moreira Alves, o Kid Moreira. O caso dele guarda similaridade com os citados, anteriormente, mas não é exatamente igual, pois mesclou a profissão de policial civil com a de repórter especializado em noticiário policial.
Também orbitou pelo radialismo, participando ou dirigindo noticiário policial. Assim como eu, Kid Moreira também escreveu um capítulo contando a sua história pessoal e a sua carreira profissional dentro do Jornal de Minas. O livro foi publicado em 2018 sob o título “Jornal de Minas: histórias que ninguém leu”, por meritória iniciativa do jornalista Fernando Horta Zuba, filho de Fernando Zuba, que foi editor do jornal durante vários anos.
A obra tem 208 páginas e foi publicada pela Páginas Editora, de Belo Horizonte. Está apenas em formato impresso, insuficiente para uma boa divulgação no mundo virtual que já se faz presente.
* Márcio de Ávila Rodrigues é jornalista