
Pastor Mário de Oliveira, presidente nacional da Igreja do Evangelho Quadrangular - créditos: IEQ
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26-06-2026 às 09h09
*Soelson B Araújo
Nos últimos anos, diversos líderes evangélicos brasileiros foram alvos de acusações graves que ganharam grande repercussão nas redes sociais e na mídia tradicional. Em comum, esses casos envolveram longos processos judiciais que, ao final, resultaram em absolvições ou arquivamentos por falta de provas. No entanto, para além das sentenças, permaneceram os danos à reputação, à vida pessoal e ao ministério religioso.
O caso Samuel Ferreira: década de acusações e desgaste público

O pastor Samuel Ferreira, uma das principais lideranças da Igreja Assembleia de Deus do Brás (AD Brás), enfrentou por cerca de dez anos acusações que, mesmo sem condenação formal, comprometeram sua imagem e geraram intensa cobertura negativa. Em 2025, após um processo jurídico prolongado, Ferreira foi absolvido com trânsito em julgado, e o caso arquivado definitivamente.
Apesar da decisão judicial, o estrago reputacional já estava feito. Durante o período, sua liderança foi questionada, a igreja sofreu divisões internas, e sua autoridade espiritual ficou sob constante suspeita. O caso ilustra como a absolvição jurídica nem sempre é suficiente para restaurar a confiança pública.
Mário de Oliveira: acusado de planejar crime, isento por falta de provas
Em 2007, o então deputado federal e pastor Mário de Oliveira, líder da Igreja do Evangelho Quadrangular, foi acusado de envolvimento no suposto planejamento do assassinato do ex-deputado Carlos Willian. O caso teve grande repercussão, com investigações conduzidas pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
No ano seguinte, em março de 2008, o processo foi arquivado por unanimidade, por falta de provas. Apesar do desfecho, Oliveira declarou que teve seu nome “lançado ao vento de forma negativa”. Para ele, o processo serviu como uma oportunidade para provar sua inocência, mas as suspeitas persistem no imaginário coletivo.
Os rastros deixados pela exposição
Os casos de Ferreira e Oliveira não são isolados. Pastores como Felipe Heiderich, Luiz Silvinho e André Valadão também passaram por processos semelhantes, nos quais a opinião pública se antecipou à Justiça. A dinâmica é conhecida: acusações ganham manchetes e viralizam nas redes; a absolvição, quando chega, mal é noticiada.

Entre os principais efeitos colaterais dessa exposição, destacam-se:
- Reputação comprometida: mesmo com a justiça sendo feita, muitos continuam sendo vistos com desconfiança.
- Ministérios enfraquecidos: igrejas perdem membros, líderes se afastam e a credibilidade espiritual é questionada.
- Abalos emocionais e familiares: traumas, depressão e rupturas são frequentes nos relatos das vítimas.
- Cobertura desequilibrada: enquanto denúncias ganham visibilidade, as decisões judiciais favoráveis quase não recebem atenção.
- Reflexos institucionais: levanta-se o debate sobre como proteger a presunção de inocência em tempos de julgamento digital.
Presunção de inocência e o papel das instituições
A Justiça inocentou, mas a sociedade ainda julga. Os casos mostram que o desafio não termina com o fim do processo legal. A reabilitação plena dos líderes religiosos depende de um esforço coletivo: da mídia, que precisa garantir cobertura equilibrada; das igrejas, que devem oferecer apoio institucional; e da sociedade, que precisa refletir sobre os impactos das narrativas antecipadas.
No final, fica a pergunta: como evitar que a sentença nas redes se sobreponha à sentença nos tribunais?
* Soelson Araújo é empresário, político, escritor, jornalista, membro da Igreja Batista Getsemani e Ceo do Diário de Minas.