
Livro de Darcy Ribeiro - créditos: divulgação
22-10-2025 ás 08h32
Alberto Sena (*)
Quando fiz mais um janeiro, recentemente, os amigos Tito Guimarães e Paulo Roberto Cardoso me disseram que na casa daquele havia “um presente” para mim, que eu ia gostar muito. Era para nos encontrarmos no apartamento de Tito e então receberia o presente que os dois se recusavam a adiantar o que era para não “perder a graça”, mas asseguravam “você vai gostar muito”.
Claro, eu podia imaginar mil coisas, mas a ideia de que podia ser um livro predominava. Entretanto, como as nossas agendas não combinavam, esse tal encontro demorou mais do que era necessário esperar. Enfim, por esses dias nos encontramos e “o presente” se fez presente: um livro. E por sinal “um senhor livro”, de 627 páginas, intitulado “Diários Índios – Os Urubus – Kaapor”, de Darcy Ribeiro.
De fato, gostei muito. No pouco que já li observo, este primoroso trabalho é de um jovem repórter, um tipo atento a tudo que se passa consigo mesmo e ao redor de si. Um repórter escritor que anota tudo e parece ir mais fundo na leitura dos acontecimentos do que se possa imaginar um de nós pobres mortais.
Uma das curiosidades relacionadas com este precioso livro é que – vamos por partes, como diria o estripador londrino, Jack – eu e ele somos montes-clarinos e Darcy iniciou este notável desafio de vivenciar dez anos com os índios justamente no ano de 1949, quando o “degas” aqui nascia quando a Santa Casa de Montes Claros era de “Misericórdia”.
Enquanto eu ainda estava em fraldas, Darcy iniciava a sua notável experiência científica como antropólogo de vivência com os índios Urubus-Kaapor. Uma mistura de repórter e escritor, um jovem que parecia ter visão de 360 graus de modo a enxergar tudo e de uma capacidade sensorial que lhe dava condição até de entrar no interior das pessoas e bisbilhotar seus pensamentos.
Estou me deliciando lendo o livro e os leitores meus podem contar, este é o primeiro dos textos relacionados com o livro “Diários Índios”, de Darcy. Volta e meia, a cada evolução na leitura do livro irei falar a respeito desta obra que, imagino, seja única sobre esse nosso povo cuja formação foi forjada em um caldeirão étnico, a partir de 500 anos atrás, e neste anos de 2025 já se mostra como uma civilização nova que o próprio Darcy vislumbrou como sendo a “Nova Roma”.
Quem tem olhos de ver já vai identificando os sinais da “Nova Roma” em meio aos acontecimentos registrados a cada dia no Brasil em todas as áreas do conhecimento humano. Lendo Darcy a gente pode ir conhecendo mais a respeito dele, um brasileiro nascido no Norte de Minas, em busca de nossas raízes e brasilidade.
(*) Alberto Sena é jornalista e escritor autor dos livros “Nos Pirineus da Alma”, sobre o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha; “Retrato de Nós Mesmos”, memórias de Montes Claros; e “Darcy Ribeiro do Fazimento”, com quem convivi como assessor de imprensa; livros que podem ser enviados aos interessados pelos correios.