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“Cidade da Cultura” de duas festas, do pequi e de catopês

“Cidade da Cultura” de duas festas, do pequi e de catopês

Quem é que faz cinema em Montes Claros? Carlos Alberto Prates Corrêa, morreu. Ele brilhou! Paulo Henrique Souto, morreu. Sei de Nenzão Maurício e Alberto Graça

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14-02-2024 às 7h:57

Alberto Sena

Tenho quatro filhos biológicos. E agora o amigo e conterrâneo cineasta, Eduardo Brasil, radialista e jornalista também, acaba de me dar como filho, o filme por ele produzido baseado no cordel do poeta Téo Azevedo. Filho, quer dizer, filme intitulado “U hômi qui casô cua mula”, obra em que revela de uma forma simples e ao mesmo tempo grandiosa, a alma do sertanejo, pura, analfabeta e ingênua.

Se o Brasil, quer dizer, o Eduardo não me contasse eu não acreditaria, que o belo filme dele de certo modo foi rejeitado por muitos que dizem fazer cultura na cidade, chamada de “Cidade da Cultura”.

Baseado na minha pequenez, vejo o filme do Eduardo como digno de prêmios porque ele teve alma para enxergar a alma catrumana como ninguém no nosso querido torrão natal.

Quem é que faz cinema em Montes Claros? Carlos Alberto Prates Corrêa, morreu. Ele brilhou! Paulo Henrique Souto, morreu. Sei de Nenzão Maurício e Alberto Graça. Tomara que haja mais alguém, porque, fazer cinema é cultura da maior arte, e não é para qualquer um.

O filho de Eduardo – e meu – honra a cultura de Montes Claros, que ainda ostenta o título de “Cidade da Cultura” devido a realização de duas festas.

A do pequi, que inclusive foi uma sugestão deste montes-clarino que “vos fala”, ao então prefeito de Montes Claros, o radialista Luiz Tadeu Leite. Na ocasião, ele ligou para a Redação do jornal Estado de Minas para me dizer que acatava a minha sugestão e realizaria, como realizou, a primeira da série Festival do Pequi, que logo passou a ser nacional

A outra festa é a do Senhor do Bonfim, a dos catopês. Eu entendo o que fizeram com os catopês. No afã de não deixar morrer a tradição, que desde lá de trás vem passando de pai para filho, resolveram investir neles financeiramente, chegando ao ponto até de vestir as vestimentas deles; fazendo se passar também por catopês.

Foi aí que erraram e acabaram por “roubar” a alma dos catopês autênticos, de origem. Investir nos catopês e ficar de fora só para apreciar as apresentações deles. Essa seria a atitude mais sensata, para não deixar morrer a alma catopê, herdada por Zanza.

Eu, particularmente, sou catopê de alma. Desde criança acompanhando-os pelas ruas da cidade, admirando aquelas fitas coloridas e esvoaçantes e o som característico deles, além das danças.

Toda vez que vejo os catopés em vídeo, fico arrepiado. Porque o catopê está em mim, mas nem por isso vou tomar as vestimentas deles e vestir. Ofereço o meu apoio, sempre e em qualquer circunstância e fico de fora apreciando a beleza do espetáculo dos catopés autênticos.

O catopê que há em mim, a essa altura dos acontecimentos – até levar catopê para o Carnaval do Rio de Janeiro se deu – imagina, o Mestre Zanza (o Velho) deva estar se remexendo na sepultura, porque estão transformando uma tradição, comprometendo a essência, quer dizer, a alma do catopê de origem.

P,S,: É bom deixar claro, pessoalmente nada tenho contra ninguém que faz cultura em Montes Claros, só estou exercendo o dever crítico profissional de um menino que é catopê de alma. E torce pelos catopês de origem. Talvez as pessoas não estejam vendo o que vemos e ouvimos.

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