Contribuindo para a mixórdia social completa, mas de ocupação, o rei e “otoridades”, muito sacanas, desocupavam suas prisões e se desfaziam de incapazes desafetos, mandando-os para cá.
29-12-2024 às 09h19
José Altino Machado*
Fomos descobertos por portugueses.
Isso todo mundo já sabe, embora alguns, como eu, entendam não termos sido descobertos e sim achados e, logo após, a sermos inseminados. Por isso, o complicador é o que se seguiu. Bem depois!
Portugal, um país pequeno e de pouca gente, com navegadores exímios, já donos dos famosos portulanos (cartas costeiras, as únicas existentes), já ia bem longe, ao ensejo do comércio. Nunca tentaram conquistar ou tomar o que era dos outros.
Os próprios “piratas” ingleses, que acabaram por formar o império britânico, onde, diziam, nunca o sol se punha, só assim o fizeram após assaltar um navio patrício, roubando dele a maparia, pois praticamente um século antes os portugueses já estavam na Índia, China, Japão e muitos outros lugares mares afora.
Os Manuéis, Joaquins e Joães acompanhados dos Sebastiãos, se fizeram pacificamente (há exceções) em todos os lugares com sua corretagem.
Alcançadas as terras do pau-brasil, obtiveram sua maior glória e riqueza, culminando evidentemente num problemão, por haver criado junto os brasileiros. Ah, se soubessem!!!
Eles, em seu próprio solo não possuindo gente suficiente, principalmente especial, de confiança e capacidade para ocupar e garantir a posse do gigante adormecido, precisavam fazê-lo logo, senão perderiam a boa presa. Muita terra para pouco português.
Muitas outras dificuldades, dentre elas… mulheres. As mulheres, ou melhor, as senhoras portuguesas não se dispunham a se transferir para a nova terra da “gente boa”. Rejeitavam a aventura, começando por condenar as naus, que não tinham banheiros, privadas e nem bidês, que os franceses, pouco chegados à limpeza pessoal, ainda não haviam criado. Por isso inventaram os perfumes.
Os homens também, sendo inexistente a latrina, ficavam todos no uso do penico, já se podendo imaginar o constrangimento de estarem sempre a jogar merdas ao mar.
Esse grande e não observado entrave traria consequências ao futuro, afinal, não só para a vida. Logo após a parição, as mães, abandonadas, tornavam-se mentoras de berço e educação, assumiam, praticamente, toda a responsabilidade dos novos entes que surgiram.
Do lado paterno, os homens que iam e viam, não eram lá grandes coisas. Cabendo a eles somente empurrar a cria no ventre materno e tocar em frente após o coito.
Contribuindo para a mixórdia social completa, mas de ocupação, o rei e “otoridades”, muito sacanas, desocupavam suas prisões e se desfaziam de incapazes desafetos, mandando-os para cá.
Degredados vieram às pencas, fora bandido e muitos outros criminosos e vagabundos. Para o controle, arranjaram, até com boa ideia, as capitanias hereditárias, porém, seus governantes eram sempre do baixo clero aristocrático e não muito benquistos na Corte, vez que já portavam o vírus da corrupção, inicialmente incubados logo ali na Fortaleza de São José, em Macapá, e com o qual haveriam de contaminar a brasileirada seguinte para o resto dos tempos.
De qualquer forma, com exceções de caráter privativos dos grandes navegadores, aventureiros, marujos e tantos líderes, foram eles, segregados, que povoaram nossa “terrona” e a conquistaram. Quando nas artes da conduta sexual, transavam com tudo que encontravam pela frente, pois, já que as senhoras não vinham ceder por amor, traçavam índias e escravas, com ou sem a vontade delas.
Aliás, era questão política de Estado que, com escravos machos, viessem as tantas fêmeas.
O resultado foi uma espantosa criação e parição de bastardos miscigenados, sem pais, que ficavam, não aos cuidados, apenas ao lado das mães, em maioria das vezes de forma involuntária, longe de qualquer estrutura familiar socialmente disciplinada.
Sem maiores preocupações a se ter boa base de educação e instrução familiar, não constituímos uma tradição e por isso não angariamos respeito.
Somos todos frutos de uma inconsequente excitação de portugueses, mais animada e instituída por um “tal” de Marquês de Pombal, administrador feroz e inteligente mandatário, que veio a pagar por casamentos com índios, para garantir com mestiços de portugueses a posse da terra. Tendo montado na Amazônia uma operosa fábrica de gente.
Exemplo histórico, o de um padre baiano, soteropolitano, polígamo que teve 35 mulheres e 72 filhos. Na justiça comum da colônia fora condenado. No recurso ao “STF” da Côrte real, perdoado. Decisão, reprodutor necessário ao lugar, despachado de volta a rezar seu catecismo…
Assim, passou a existir, toda uma base familiar, construída sem amor ou respeito, violentando sempre os princípios maternos para a educação. Com o grave resultado da geminação dos sentimentos de preconceitos.
Tempos passados, acredito e tenho a impressão de que os lusitanos custaram a se livrar de nós, ao perceberem o desastre gerado, e a enorme dificuldade em nos administrar, pela falta de educação em comunidade voltada ao interesse coletivo, agravada pela dita corrupção endêmica transmitida continuadamente às novas gerações.
Pelo lado bom, herdarmos dos portugueses o benefício da pacífica paciência, incapazes que somos de manter ódios extremados pouco fraternos. Porém, lamentavelmente esse dom tem se transformado em leviana indolência, ao não reagirmos ao costumeiro assalto instituído no País à coisa pública.
Com ressalvas, não temos representantes em cargos, mas sim teimosas e verdadeiras “cachoeiras” de súcias, produzindo saques continuados em nossos valores, inclusive os morais.
Nestes tempos modernos, amedrontados e “acostumados” à permissividade, temos admitido o abuso do poder e ainda chamando a administração, estabelecida por armas e juízes de supremo, de política.
Temos ridicularizado valores estabelecidos no passado por ancestrais diferenciados e damos a isso o nome de obsoleto, quadrado e antigo. Temos contaminado os meios de comunicação com grosserias e pornografia, chamando-as de liberdade de expressão”.
Cuide-nos, Senhor, produtos de origem que somos, de uma negativa feminina e necessária sacanagem dos portugueses com membros eretos no Brasil!
Belo Horizonte/Macapá
*José Altino Machado é jornalista
Nota: A falta da criação, em educativas bases familiares, fez com que não se estabelecessem prioridades a interesses coletivos e públicos, abalando o conceito de nação.