Não obstante, inúmeros indivíduos, estão alijados do processo de consumo, inclusive, do consumo básico: roupas, alimentos, sem um teto que lhe abrigue ou uma refeição no prato.
25-12-2024 às 10h40
Daniela Rodrigues Machado Vilela *
É triste, mas o bom velhinho, o Papai Noel, não se apresenta para todos. Quantas pessoas passam fome, enquanto outros, consomem cortes exóticos e caros de carne. Vários indivíduos trabalham em excesso, enquanto outros desfrutam de férias milionárias. As campanhas publicitárias incitam um consumo efêmero, desnecessário, desarrozoado. É tempo de falar também das desigualdades sociais tão dolorosas e desumanas.
Natal e Réveillon deveriam simbolizar alegria, vida nova. Pois é tempo de nascimento do menino Jesus e de renovação das esperanças. Porém, no fim de ano, tem-se o frenesi dos indivíduos em compras.
Os shoppings, ou melhor dizendo, as Mecas do consumo lotadas. Capitalismo selvagem. A banalização do consumo, o dessossego. O consumismo como meio de aliviar a ansiedade, a dor de viver.Não obstante, inúmeros indivíduos, estão alijados do processo de consumo, inclusive, do consumo básico: roupas, alimentos, sem um teto que lhe abrigue ou uma refeição no prato.A felicidade interior não é levada em conta por várias pessoas.
O que é apregoado como “valor” é olhar vitrines, comprar, parecer importante, demonstrar riqueza, ostentar. As relações humanas mediadas cada vez mais, por coisas. A exaltação do ter ao invés do ser.
Como se o ser humano fosse medido pelo que tem de bens materiais, por um desejo insaciável de consumir mais e mais num planeta de recursos finitos.Para além, são atribuídas qualidades exageradas e inexistentes aos objetos como se estes fossem capazes de tornar o indivíduo melhor que este é de fato.
A projeção da felicidade mediada pelo consumo, como diria Karl Marx é “o fetichismo da mercadoria”, ou seja, as coisas, os bens materiais, nas sociedades capitalistas enquanto supostos elementos de bem-estar, que enfeitiçam.
A afetividade, por vezes, fica para segundo plano, quando deveria ser o mais exaltado e valorizado. Consumir é necessário, mas é preciso entender que a vida extravasa.Luxo, status, benesses materiais não são suficientes.
O dinheiro seduz, mas não basta. É preciso despojar o homem da ilusão de que as posses materiais são o que mais importa. O homem deve possuir dinheiro, não o inverso. O dinheiro possuir o homem e dominar-lhe a vida.
O apelo publicitário das mercadorias nesta época do ano é voraz. É necessário se resgatar uma ética de valorização do humano.É inaceitável, metas de produção exorbitantes e, de outro lado, trabalhadores que cumpriram jornadas de labor extenuantes continuarem miseráveis. É tempo de pensar na valorização do trabalho humano.
Natal e ano novo devem ser tempo de caridade. Para além, de compreensão que é a valorização do trabalho humano o principal elemento para concessão de dignidade da classe que vive do trabalho. Pois, ao fim de um ano de labor, o trabalhador deve ter direito de consumir, de alimentar-se sem depender de gestos de caridade, de usufruir de férias, viajar, descansar.
De fruir o resultado do trabalho empreendido ao longo do ano.É preciso que se desperte a consciência de classe daqueles que laboram. Todos devem estar capacitados a consumir, viver de modo decente e se permitir parcelas de felicidade. Que se faça o viver em sociedade de modo mais humano e igualitário.
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, residente PósDoutoral pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.