
Davi Alcolumbre, presidente do Senado se encontra com Lula para reivindicar Pacheco para vaga do STF - créditos: divulgação
22-10-2025 às 09h46
Samuel Arruda*
Após reunião reservada com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, na noite de segunda‑feira (20 /10/2025), o presidente Lula decidiu adiar o anúncio da sua escolha para a vaga aberta no STF até o seu retorno de viagem à Ásia — marcada para o dia 28 de outubro. A indefinição, embora já aguardada, mantem em evidência a disputa de bastidores entre os nomes cotados e evidencia cuidados políticos do Planalto.
O ministro Luís Roberto Barroso se aposentou, abrindo uma vaga no STF. Estão em análise vários nomes, entre os mais comentados:
Jorge Messias (Advogado‑Geral da União) — favorito segundo o Planalto;
Rodrigo Pacheco (senador, ex‑presidente do Senado) — apoiado por Alcolumbre;
Também citado: Bruno Dantas ( ministro do TCU );
Alcolumbre formalmente se encontrou com Lula para pleitear o nome de Pacheco. Apesar disso, Lula continua inclinado pelo nome de Messias.
Por que o adiamento? os principais fatores que ajudam a explicar o adiar da indicação — há interseções entre política, simbólico/institucional, aritmética no Senado e timing internacional.
A relação com o Senado é estratégica para a governabilidade, sem contar valor político e eleitoral para o presidente Lula. Alcolumbre, como presidente da instituição, exerce poder institucional relevante: ele coordena agenda, votações e tem influência sobre sabatina de ministros. A insatisfação ou resistência da Casa podem atrapalhar uma indicação.
Segundo apuração, Alcolumbre tem levantamento interno que indica “mais de 60 votos” a favor de Pacheco na Casa, o que tornaria seu nome atrativo como “escolha segura” para o Planalto.
Mesmo desejando indicar Messias, Lula decidiu conversar pessoalmente com Pacheco antes de formalizar o anúncio — gesto para evitar desgaste ou retrato de Centralização em torno de um único nome, além da resposta de Alcolumbre. Ou seja: o atraso permite negociar, acomodar resistências, preservar a coalizão e evitar uma derrota simbólica no Senado.
Pacheco é visto por Lula como nome que pode concorrer ao governo de Minas Gerais em 2026 — importante para o PT. Se for indicado para o STF agora, isso o tiraria do “jogo eleitoral” para Minas, o que poderia contrariar o plano eleitoral do governo. Lula pondera esse impacto. Logo, adiar permite que o governo avalie melhor i jogo eleitoral para 2026 sem “queimar” Pacheco ou gerar ambiguidade entre indicação e eleição estadual.
Embora o Senado raramente reprove indicação para STF, resistências existem. O nome de Messias, embora favorito, enfrenta obstáculos — algumas alas acreditam que ele representa demasiada proximidade com o PT. Um anúncio impulsivo antes da viagem poderia expor o governo a desgaste, tanto interno (dentro da base aliada) quanto externo (na imprensa, oposição).O atraso dá tempo para “pré‑construção” da aceitação, sondagem de bancada, articulação entre Planalto e Congresso.
Lula embarcou para a Ásia depois da reunião. Fazer o anúncio antes da viagem significaria que o governo sairia com o processo completamente movido. Ao adiar para o retorno, marca‑se que a escolha “ficará pronta” — reduz pressão durante a viagem e permite o anúncio com melhor aparato político. Além disso, esse tipo de timing mostra cautela institucional — ao voltar, o anúncio pode “marcar” nova fase, com a decisão já tomada, sem atropelos.
Se Lula mantiver Messias, Alcolumbre poderá buscar cobrar contrapartidas — seja em pautas legislativas, distribuição de cargos, ou apoio à base do governo.Se eventualmente optar por Pacheco, o governo estaria fazendo uma concessão política significativa ao Legislativo (Senado), o que pode reforçar articulação, mas poderá gerar desconforto partidário na base. O anúncio tardio mantém incerteza no mercado político‑institucional, o que pode gerar especulações, pressão da mídia e da oposição e a forma como será conduzida a sabatina no Senado será relevante e se houver resistência, o governo pode sofrer desgaste. Portanto, um nome com “amplo apoio” (como Pacheco aparenta ter) reduz esse risco.
Em termos de mensagem para a sociedade: o adiamento pode ser visto como prudência — ou como hesitação indevida. A narrativa que o Planalto adotar será importante.
O adiamento da indicação para o STF por parte do presidente Lula, mesmo após a reunião com Davi Alcolumbre, não se explica por um único motivo, mas por uma convergência de fatores: articulação institucional no Senado, cuidado eleitoral com Minas Gerais, avaliação de riscos de sabatina, e o timing propício da viagem internacional. O gesto de pospor a decisão revela o quanto o processo de indicação — geralmente restrito ao palco “Torre de Marfim” — tornou‑se central no xadrez político‑partidário brasileiro.
O governo optou por “ganhar tempo”, o que pode significar planejamento estratégico, mas também exige que o anúncio seja bem conduzido para evitar que o atraso seja interpretado como fraqueza ou indecisão. Faltará ao Planalto transformar este tempo em articulação eficaz e coesão de base, para que a escolha venha com estabilidade institucional e política.
*Samuel Arruda é jornalista articulista