Os moradores de Suzana e Campinho, comunidades rurais em Brumadinho, a 55 quilômetros de Belo Horizonte, estão sem água desde 2015, quando a indústria se instalou em Itabirito
08-12-2024 às 08h28
Direto da Redação
Sina, no dicionário da língua portuguesa significa “destino, fado, sorte”. Talvez sina explique, então, os acontecimentos registrados na belíssima e maltratada região de Brumadinho e Itabirito, na Grande Belo Horizonte, com o rompimento de barragens da toda poderosa Vale S.A., que, para tentar se desnudar do estigma dos desastres com tantas mortes e estragos ao meio ambiente, deixou de ser Companhia Vale do Rio Doce.
Trato por uma sina porque a Coca-Cola ao se instalar na região, acabou com a água de 800 famílias, segundo a reportagem de assinada por Flávia Schiochet, do projeto “O Joio e O Trigo”, que faz a denúncia.
A fabricante de refrigerantes gastou com a comunidade R$ 800 mil, e para dar a impressão de que estava fazendo alguma coisa abriu um poço doado a uma das comunidades.
A Coca Cola transforma a água pura que capta em “bebida ultraprocessada”, como descreve a repórter, que leu em um cartaz afixado na parede de um auditório da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG): “Coca-Cola não mata a sede, nem molha as plantas”. Esta foi uma das dez manifestações exibidas em faixas de protesto durante a audiência pública, em setembro
O dizer do cartaz, que tem tudo a ver com o que acontece na comunidade, município de Brumadinho, foi para questionar o resultado do termo de compromisso assinado em junho pela Coca-Cola com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
Os moradores de Suzana e Campinho, comunidades rurais em Brumadinho, a 55 quilômetros de Belo Horizonte, estão sem água desde 2015, quando a indústria se instalou em Itabirito, cidade vizinha.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) convocou uma audiência pública e constatou que o termo de compromisso não contemplava a principal reivindicação das mais de 800 famílias: “que suas nascentes voltem a verter água”.
O MPMG determinou que a Coca-Cola e a autarquia de abastecimento de água de Itabirito, SAAE, encomendassem estudos de impacto hídrico para verificar se o bombeamento de água para a fábrica interferia na vazão das nascentes que servem às comunidades.
Nove anos de investigação se passaram. Os relatórios da empresa e o da autarquia foram contestados por um geólogo da sociedade civil. Em 2022, um relatório constatou que há, sim, interferência. Foi aí que o inquérito se encaminhou para o encerramento.
O MPMG, segundo a reportagem, fez reuniões com a Coca-Cola, o SAAE de Itabirito e a Prefeitura de Brumadinho, sem envolver a comunidade na discussão de um documento chamado de “termo de compromisso”. Coube à Coca Cola, em junho de 2024, ressarcir à comunidade doando um poço e o investir R$ 800 mil em infraestrutura e projetos socioambientais.
Flávia não disse na reportagem, mas esse é um exemplo de que o verniz colonialista permanece gravado na alma de certos brasileiros que perderam a dignidade e vão aceitando tudo sem antes refletir sobre as reais intenções de quem vem de fora para explorar o que não seria permitido em países do chamado 1° mundo.