
Seja a paz que, mesmo sem destreza, sempre procurou. CRÉDITOS: Divulgação
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31-03-2025 às 09h25
Rodrigo Vilaça*
Extasiante, o malabarismo que fazia com as palavras. Estavam sempre prontas, desnudas. Alguns quase alcançavam o que de fato queriam dizer.
Com o tempo, foi parando de usá-las, e, atentos, esperávamos, letra a letra, uma frase completa para nosso regozijo. Acabou entregando ao olhar a missão de dizer o que a caneta e a boca não falavam mais. Ficávamos nós, tentando compreender o que contavam, mas era impossível decifrar, diante de tamanho repertório. De novo, chegava fácil a saudade.
Sagaz, viu o mundo inteiro porque sua mente não teve fronteiras. Nunca duvidou de sua imponência, e foi a cabeceira em todas as mesas em que sentou. Sentou em todas.
Sua Recife, o Brasil, a Academia Brasileira de Letras, o mundo — perdem originalidade, ousadia e, em alguma medida, desfaçatez. Perdem brilho.
Viveu amplamente, usufruiu e também pagou o preço de sua insubordinação pernambucana.
Contemple agora o silêncio bem-vindo e encontre os seus, apartados de você prematuramente. D. Evalda, Professor Vilaça, Maria do Carmo, Tom e Vitória passam a aproveitar de sua presença mais viva. Na matula, seu bolo de rolo. Enfim, o sossego.
Seja a paz que, mesmo sem destreza, sempre procurou.
Você é amado.
* Rodrigo Vilaça, filho de Marcos Vilaça