E tanto traficaram que estão ricos e atualmente expõem o poder e mais dia menos dia o PCC poderá se tornar partido político e poderá comandar o Brasil, tamanha ousadia.
26-12-2024 às 09h21
Bento Batista*
A cada dia mais a nossa sociedade dá demonstração do quanto caminha em sentido contrário, e, aos poucos, como água escapada da torneira mal fechada, esse “modus operandi” é contraditório. E a água escorre, lentamente.
Até aqui, o leitor não entendeu, mas se continuar a leitura entenderá, como diz Caetano Veloso, naquela música, “Como 2 e 2” são 5. Ouvia a entrevista de dois juristas sobre esse decreto do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, relacionado com o uso da força policial.
Em determinado ponto, um deles revelou o que acontece na realidade, dando a entender que o errado é que está se impondo como certo. A única coisa organizada, aqui, é o crime, e segundo o cidadão da entrevista, não se ouve mais falar em rebelião em presídios porque estão dominados pelo PCC, que põe “ordem na casa”.
A facção é tão organizada, que faz aquilo que as instituições da nossa sociedade não fazem, põe ordem no ambiente. O PCC sem confronto com ninguém percebeu, o melhor é agir silenciosamente, dentro dos parâmetros da sociedade, para impor a sua ordem. Assim, os seus membros não querem polícia por perto, então, se comportam como se fossem cidadãos “honrados”, enquanto se empoderam politicamente.
De volta ao jurista, a conclusão é de que ele tem toda a razão, principalmente quanto ao quesito do fim das rebeliões. Impondo a sua ordem, eles fazem dentro das penitenciárias o que querem. E fora também.
Aqui, em Belo Horizonte, tudo começou na década de 1970/80, quando fazia cobertura do setor de polícia do jornal. De um dia quase para o outro, surgiu nas ruas da capital a figura do “menor abandonado”.
Ele, o “menor abandonado” era acusado de cometer crimes e os jornais da época denunciavam, mas o problema permanecia. Foram contabilizados 600 “menores abandonados”, e, na ocasião, em campanha para a prefeitura de BH, o médico Célio de Castro disse que resolveria o problema, se eleito. Foi.
Mas não resolveu. E o problema só foi se agravando. De “menores abandonados” eles viraram “pivetes”, denominação criada pelo jornalista e poeta Henry Corrêa de Araújo, que publicou o livro “Pivetes!”
De “pivetes”, eles se tornaram “trombadinhas”. Trombavam nas pessoas, nas ruas do Centro da cidade arrancando relógios, pulseiras e correntes de ouro do pescoço principalmente de mulheres.
Como a sociedade ficou naquela de “vai, vai que estamos olhando”, eles se tornaram assaltantes a mão armada e foram evoluindo de tal maneira – e a sociedade continuava na mesma, “vai, vai que estamos olhando”.
Eles se homiziaram em favelas e de lá passaram a comandar o tráfico de drogas. E tanto traficaram que estão ricos e atualmente expõem o poder e mais dia menos dia o PCC poderá se tornar partido político e comandar o Brasil, tamanha ousadia.
E como disse linhas atrás, eles não querem polícia por perto, a rua onde moro é considerada a mais segura do bairro, devido à proximidade da favela Barragem Santa Lúcia. Ninguém é assaltado porque os traficantes mandam e punem quem ousar infringir a lei deles. Afinal, o “crime é organizado”.
*Jornalista e escritor