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12-03-2025 às 08h20
Cristiane Helena de Paula Lima Cabral*
Enquanto o mundo acompanha mais um ataque ucraniano na capital russa, o massacre da minoria religiosa e partidários do ex-ditador Bashar al-Assad na Síria e a Europa tentando reunir forças para voltar a desenvolver o seu hard power militar, em um outro lugar longínquo do planeta Terra uma eleição poderá mudar a geopolítica internacional.
A Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca, ocupa o ártico, é hoje o centro da discussão pois, ao contrário do que muitos pensavam, o local não é formado apenas por uma grande massa de gelo. O aquecimento global tem provocado o derretimento dos gigantes icebergs revelando novas rotas marítimas, diversos depósitos de minerais importantes para a tecnologia e a discussão sobre o controle da região.
A sua importância geopolítica está relacionada com a sua localização já que ela se encontra situada entre a América do Norte e a Eurásia, sendo crucial para o monitoramento de mísseis e defesa continental. Apenas a título de exemplificação: caso a Rússia resolva atacar os Estados Unidos, a rota mais curta para o envio de mísseis, seria via Groenlândia.
Não é à toa que a Rússia já iniciou a instalação de bases aéreas e navais, a China pretende lançar uma nova rota da seda (o que diminuiria a distância para realização das suas transações econômicas com os países do ocidente) e consolidaria a sua influência econômica e os Estados Unidos, que, temerosos por perda de controle na região, apresentaram a proposta de aquisição da Groenlândia.
Os habitantes da ilha, que já demonstraram o desejo de se tornarem independentes da Dinamarca, terão a missão de definirem os rumos do país, já que, apesar de não uníssono, há o interesse de alguns políticos em se associarem aos americanos, justamente em virtude do poderio militar e econômico da Terra do Tio Sam.
E mais ainda, deverão reforçar a manutenção do princípio da autodeterminação dos povos em contraponto ao discurso retórico do presidente Trump de alcançar o make America first again (a América em primeiro lugar, novamente) pautado em uma abordagem econômica, de segurança nacional e internacional e pela eterna disputa do poder e hegemonia global.
Em seu terceiro mês, o ano de 2025 já iniciou com fortes emoções e com os temores de uma nova guerra sempre nos rodeando. Assim, só nos resta saber quais serão os desdobramentos no ártico e qual será a próxima pauta internacional.
Aguardemos!
*Cristiane Helena de Paula Lima Cabral é mãe de duas pequenas grandes mulheres. Doutora em Direito Público Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Mestre em Ciências Jurídico-Internacionais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa-PT. Professora dos Cursos de Pós-Graduação em Direito Internacional da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Servidora do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Professora Universitária. Contato: crishelenalima@gmail.com