O que é uma atração para os investidores econômicos, a expansão da agricultura, gera o aumento do uso de água para irrigação e é aí onde mora o problema, porque compromete a sustentabilidade
30-11-2024 às 09h19
Direto da redação
A notícia é de que a água está sumindo da superfície e indo para os lençóis. E por que isso acontece? Porque a economia tem olhos só para o dinheiro e não percebe que a irrigação excessiva gera o fenômeno chamado “rios perdedores”. E, aqui, em Minas Gerais, quais são os “rios perdedores? Os rios São Francisco e o afluente dele, o Verde Grande, ao Norte de Minas, região do projeto Jaíba e de Montes Claros.
Claro que isso gera efeitos considerados graves, como a redução da disponibilidade de água para irrigação, abastecimento urbano e manutenção de habitats fluviais. Foi o que constatou um novo estudo realizado pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com várias universidades internacionais, trouxe à discussão e a busca de solução uma questão preocupante: “Muitos rios brasileiros podem estar perdendo água para os aquíferos subterrâneos, um processo que pode comprometer a disponibilidade de água em várias regiões do País”.
O estudo foi publicado na Nature Communications e analisou mais de 17 mil poços distribuídos pelo Brasil. 55% dos aquíferos próximos dos rios estão em níveis abaixo dos rios o que sugere que “as águas dos rios estão infiltrando no solo em grande escala”.
Segundo o estudo a Bacia do Rio São Francisco e a Bacia do Verde Grande estão entre as mais impactadas, e a causa é o uso intensivo de água para a agricultura e à exploração dos recursos subterrâneos. Esses dois importantes rios para a vida socioeconômica e ambiental para milhões de pessoas, estão perdendo grandes quantidades de água para os aquíferos, e o reflexo disso é a redução dos níveis dos próprios rios, o que compromete o fornecimento de água a biodiversidade local.
O que é uma atração para os investidores econômicos, a expansão da agricultura, gera o aumento do uso de água para irrigação e é aí onde mora o problema, porque compromete a sustentabilidade dos recursos hídricos em várias regiões brasileiras.
O estudo destaca que a bacia do Rio São Francisco é uma das bacias mais afetadas pela perda de água para os aquíferos. Não é à toa que a disponibilidade hídrica e a biodiversidade em uma região crucial para o País vem acontecendo. Há, inclusive, a previsão de que o Rio da Integração Nacional vai desaparecer do mapa até 2030.
Além do fenômeno provocado pela ação antrópica, temos as mudanças climáticas para agravar ainda mais a situação, haja vista as secas prolongadas e as alterações pouca chuva, o que reflete nos aquíferos nos padrões de precipitação estão reduzindo a disponibilidade de água superficial e dificultando a recarga dos aquíferos.
A fama do Brasil é de que dispõe de 15% das reservas de água doce do planeta, mas a distribuição desigual e o uso da intensificado e de qualquer jeito colocam em risco a segurança hídrica do Brasil. Sem dúvida, o estudo é um grande alerta, aliás, mais um. E se não houver uma ação responsável para interromper o malfadado, as gerações atuais e futuras serão prejudicadas.
O estudo chama a atenção para a necessidade urgente de gerenciar de forma integrada os recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Em outras palavras, é fundamental instituir políticas públicas e estratégias de gestão. Os rios e os aquíferos têm de ser olhados como um sistema único. E, claro, diminuir o excessivo uso da água subterrânea para haver recarga natural.