29-12-2024 às 09h29
Raphael Silva Rodrigues*
A virada do ano, com sua explosão de cores, abraços efusivos e promessas sussurradas sob um céu iluminado por fogos de artifício, marca um portal temporal, um convite à renovação e à esperança. As pessoas se vestem de branco, pulam sete ondas, brindam com entusiasmo, buscando um recomeço, um novo capítulo em suas histórias. No entanto, essa atmosfera vibrante, por vezes, se torna um fardo para aqueles que, em seus corações, vivenciam uma silenciosa batalha contra a melancolia.
Enquanto a trilha sonora da festa ecoa euforia, a mente de alguns teima em rebobinar as fitas do ano que se finda. As metas não alcançadas, os sonhos desfeitos, os relacionamentos rompidos, as perdas irreparáveis, tudo retorna com a força de uma ressaca emocional. A promessa de um novo começo, ao invés de inspirar, se transforma em um doloroso lembrete do que não foi conquistado, do tempo que aparenta ter escapado pelos dedos.
A imposição social de felicidade, tão presente nesta época do ano, atua como um amplificador dessa melancolia. A necessidade de exibir sorrisos e participar de celebrações, quando a alma anseia por recolhimento, gera um conflito interno angustiante. A comparação com a suposta alegria alheia, cuidadosamente editada e publicada nas redes sociais, intensifica o sentimento de inadequação e solidão. O indivíduo se sente como um ator coadjuvante em um palco onde todos os outros parecem conhecer o roteiro da felicidade.
Além disso, as festas de fim de ano despertam, para muitos, a dor da ausência. A cadeira vazia à mesa, o silêncio ensurdecedor na sala, a lembrança vívida de um abraço que já não pode ser dado, tudo reaviva a saudade e a tristeza da perda. Nesses momentos, a atmosfera festiva se torna um lembrete cruel da fragilidade da vida e da finitude dos laços afetivos.
É essencial reconhecer que a tristeza faz parte da experiência humana, e que permitir-se sentir essa dor, sem julgamentos ou repressões, é fundamental para a saúde mental e emocional. Negar os sentimentos negativos, buscando camuflá-los sob uma máscara de alegria artificial, apenas intensifica o sofrimento interno.
Se a melancolia se apresentar como uma sombra persistente durante as festividades, é importante buscar apoio. Compartilhar os sentimentos com amigos e familiares, procurar ajuda profissional com psicólogos ou terapeutas, dedicar-se a atividades prazerosas que proporcionem conforto e bem-estar, são atitudes que podem auxiliar na travessia desse período.
O ano novo, em sua essência, é apenas um marco no calendário. A jornada individual de cada um, com seus ciclos de alegrias e tristezas, continua. A verdadeira sabedoria reside em acolher todas as nuances da experiência humana, permitindo-se viver cada fase com autenticidade, respeitando o próprio ritmo e buscando o bem-estar integral.
Lembre-se: você não está sozinho. É possível encontrar beleza e significado em cada fase da vida, mesmo em meio aos desafios e à dor. Buscar ajuda e apoio é um ato de coragem e autocuidado. Que o novo ano seja um convite à autenticidade, à gentileza consigo mesmo e à construção de uma felicidade genuína, que acolhe tanto os sorrisos quanto as lágrimas.
*Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.