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23-04-2025 às 09h39
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Um traço de sabedoria, consiste em respeitar as próprias características e não ser alguém destituído de uma marca. Quem vive imitando os outros se despersonifica e anula, em busca de se afirmar como alguém que não se é.
Ter uma preocupação excessiva em agradar desmedidamente o outro ou se firmar enquanto sujeito de modo invejoso é realmente pouco animador, para além, é desolador.
A verdadeira personalidade é um atributo pessoal a ser respeitado, observado e lapidado e não devem ser copiados os traços de alguém de modo desavergonhado. Cada ser humano é original e irrepetível a sua maneira. O que não impede que um indivíduo se espelhe em características de outro alguém, mas admirar é diferente de invejar ou copiar despudoradamente. Quando alguma habilidade de outrem o inspira, cabe transpor aquela habilidade para a sua seara de conhecimentos e conceder seu traço próprio.
Autenticidade é algo inerente ao ser, cada pessoa é de um jeito, ainda que haja, obviamente, características comuns entre uns e outros.
Uma pessoa, em busca de aceitação e reconhecimento pode tentar se tornar o que não é e, desta feita, buscar imitar a trajetória ou os feitos do outro, isto é diferente de evoluir e crescer, que são processos salutares. Ter as próprias emoções, respeitar-se, ter preferências, gostos, habilidades e dificuldades próprias é indispensável, ainda que se faça parte de um grupo, religião, tribo ou outra forma de adensamento coletivo.
Seres humanos não devem caber em rótulos, estes existem para mensurar e informar sobre os ingredientes contidos nos produtos, não para descrever atributos das pessoas humanas, estas são complexas, não dá para ficar procurando encaixes perfeitos ou estereótipos. A vida extravasa em possibilidades, assim como os seres.
A autoimagem molda-se por si, pelas atitudes e acontecimentos e com o que destes fazemos. É até, de certo modo, salutar observar o outro, seus talentos, mas imitar ou se tornar uma caricatura do colega ou do chefe é gesto de nenhuma grandeza ou inteligência.
Ser autêntico pressupõe: ter preferências acerca de modos de vestir, maneiras de se portar, formas de escrita, enfim, ter uma estilística que lhe seja própria, traços marcantes, consciência de si, uma identidade. Desta feita, certa originalidade nas atitudes e escolhas. Agir conforme pareça acertado, construir uma marca, ser honesto consigo, se refazer quando o que percebe de si não traz alegria ou contentamento.
Um comportamento autêntico traz benefícios, pois permite estar confiante diante dos objetivos de vida. Não se preocupe em agradar os outros, isto é pouco possível e quando se obtém êxito nesta tarefa é sempre de modo temporário e doloroso. Ninguém tem de caber na métrica do outro para satisfazê-lo.
Pessoas que imitam os outros se enfeiam interna e externamente, perdem a autenticidade e estranham-se a si mesmas.
Existem indivíduos que não desenvolvem uma estilística própria e reclamam que se sentem uma fraude.
Ter alguém como referência é até saudável, mas é preciso olhar para as pessoas que se admira e se espelhar nestas, porém, desenvolver a própria caminhada e não imitar de modo diminuto o outro.
Os indivíduos nascem com dons e sempre é tempo de descobrir no que se é bom e trabalhar nisto, porém, nada é fácil, tudo exige camadas de esforço, dedicação e persistência. Na vida, não existe caminho reto, sem dores ou arestas.
Não tentar ser uma cópia de outrem é gesto de sabedoria. O ser humano, às vezes, vê cisco nos olhos dos outros, mas não percebe a trave em seus próprios olhos.
É preferível errar, cair e ser você mesmo, do que ser uma cópia falsificada de alguém. Acreditar nos próprios propósitos de vida, lutar, trabalhar e aperfeiçoar-se continuamente, o resto é episódico.
Também a mídia e a publicidade massificam, através de anúncios publicitários com padronizações sobre gostos, aspirações e modelos a serem seguidos. O diferente é, por vezes, desvalorizado e os desejos coletivos e despersonificados, estimulados.
O comercial publicitário mostra todos felizes porque adquiriram determinado produto, mas não é bem assim, pois cada um possui gostos e necessidades particulares. Não dá para ser reducionista e simplificador em demasia.
Enfim, que singularidade, identidade e originalidade ajudem a nos tornarmos melhores, sempre. Lapide-se, não se deixe ser uma cópia fajuta de outrem que sequer se conhece em profundidade. Falta de originalidade é atraso de vida, autodesenvolva-se.
* Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Diletante na arte da pintura e da vida.