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25-12-2025 às 09h16
Solange Mendes*
Tenho uma irmã que residiu quase onze anos nos Estados Unidos e contaminada pelo consumismo, tem a deliciosa mania de enviar-me presentes. Tudo da melhor marca, com preços fora da minha realidade brasileira, de classe média.
Bem, em uma das vezes que eu e minha filha, também beneficiada, recebemos uma caixa enviada por ela, veio uma saia supermoderna, de marca famosa, que trazia junto o preço, nada mais nada menos que $175. Isso mesmo, só cento e setenta e cinco dólares! Esse valor todo destinado a uma saia reta, presa à cintura por poucos prendedores pequeninos e que deixa a mostra as pernas até a altura do joelho.
Eu, mulher moderna, dona da própria moda, adorei a saia. A estreia ocorreu numa bela manhã de outono, quando vesti uma meia calça azul bebê. Ao perceber que não combinava com os tons marrons da saia, coloquei por cima uma outra meia calça preta com furos nas nádegas e nas pernas. Não me pergunte o porquê guardar uma meia nesse estado, no mínimo era diferente. Vestida com as meias, coloco a linda saia, uma blusa preta de manga comprida e por fim as botas para compor o visual.
Como era dia de semana, fiz meu trajeto normal: sai de casa cantando, com a bolsa de lado e segui a pé em direção à sede do IPSEMG, onde trabalho. Subi a Av. João Pinheiro como se fosse a Fifth Avenue, avenida famosa lá na região da minha irmã. Segui cantando, bem feliz e imponente com a saia nova, bem na minha, me achando…
Próximo ao Detran, antes de atravessar a rua Aimorés, ficava um feirante, vendedor de água de coco, pedaço de abacaxi, laranja descascada, pipoca, bala e chicletes. Ficava ali todos os dias. Era um senhor já com seus 60 anos, sério e muito concentrado no trabalho. Eu que seguia bem distraída, não observei que este senhor insistia para falar comigo, continuei caminhando na direção da Praça da Liberdade. O senhor chamava, gritava assoviava e eu fingia não ouvir.
Ao esperar um carro passar na travessia da rua Aymorés, fui surpreendida por um vento bem frio nas pernas…Gelei porque não senti a saia no corpo. Nesse instante, o senhor que gritava foi alvo da minha atenção. Virei para trás e vi, sem querer acreditar, que ele, logo ele, sacudia nas mãos a saia americana, a saia bonita e cara…Escutei: – Dona, dona, a sua saia, dona! Ó aqui a sua saia!
Eu voltei xingando todos os nomes não apropriados para este texto, com as pernas cobertas por aquela meia calça toda furada, em meio a Avenida João Pinheiro por volta das 13:00h, horário em que os homens enchiam as ruas em torno do Detran. O senhor sem conseguir disfarçar o sorriso tentava me ajudar: Dona, entra no carro pra vestir a saia… Pode entrar aqui na kombi…
– Que entrar no carro o quê!? Me dá logo esta saia aí!!!
Nesse tom bem desaforado, como se o senhor fosse o culpado, eu tomei a saia das mãos dele, vesti ali mesmo e segui para o meu trabalho. A princípio com a cara bem emburrada, mas à medida que ia chegando à praça da Liberdade, o mal humor foi dando lugar a gargalhada…
Me sentei na calçada e ri até cansar, lembrando o visual horroroso que ficou exposto, a bunda coberta por uma meia preta toda furada e um fundo azul bebê. …
Aquele senhor, que sempre estava lá no mesmo lugar, toda vez que eu passava, morria de rir, viramos amigos e ele conta para todos os clientes que param por ali a estória da dona que perdeu a saia… A única que não acredita é a esposa dele, que o acusou de safado e sem-vergonha por inventar uma estória como essa: – “Onde já se viu, uma mulher perder a saia!”
Mas ele não ligava, é só parar alguém que ele começa… “Eu que pensava que já tinha visto de tudo não imaginava ver uma dona perder a saia e ir embora. Ah! Se eu não grito…”

