Há uma frase que diz: vá como for possível, mas vá, siga adiante. Ou seja, corra atrás dos seus sonhos e objetivos mediante a conformação torta e imperfeita de tudo.
17-01-2025 às 08h07
Daniela Rodrigues Machado Vilela *
A vida é um teatro, onde se entra e sai de cena. Viver é atuar num cenário onde nada se faz no plano do ideal, reto, livre de arestas. Tudo é pontiagudo e durante a existência, cada um, tenta a seu modo, afinar a si mesmo, o próprio instrumento, sua mente, seu corpo. Tudo é imperfeito, distante do que se espera. É possível fantasiar, fugir da realidade, contar versões dos fatos. Porém, lidar com as imperfeições, aprender com as vivências e circunstâncias adversas, são traços de sabedoria.
Desta feita, deve o homem “saber guardar as coisas em caixinhas” e encontrar um lugar de estabilidade dentro do caos diário. A vida, segue seu fluxo, não carregue peso demais. Caminhe. Há uma cadeia de acontecimentos que pressupõem: plantios e colheitas. A vida segue seu fluxo de causas e efeitos. Não se pode trafegar contra a corrente. Se posicione, mas não carregue sombras vida afora. Não adianta brigar com o universo.
O homem busca transformar, bem conduzir as circunstâncias de sua vida. O grande campo de batalha é o cotidiano e seus desafios. Todos estão enraizados na sua realidade, na certeza da finitude: nascimento, crescimento e morte, não há como resistir à ordem da natureza. A existência é frágil, fugaz e se faz num determinado quadrante histórico mediante suas circunstâncias. O único momento de ação é o presente.
Viver é estar submetido a uma explosão de acontecimentos. Tem quem diga que os ignorantes são mais felizes, porque se iludem, percebem a realidade, talvez, com menor lucidez e objetividade.
Para os indivíduos, os sonhos que envolvem realizações materiais também são de difícil concretização, porque pressupõem dedicação. Não obstante, o tempo de vida de todos, indistintamente, é contado no relógio.
A vida não é só o que lhe acontece, mas o que você faz com isto que lhe sucedeu.
Como processa, digere e prossegue. Apesar do ocorrido, que destino você permite-se.
Em fim de novela tudo se fecha, na realidade, não costuma ser assim. As coisas são tortas, imperfeitas. Têm luz e sombra. A grande questão é: como viver o melhor possível mediante os recursos disponíveis? Não se consegue, por mais que se tente, atuar no outro, apenas em nós mesmos. O outro pode ouvir um conselho, participar de uma conversa, mas cabe somente a ele levar para a própria vida aquela experiência ou não.
Sábio é quem é feliz mediante as circunstâncias adversas e incontornáveis de sua existência.
Apesar da própria história e dos desafios desta, é tarefa de cada um extrair ensinamentos dos percalços enfrentados. Cabe-nos ter leveza para suportar as intempéries, fluir com a vida. Fazer o que for possível. Hierarquizar as situações que se apresentem. Dimensionar o tamanho dos problemas.
Muitas pessoas que cruzam o nosso caminho são insanas, egoístas. O mundo é caótico mesmo. Paciência! Não carregue cadáveres demais. Não deu certo, feche.
Surgiram outras pessoas e oportunidades. Tudo tem seu tempo. Aprenda a conviver com as próprias imperfeições e as do seu semelhante.
Há uma frase que diz: vá como for possível, mas vá, siga adiante. Ou seja, corra atrás dos seus sonhos e objetivos mediante a conformação torta e imperfeita de tudo. Tenha seu planejamento, o sonho e a realidade. Cerceando tudo isto, estão as possibilidades.
Como concretizar os projetos?
Para que consigamos realizar sonhos e objetivos temos de conformá-los de modo que possam ser realizados no tempo e no espaço. Não há imediatismos. Tudo leva tempo.
A trajetória de vida de cada um se faz pela transformação possível da realidade.
A vida apresenta os acontecimentos e cabe a cada um conviver com o que se apresenta: “transformar os limões em limonadas”, como diz o ditado popular. Modelar e produzir sonhos, para afetar, como for possível o presente. Desta feita, tentar estabelecer chances para um futuro melhor.
Talvez, uma atitude salutar, seja não ceder a pressões a qualquer custo para ser feliz.
Na vida nada se mantém indefinidamente, nem a dor, tampouco, a alegria. Por isto, é tão vital fazer um pacto com o que faz bem. A satisfação não é algo de alcance direto, que nos conceda certeza de felicidade, prazer constante e imediato. Permita-se estar bem. Cultive sua saúde e boas companhias. Alegre-se. Tudo é passageiro, fugaz.
Ter muitas expectativas, reverbera em decepções. Agradar de modo amplo é uma expectativa pouco crível de ser alcançada.
Ao longo da vida, estude, lute, batalhe para melhorar a qualidade das suas dúvidas e se aperfeiçoar.
Pondere, em quais guerras pretende lutar. Não dá para entrar de cabeça em tudo.
Avalie vantagens e desvantagens de uma decisão.
Tenha uma dose a mais de paciência e sabedoria. Busque identificar situações de abuso. Antecipe o final de “amizades” tóxicas e aproveitadoras. Afaste-se. Tem gente que definitivamente não vale a pena.
Esteja o quanto puder no controle de si próprio. Avalie os riscos do que se propõe.
Calcule e maximize os próprios interesses. Não passe por cima de tudo, nem de ninguém.
Existem pessoas más. Nem tudo vale a pena. Pondere. Não se rebaixe ao ponto da torpeza.
A vida não é “bonitinha”, tampouco, “perfeitinha” com tudo modelado, cada peça encaixando na outra como um quebra cabeça. Na prática diária, tudo é torto, imperfeito, dificultoso. Não existem arquétipos perfeitos. As pessoas não são mercadorias compradas num mercado que você escolhe esta ou aquela característica. São pacotes completos, você convive com um combo de atributos, que são: fruto da própria genética, da condição econômica e seu modo de ver e perceber o mundo.
Portanto, trafegue, lide com sua bricolagem de contingências, fragmentos, derrotas e vitórias. A boniteza da vida são as possibilidades e seu potencial transformador.
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, realiza estudos Pós-doutorais pela também UFMG, com financiamento público da Fapemig. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Colunista do Jornal Diário de Minas.