Naquele momento não havia por perto nada para eu usar e movimentar a água. Então ousei enfiar o braço dentro d’água e a sacudi com a mão
11-01-2025 às 08h30
Bento Batista*
Não sei se sonho ou visão, mas vi um lago de proporções razoáveis, em um lugar não identificado, dotado de poder simbólico, místico.
A água ali parada, semelhante a um espelho, refletia a abóbada celeste.
Não ventava e por isso a água nem tremulava.
Foi quando eu ouvi uma voz de homem a me dizer:
- Movimenta a água.
Eu olhei para os lados, não vi ninguém.
Naquele momento não havia por perto nada para eu usar e movimentar a água. Então ousei enfiar o braço dentro d’água e a sacudi com a mão.
E a água do lago criou ondas em série e elas se foram juntando umas às outras e quanto mais se misturavam mais força e poder ganhavam.
Eu via aquilo e ficava pensando no retorno da onda maior e pelo que via no movimento da água do lago, poderia vir com a força de um tsunami.
Fiquei apreensivo e tomei aquilo como um alerta.
Foi quando a mesma voz me disse: - Exercita a paciência. Rima com ciência e consciência. Alguém terá de debulhar o milho.
E de repente surgiu em cena uma grande espiga. Duas mãos iluminadas por um foco de luz pegaram-na e devagar começaram a debulhar a espiga, sem saber o porquê, nem para quê, mas atendendo ao pedido da voz.
À medida da queda de algum grão no chão, ele se transformava em algo parecido com pipoca recheada de uns bichinhos identificados como sendo ‘suriv’, que depois pude perceber ser a palavra vírus de trás para a frente.
Isto feito, a voz retumbou feito badalo no sino, dizendo: - Vai chover, proteja-se.
Mas eu não tinha como me proteger, pois estava a céu aberto. Como por encanto, surgiu diante de mim uma sombrinha de praia e logo a abri e debaixo dela me protegi da chuva.
Os pingos se transformaram em granizo e logo começaram a cair também peixes de todos os tamanhos e espécies.
A sombrinha de praia resistia.
O acontecimento, por meio da leitura simbólica seria o anúncio de algum desequilíbrio ecológico.
Outra vez a voz misteriosa veio e disse: - Proteja-se contra os ventos.
E logo surgiu à minha frente uma barraca.
Os ventos sopraram e não derrubaram o meu abrigo.
Mas pude ver, de modo anuviado, as consequências da ventania, cenas de partir o coração.
Confesso o meu estupor diante do que vivia, sem saber se era visão ou sonho.
Sei que desvaneceu de um momento para o outro e eu me vi sentado diante do computador a deslizar os dedos sobre as teclas, a escrever este texto.
Até agora não sei se o conteúdo é fruto de um sonho premonitório ou de uma visão antecipada de algo que irá acontecer. Ou não. Nada disso.
Estou em um “diadema retrós”, quer dizer, em um dilema atroz.
*Jornalista e escritor