
Desfile de 7 de setembro de 2025, Distrito Federal - créditos: divulgação
07-09-2025 às 11h11
Soelson Araújo (*)
Em um momento de reafirmação simbólica e política, o Brasil parece buscar reconexão com sua própria história e com os desafios contemporâneos. A celebração do 7 de Setembro de 2025 traz à tona elementos relevantes: o resgate da memória nacional, o compromisso com pautas atuais — como meio ambiente, soberania e desenvolvimento — e a tentativa de posicionar o país em sintonia com agendas globais, como a COP30 e o novo PAC.
A visibilidade do evento e o investimento estatal demonstram, em parte, a valorização das instituições e da unidade nacional. No entanto, a comemoração também revela tensões que não podem ser ignoradas — especialmente quando se trata da alocação de recursos públicos, da transparência nas decisões e da representatividade cívica.
Oportunidade de avanço ou vitrine temporária?
Embora o Brasil dê sinais positivos de engajamento simbólico e internacional, o custo elevado da celebração (R$ 7,4 milhões) desperta questionamentos legítimos, sobretudo diante de tantas demandas sociais urgentes em diferentes regiões do país. Este é um ponto sensível, onde a simbologia pode colidir com a realidade cotidiana da população.
Além disso, o ambiente político polarizado, somado a episódios como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e disputas institucionais, cria um cenário de desconfiança. A percepção de que o discurso cívico pode ser instrumentalizado politicamente enfraquece a espontaneidade e a pluralidade que deveriam marcar eventos dessa natureza.
Contudo, nem tudo são críticas. O momento oferece uma rara oportunidade de transformação — desde que o simbolismo não seja um fim em si mesmo, mas um ponto de partida para ações práticas e inclusivas.
O Diário de Minas, com mais de 150 anos de existência — jornal que participou de diversos eventos nacionais que transformaram a vida do país —, sugere aos políticos brasileiros que aproveitem este momento histórico para lançar programas nacionais de educação cívica, voltados a escolas públicas e privadas, que aprofundem o entendimento da Independência do Brasil — não como um evento isolado, mas como um processo contínuo de luta por soberania, justiça social e democracia.
Propõe-se, ainda, a criação da Semana Nacional de Educação para a Cidadania nas Escolas, com foco em temas como história, meio ambiente, direitos humanos, participação política e educação financeira.
Precisamos conectar simbolismo com políticas públicas. As celebrações patrióticas precisam extrapolar o desfile. Que os temas de destaque — como a COP30 e o novo PAC — ganhem vida em ações reais: oficinas, seminários, debates abertos e projetos sociais nas periferias, escolas e centros comunitários. É essencial vincular os eventos cívicos a metas concretas de sustentabilidade e inclusão social, com monitoramento público dos resultados.

A transparência e a participação popular nos gastos públicos com grandes eventos devem ser garantidas. A democracia se fortalece quando o povo é ouvido — inclusive nas decisões sobre como celebrar suas datas simbólicas.
É importante que a regionalização das comemorações da Independência não se restrinja à capital federal ou aos grandes centros. A verdadeira construção da nação passa por reconhecer as contribuições regionais e locais para a história do país. Propõe-se, assim, a criação de um fundo federal para apoiar celebrações do 7 de Setembro em municípios de pequeno e médio porte, valorizando suas culturas, lutas e personagens históricos locais.
A inclusão e a representatividade nos espaços cívicos também são fundamentais. O Brasil é diverso — e isso precisa estar refletido nas tribunas, desfiles e homenagens. Grupos indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais, mulheres, jovens e minorias devem ocupar lugar de destaque em qualquer celebração cívica nacional, além da garantia de cotas de participação nos eventos oficiais, com curadoria representativa que reflita a pluralidade da sociedade brasileira.
Enfim, os símbolos devem ser pontes, não muros neste 7 de Setembro de 2025 — uma oportunidade que reaproxima os brasileiros de sua história e abre janelas para debates contemporâneos urgentes. Mas a resposta à pergunta “Estamos no rumo certo?” não está apenas nas comemorações: ela depende da nossa capacidade de transformar símbolos em ações.
Cabe aos políticos brasileiros a responsabilidade de dar continuidade a esse impulso — com coragem, escuta ativa, compromisso com a justiça social e visão de longo prazo. A hora não é apenas de celebrar o passado, mas de construir um futuro mais justo, democrático e sustentável para todos os brasileiros.
(*)Soelson Araújo é empresário, jornalista e escritor