O preço do silêncio na vida profissional

22-02-2025 às 08h48

Alessandra Garcia*

Vou te fazer uma pergunta sincera: quantas vezes você já teve algo importante para dizer, mas escolheu ficar em silêncio?

Talvez tenha sido naquela reunião em que você teve uma ideia brilhante, mas hesitou. Ou quando viu uma decisão sendo tomada de forma equivocada, mas não quis se indispor. Ou ainda quando soube que merecia uma promoção, mas achou melhor esperar serem reconhecidos.

Se isso já aconteceu com você, saiba que está pagando um preço alto. E o pior: provavelmente sem perceber.

O silêncio que nos faz desaparecer

No mundo corporativo, competência sem visibilidade é como um diamante escondido no fundo de uma gaveta: tem valor, mas ninguém vê.

Muitos profissionais acreditam que basta trabalhar duro para crescer, que o reconhecimento virá naturalmente. Mas o mercado de trabalho não funciona assim. Empresas não promovem apenas os mais capacitados – promovem aqueles que sabem demonstrar seu valor.

Se você tem sentido que sua carreira está parada, que as oportunidades não aparecem ou que sua opinião raramente é considerada, talvez não seja porque te falte habilidade, e sim porque sua presença ainda não está sendo percebida da forma certa.

E os dados comprovam essa realidade:

Profissionais que se posicionam de forma estratégica têm 45% mais chances de serem promovidos (Harvard Business Review).

80% das decisões de promoção levam em consideração a percepção que a liderança tem do profissional, não apenas os resultados que ele entrega (Corporate Leadership Council).

40% dos profissionais acreditam que sua carreira está estagnada porque não sabem como se expressar no ambiente de trabalho (McKinsey & Company).

O que isso significa na prática? Que enquanto você se cala, outros estão ocupando os espaços e sendo reconhecidos.

Por que nos calamos?

O silêncio não acontece por acaso. Ele tem raízes profundas, que vão desde insegurança pessoal até o ambiente de trabalho onde estamos inseridos.

Aqui estão algumas das razões mais comuns:

• Síndrome do Impostor: Aquela voz interna que diz: “E se eu falar algo errado?” ou “Será que minha opinião realmente importa?”.
   Medo do julgamento: O receio de ser visto como inconveniente, arrogante ou inadequado.
• Ambientes corporativos tóxicos: Muitas empresas desestimulam a participação, reforçando hierarquias rígidas onde só alguns têm voz.
• Falta de estratégia de posicionamento: Nem sempre o problema é falta de segurança, mas sim não saber como e quando se expressar.
• Mas a verdade é dura: se você não ocupa espaço, outra pessoa ocupará por você.

E não há atalhos. O mercado favorece quem se posiciona, quem contribui para as discussões e quem sabe comunicar valor.

Como se posicionar sem medo?

Se você sente que precisa se expressar melhor no trabalho, mas ainda não sabe como, aqui estão algumas estratégias que podem mudar sua trajetória:

1. Repertório é poder

Quanto mais você domina sua área, mais segurança tem para falar. O medo de se posicionar muitas vezes vem da dúvida sobre estar certo ou não. Por isso, invista em conhecimento contínuo. Acompanhe tendências, leia sobre sua área, estude o mercado e esteja sempre atualizado.

2. Comunique-se de forma clara e estratégica

Saber falar é tão importante quanto saber o que falar. Profissionais que se expressam com objetividade e assertividade têm muito mais impacto do que aqueles que falam demais sem uma estrutura clara. Antes de uma reunião importante, anote os pontos essenciais que deseja abordar. Isso ajuda a organizar a fala e evitar dispersão.

3. Construa sua presença de forma gradual

Se ainda sente insegurança para se posicionar, comece pequeno. Faça perguntas relevantes em reuniões, complemente ideias de colegas com informações úteis e contribua em discussões informais. Essa abordagem progressiva ajuda a criar confiança sem a pressão de grandes discursos.

4. A linguagem corporal também comunica

Não adianta falar bem se sua postura contradiz sua mensagem. Olhar para baixo, falar com tom hesitante ou evitar contato visual pode transmitir insegurança. Mantenha uma postura firme, olhe nos olhos das pessoas e use gestos que reforcem sua credibilidade.

5. Assuma iniciativas estratégicas

Se ninguém te dá espaço, crie o seu. Buscar protagonismo em projetos, sugerir melhorias e se voluntariar para desafios faz com que sua presença seja notada de maneira natural e positiva.

6. Busque feedback e refine sua abordagem

Nem sempre percebemos como estamos sendo interpretados. Pergunte para pessoas de confiança como sua comunicação é vista e esteja aberto a ajustes. Pequenos refinamentos podem fazer toda a diferença na forma como sua voz é percebida.

Posicionamento não é gritar – É influenciar

Um erro comum é achar que se posicionar significa ser agressivo ou falar mais alto que os outros. Mas liderança não se impõe no grito – se constrói com credibilidade.

Grandes profissionais não precisam levantar a voz para serem ouvidos. Eles dominam seu assunto, constroem argumentos sólidos e sabem o momento certo de entrar na conversa.

E é essa combinação de competência e comunicação que faz um profissional sair da sombra e se tornar referência dentro da empresa.

A escolha está em suas mãos

Todo profissional precisa tomar uma decisão: vai ser apenas mais um nome na lista de funcionários ou vai se tornar um nome lembrado para oportunidades estratégicas?

O silêncio pode até parecer seguro no curto prazo, mas, a longo prazo, ele custa caro. Custa reconhecimento, crescimento e espaço dentro do mercado.

A boa notícia? Isso pode ser mudado.

E a mudança começa com uma escolha: a escolha de dar voz ao seu valor.