Eis um olhar crítico sobre a educação na América Latina. A universalização da educação primária, um sonho distante para muitos, tornou-se realidade em grande parte da região
12-11-2024 às 09h:37
Raphael Silva Rodrigues*
A educação, pilar fundamental para o desenvolvimento social e motor impulsionador da igualdade, se encontra em uma encruzilhada na América Latina. Se por um lado a região testemunhou avanços consideráveis nas últimas décadas, como a ampliação do acesso à educação básica e a redução do analfabetismo, por outro, ainda se debate com desafios estruturais e desigualdades persistentes que obscurecem o horizonte educacional.
É inegável que a América Latina conquistou importantes vitórias no acesso à educação. A universalização da educação primária, antes um sonho distante para muitos, tornou-se realidade em grande parte da região. No entanto, essa vitória quantitativa não se traduziu em uma vitória qualitativa. A sombra da desigualdade ainda paira sobre os sistemas educacionais, impactando diretamente a qualidade da educação oferecida aos diferentes estratos sociais.
Enquanto as elites desfrutam de escolas privadas com infraestrutura de ponta, as classes populares se veem relegadas a um sistema público com deficiências crônicas. A falta de investimento se manifesta na precariedade de muitas escolas, na escassez de materiais didáticos adequados e na baixa remuneração dos docentes, desmotivando a busca pela carreira do magistério e perpetuando um ciclo vicioso.
Essa disparidade se reflete nos resultados. Os sistemas de avaliação, embora questionáveis em sua capacidade de mensurar a totalidade da aprendizagem, apontam para um desempenho aquém do ideal em áreas cruciais como leitura, matemática e ciências. A ênfase em modelos tradicionais de ensino, baseados na memorização e na repetição, contribui para a formação de indivíduos pouco preparados para os desafios de um mundo cada vez mais complexo e em constante transformação.
A desigualdade na educação na América Latina também se manifesta em outras dimensões. Alunos indígenas, afrodescendentes e de zonas rurais enfrentam barreiras adicionais para acessar uma educação de qualidade. A falta de materiais em suas línguas maternas, a discriminação e a dificuldade de acesso às escolas contribuem para a exclusão e a perpetuação de ciclos de pobreza e marginalização.
É preciso reconhecer, no entanto, que nem tudo são sombras no panorama educacional latino-americano. Diversos países têm implementado iniciativas inovadoras com resultados promissores. Programas de incentivo à leitura, a utilização de tecnologias na educação, a busca por uma gestão escolar mais democrática e a valorização da formação continuada de docentes representam luzes nesse cenário. A título ilustrativo:
(i) Colômbia: Foco na Primeira Infância e Inclusão Digital;
(ii) Chile: Reforma Curricular e Valorização Docente;
(iii) Uruguai: Plano Ceibal e Educação Integral;
(iv) Equador: Investimento em Infraestrutura e Formação Docente;
(v) Brasil: Programa Educação Integral e Inovações Tecnológicas.
A construção de sistemas educacionais mais justos e igualitários na América Latina exige um compromisso político e social inabalável. É preciso superar a lógica da escassez e investir massivamente em educação, garantindo que todos os alunos, independentemente de sua origem social, gênero, etnia ou local de residência, tenham acesso a uma educação pública, gratuita e de qualidade. Seria utopia?
A educação na América Latina encontra-se em um momento crucial. É hora de romper com os legados de desigualdade e construir um futuro no qual a educação seja, de fato, um instrumento de transformação social, permitindo que cada indivíduo desenvolva plenamente seu potencial e contribua para a construção de sociedades mais justas, prósperas e democráticas.
*Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.