Os repórteres foram saindo e nenhum olhou pra mim ou me fez alguma pergunta. Isso me assustou pois mostrou o controle total da mídia pelos patrocinadores, o medo da informação livre. Isso expôs o secretário do Meio Ambiente Gelson Leite que poderia ter me concedido 15 minutos para estabelecer o contraditório.
18-11-2024 às 09h:24
Apolo Heringer Lisboa*
Hoje, às 19h, fiquei sabendo de uma entrevista da PBH às 19h30 numa sala da BHTRANS. Corri e cheguei a tempo, moro perto. O tema era o rompimento da barragem da Lagoa do Nado.
Em 6 de fevereiro deste ano enviei um e-mail ao prefeito Fuad pedindo uma audiência para expor sobre um outro modo de tratar a questão das enchentes em BH cada vez mais violentas. Nunca recebi respostas. Tenho esse registro.
Entrei na reunião e vi que incomodei. Imaginei uma reunião mais aberta com vereadores e lideranças do bairro. A coletiva de imprensa tinha acabado de começar, era visível a tensão sobre a repercussão do caso Lagoa do Nado de parte dos servidores administrativos da Comunicação, de Obras e do Meio Ambiente. Todos estavam em pé, um bolo numa sala pequena com umas 40 pessoas no total, entre Defesa Civil, Guarda Municipal, área técnica da prefeitura.
A única explicação que deram é que felizmente ninguém teria morrido; que as obras resistiram cumprindo o seu papel, senão teria sido pior; e que tudo se devia à emergência climática. Quando me pareceu que chegava ao final pedi aos repórteres para expor outra versão estabelecendo o contraditório e me apresentando. Os organizadores me pediram para sair, pois a reunião era só da PBH iria começar e que eu esperasse a imprensa no corredor. Ok me retirei.
Os repórteres foram saindo e nenhum olhou pra mim ou me fez alguma pergunta. Isso me assustou pois mostrou o controle total da mídia pelos patrocinadores, o medo da informação livre. Isso expôs o secretário do Meio Ambiente Gelson Leite indicado pelo Partido Verde que poderia ter me concedido 15 minutos para estabelecer o contraditório, esclarecendo assim a população e os repórteres.
Já no primeiro andar indo para o carro perguntei a um repórter de uma rádio: você defende a liberdade de imprensa ou de empresa? Ele deu um discreto sorriso e respondeu: eu me defendo! Gelei pensando na situação a que o Brasil chegou.
Vejo o Fuad só falando em obras para acabar com a enchentes canalizando córregos e construindo piscinões. Isso agradava à Sudecap e aos empresários da indústria das enchentes; o mesmo discurso desde 1897, que jamais resolverá os problemas BH. Se insistir no erro o resultado será pior. E se gasta numa escala de centenas de milhões de reais onerando nosso IPTU.
Está na Câmara Municipal um pedido de autorização para um empréstimo de R$ 2 bilhões. Será que os vereadores irão aprovar uma monstruosidade dessa? A eleição foi marcada pela defesa da democracia, mas apoio incondicional vicia a cidadania.
No meu site está postado o Manifesto MUDA BH. E uma consultoria Relatório Ecossistêmico sobre o Arrudas e o Onça apontando outro caminho para tratar essas enchentes em BH e Contagem.
* Médico, professor, ambientalista raiz, político e autoridade em “Bacias Hidrográficas”