04-01-2024 às 08h18
Lorena Trindade Santos*
O papel do artista na sociedade ultrapassa os limites da expressão estética, assumindo frequentemente uma dimensão política capaz de influenciar a opinião pública e os rumos democráticos de um país. No entanto, essa interação entre arte e política suscita questões importantes sobre como tal relação pode tanto fortalecer quanto fragilizar as bases da democracia.
Artistas, ao utilizarem suas obras para expressar visões políticas ou denunciar injustiças sociais, tornam-se agentes de transformação. Um exemplo clássico é o muralismo mexicano, com artistas como Diego Rivera, que usaram a arte como ferramenta para educar as massas e promover valores revolucionários. Nesse sentido, a arte política pode contribuir para ampliar o debate público, envolvendo diversos segmentos da população em temas fundamentais para a democracia.
Contudo, a política no campo artístico não está isenta de controvérsias. Em sociedades polarizadas, a instrumentalização da arte para fins ideológicos pode aprofundar divisões, alienando grupos ou promovendo discursos excludentes. A censura também emerge como um problema, quando governos ou outros atores tentam silenciar expressões artísticas contrárias a seus interesses, comprometendo a liberdade de expressão — um dos pilares democráticos.
Outro ponto de atenção é a comercialização da arte política, que pode diluir seu impacto crítico. Quando discursos políticos são cooptados por mecanismos de mercado, há o risco de que a mensagem original seja esvaziada, reduzindo o potencial transformador da arte.
Portanto, o impacto do artista na democracia é uma via de mão dupla. Se, por um lado, o artista pode promover valores democráticos e despertar a consciência crítica, por outro, também pode ser utilizado como ferramenta de polarização ou manipulação. A relação entre arte e política exige uma reflexão constante para que o equilíbrio seja mantido, assegurando que a arte continue sendo uma forma de expressão livre e plural, capaz de fortalecer, e não fragilizar, os valores democráticos.
* Lorena Trindade Santos é mestranda em Estudos Marítimos pela Escola de Guerra Naval e especialista em Criminologia e Segurança Pública pela UFMG. Graduada em Ciências do Estado pela UFMG e em Gestão de Segurança Privada pela Universidade FUMEC.