
ONGs disputam áreas na Amazônia - créditos: divulgação
07-09-2025 às 13h13
Marcelo Barros (*)
Por trás do discurso ambiental e da proteção da floresta, a Amazônia tornou-se palco de disputas que vão muito além das fronteiras nacionais. De um lado, ONGs internacionais e organismos multilaterais pressionam por maior controle sobre a região. Do outro, o Brasil reafirma sua soberania diante de interesses que envolvem recursos naturais, segurança energética e influência geopolítica. Nesse embate, ganha destaque também o interesse de grandes indústrias estrangeiras em explorar o ecossistema amazônico para o desenvolvimento de remédios, cosméticos e produtos de beleza, muitas vezes sem garantir royalties ou retorno financeiro justo ao Brasil.
ONGs internacionais e pressões externas
A presença de ONGs internacionais na Amazônia é frequentemente apresentada como um esforço pela preservação ambiental. Porém, para além da narrativa ecológica, há indícios de que muitas dessas organizações também atuam como braços de influência estrangeira. Relatórios, campanhas globais e lobby em fóruns multilaterais acabam pressionando o Brasil a adotar políticas alinhadas aos interesses externos.
Algumas dessas entidades, financiadas por governos ou fundações privadas estrangeiras, defendem a ideia de que a Amazônia seria um “patrimônio da humanidade”. Esse discurso, embora com apelo ambiental, abre margem para questionamentos sobre a soberania brasileira. Afinal, quem decide o futuro da floresta: o Brasil ou organismos internacionais?
Além disso, há uma seletividade estratégica. Muitas ONGs concentram esforços no Brasil, mas são menos atuantes em países vizinhos amazônicos, o que reforça a percepção de que o alvo principal é a maior economia da região e a potência que mais influencia no Atlântico Sul.
Indústria global e a corrida por patentes
A biodiversidade amazônica é um tesouro científico e econômico. Estima-se que milhares de espécies de plantas, animais e micro-organismos ainda não tenham sido catalogados. É nesse espaço que grandes indústrias farmacêuticas, químicas e de cosméticos enxergam uma oportunidade bilionária.
Muitos produtos do dia a dia – de medicamentos a cremes de beleza – já utilizam compostos derivados de espécies amazônicas. O problema é que, em grande parte dos casos, essa exploração ocorre por meio de biopirataria: conhecimento tradicional é coletado, levado para laboratórios no exterior e convertido em patentes privadas. O Brasil, que deveria receber royalties por esses produtos, frequentemente é excluído do processo.
Esse cenário expõe uma contradição: enquanto discursos internacionais pedem ao Brasil que preserve a floresta “em nome do planeta”, indústrias estrangeiras transformam a Amazônia em um laboratório corporativo, gerando lucros sem contrapartida justa ao país. O resultado é uma perda dupla: ambiental e econômica.
A disputa geopolítica e a soberania brasileira
A Amazônia está no centro de uma disputa que transcende a questão ambiental. Trata-se de um tabuleiro geopolítico global, onde recursos estratégicos como água, minérios e biodiversidade são cada vez mais valorizados. Nesse contexto, o Brasil precisa equilibrar três dimensões:
• Preservação ambiental, essencial para a imagem internacional e para a própria sobrevivência do bioma.
• Desenvolvimento sustentável, capaz de gerar renda e oportunidades para a população local.
• Soberania nacional, garantindo que a exploração de recursos amazônicos seja feita de forma controlada, beneficiando diretamente o país.
Para tanto, é necessário investir em tecnologia, pesquisa científica e bioeconomia, fortalecendo instituições que possam transformar a biodiversidade em inovação nacional, e não em vantagem competitiva para outros países. Além disso, a presença do Estado – por meio das Forças Armadas e órgãos de fiscalização – deve ser ampliada para assegurar que a Amazônia continue sendo brasileira.
Conclusão
A disputa pela Amazônia não é apenas uma questão ambiental: é econômica, científica e geopolítica. Entre ONGs estrangeiras, pressões diplomáticas e interesses corporativos, o Brasil enfrenta o desafio de proteger não apenas a floresta, mas também o direito soberano de decidir sobre seu futuro.
Se o Heartland de Mackinder definia a supremacia no século XX, a Amazônia pode ser o pivô estratégico do Brasil no século XXI. A diferença está em garantir que suas riquezas – visíveis e invisíveis – sirvam ao povo brasileiro, e não apenas às grandes potências e indústrias estrangeiras.
(*) Marcelo Barros é jornalista