
Para a Copa do Mundo Trump tem ideias arrojadas. CRÉDITOS: Divulgação
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01-04-2025 às 09h14
Caio Brandão*
A insônia de Trump sempre foi recorrente, com madrugadas imersas em vigílias intensas e povoadas de números, percentagens, estatísticas e o sussurro incômodo de Ivana, sua primeira mulher, que ficou no passado.
Donald tem visões realistas de notas de cem dólares, com a sua estampa sisuda impressa no centro das cédulas, mas sem a longa cabeleira de Benjamim Franklin.
Trump se enxerga no Ben – apelido das notas de cem – com o topete loiro, de fios escassos e engomados a cobrir-lhe os olhos e a aparentar personagem calculista e astuto, e com os lábios formando bico semelhante ao do ministro Gilmar Mendes, do STF.
O telefone, no “criado mudo”, tocou às cinco horas. Era um assessor para assuntos futebolísticos e veterano da guerra do Afeganistão, com perguntas sobre a Copa do Mundo de 2026. Trump resumiu a conversa insistindo na mudança do nome do Estádio Azteca, o “Coloso de Santa Úrsula” na cidade do México, onde será realizado o jogo de abertura da Copa, porque teima em rebatizar o estádio como “Lovely Melania”, primeira-dama dos Estados Unidos da América e não aceita discussões.
Madame Melania é discreta, mesmo sendo vaidosa e dispensa holofotes. Sorte de Trump, porque na direção dela, Donald veria desviado o foco das atenções, ofuscando o brilho do qual Trump julga ser o titular absoluto no solo americano, mesmo concorrendo com “X Æ A-12 Musk,” o garoto de quatro anos, filho de Elon Musk com a cantora canadense Grimes, que costuma roubar a cena, em eventos oficiais.
O nome complicado do menino, tem a ver com o X da empresa do pai, uma letra da ortografia élfica, e o número 12, que está relacionado com uma das aeronaves de Elon Musk. Nome estranho, capaz de arrebatar a calma de locutor de aeroporto, quando da urgência de algum aviso ou chamado à sala vip.
Trump disfarça, mas se aborrece com a concorrência que sofre na mídia, enfrentando a beleza de Melania, a crueza das falas do guri de nome alienígena, sempre presente em solenidades – mesmo sem ser convidado – e a popularidade do homem mais rico do mundo, que faz foguete pousar de marcha à ré e fabrica carros que não usam gasolina e não fazem barulho.
Não obstante, Trump se safa, porque mesmo contrariado evita antidepressivos e apenas gira o seu globo com “mapa-mundi” impresso em oito cores, e aleatoriamente aponta o dedo indicador sobre um país qualquer, para penalizá-lo com o aumento de taxas e impostos de importação.
O gesto é pequena maldade que lhe fortalece o ego, acalma o mau-humor e alivia suas tensões, além de propiciar entrevista coletiva no Salão Oval da Casa Branca, para alegar proteção ao povo americano contra a exploração orquestrada e injusta imposta por países estrangeiros oportunistas, dentre eles o Brasil.
Para a Copa do Mundo Trump tem ideias arrojadas. Não vai permitir no “Estádio Lovely Melania” – Azteca – o ingresso de crianças com idade inferior a sete anos. Assim, livra-se do garoto impertinente, que insiste em falar ao vivo, na televisão, que “o rei está nu”.
Melania será compelida a usar sobre a cabeça, na abertura da Copa, um sombrero – chapéu típico mexicano -, de abas bem largas e copa alta, para não ser reconhecida e premiada pelos fotógrafos.
Elon Musk não poderá comparecer, porque estará em missão oficial, representando o presidente dos Estados Unidos, perante o rei do Butão, na Ásia, o monarca Jigme Khesar Namgyel Wangchuck. Musk poderá levar X Æ A-12, o garoto prodígio, que com o rei Jigme trocará cartões de visita, com nomes esquisitos e impronunciáveis, coisas de gente importante, que levita acima dos cidadãos comuns.
Trump gosta de números, mas Musk exagera; ele só pensa nisso e extrapola. Assim, a visita de Musk ao Butão será didática, porque o país adota política de Felicidade Interna Bruta –FIB-, onde a alegria e a felicidade das pessoas prevalecem sobre o crescimento econômico.
Para Musk uma piada de mau gosto, visto que além de obrigado, por exigência do protocolo, a vestir o” Gho” – traje nacional do Butão -, não terá para quem vender os seus projetos futuristas. Por acréscimo, ficará submetido a pausas para meditação e a obrigação, também protocolar, de visitar inúmeros templos e mosteiros, em meio ao festival “Tshechu”, celebração religiosa mesclada de danças mascaradas, rituais e ensinamentos budistas. Para ele, uma chatice, mas osso do ofício.
O show de abertura da Copa trará dificuldades para Donald. Trump será obrigado a fazer novas concessões sobre tarifas e impostos agressivos, a que submeteu o México, por dois motivos: a mudança do nome do Estádio Azteca e a exclusão da orquestra de mariachi da solenidade de abertura da Copa. A programação previa, no centro do estádio, Trump entoando “La Cucaracha” – “A Barata”, em português – mas Donald não concordou com a primeira estrofe da letra, que terminava com dois versos polêmicos:
- “´Porque no tiene, porque le falta, marihuana que fumar”.
“Ora, pensou Trump, “eu cantando, no meio do estádio, a falta de maconha para fumar”, não vai dar certo. O Putin é capaz de urinar no fraldão geriátrico de tanto rir, e o meu prestígio ficará abalado”.
– “Pior, no mínimo terei que comparecer à Câmara dos Representantes, no Congresso, para dar explicações sobre baratas e maconha.”
– “Vou dar um chega pra lá na orquestra mariachi e pedir ao Joesley Batista, da JBS, a cortesia de um churrasco, para acalmar a moçada. Vai dar certo, o Brasil me deve favores e o ex-presidente Bolsonaro me presta continência”.
Mas, o estádio” Lovely Melania” – Azteca -, é o menor dos problemas, porque os mexicanos são gentis no trato com pessoas e a conversa será amena e permeada de “molletes”, delicioso sanduiche coberto de feijão e queijo derretido. A dificuldade maior, segundo Trump, está nos canadenses, que ele reputa “metidos a aristocratas, que ora falam inglês, ora francês, dependendo da conveniência”.
O ex-primeiro-ministro Trudeau quer dar na bola o chute inicial, no Estádio BMO Field, localizado em Toronto, na partida inaugural do primeiro dos sete jogos programados, mas Trump não aceita.
Donald, que pretende chegar ao estádio de braços dados com Beyoncé e cantando “Single Ladies”, quer ser o chutador oficial de todas as partidas, e mandou fazer, sob medida, chuteira folheada a ouro, com a inscrição “Super Trump”.
Trudeau que vá chutar o traseiro do Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador do Canadá, que faz oposição ao ex-primeiro-ministro. Ademais, confidenciou Trump a assessores confiáveis, que está disposto a chamar o menino alienígena X Æ A-12, filho do Musk, para impor a exigência. O garoto fenômeno deve conseguir, porque também domina, além de oito idiomas mais conhecidos, o dialeto Languedociano, derivado da língua occitana, falado no interior da França, no lugarejo onde habitam parentes próximos de Trudeau, que deve se sensibilizar.
Contudo, disse Trump, se o pestinha fracassar, mando transformar o Estádio BMO Field em caixa d’água, transfiro os sete jogos nele previstos para Los Angeles e New York e declaro, desde já, os Estados Unidos campeão da Copa do Mundo de 2026.
* Caio Brandão é jornalista Contato: caio.brandao@uol.com.br