20-10-2023 às 09:12h.

Alberto Sena*

 Antes de assumir a edição geral do Diário de Minas virtual, há pouco mais de um ano, tinha tempo de sobra e lia livros em quantidade, escrevia textos literários para exercitar o bestunto todo dia.

Depois que assumi a empreitada, tive de criar uma fila de livros para ler e cada um é lido na sua ordem de chegada, o que não é de todo mal, porque assim, lendo em conta-gotas, vou apreendendo mais com os autores, o que para mim é de fundamental importância.

Estou dizendo isso porque já faz um tempo fui merecedor da gentileza do amigo escritor e jornalista Hermínio Prates, ex redator do Diário de Minas impresso, o seu belo livro intitulado “A Amante de Drummond” e podia tê-lo lido assim, numa sentada, como se diz, mas tive de ir lendo-o aos poucos, o que acho ter sido melhor.

Sabe por quê? Porque assim pude ir mastigando e depois deglutindo com a maior tranquilidade os contos por ele contados com um texto primoroso, brilhante como o Sol de Janaúba, no Norte de Minas, onde mora atualmente, simples e cheio de condimentos que oferecem à gente leitor uma porção de histórias do cotidiano vividas por pessoas normais, bem contadas, o que faz dele um dos grandes escritores brasileiros com direito a ser lido por leitores do mundo inteiro.

Claro que fiquei curioso para saber quem fora a “amante de Drummond”, o que não deixa de ser uma técnica do autor para prender a atenção do leitor. Ele que, além de jornalista, foi professor de Jornalismo e sabe muito bem como lidar com gente como a gente, que gosta de ler e escrever e pode dizer ser ele um exímio escritor.

E para quem já está aguçado querendo ler o livro, sugiro que faça isso mesmo porque é uma publicação daquelas que vale o prazer de ler, inda mais em tempo de internet, Facebook, Instagram e outros meios que estão desviando a juventude da leitura de livro na mão para sentir dele o cheiro e tudo mais proporcionado por uma publicação que tem o seu diferencial, com textos cheios de diálogo e mesmo poesia porque afinal, Drummond está ali dentro e espelhado no título. Não podia ser um livro qualquer. Este é ô livro e tinha de estar estampado em todas as livrarias que ainda nos restam.

Este livro do Hermínio é do tipo que a gente entra nele de cabeça porque muitos dos contos tem a ver com a nossa rotina e não acontece outra coisa senão nos levar a entrar nas páginas como se fosse a gente mesmo que estivesse contando. Isso nem todo escritor tem a capacidade de inspirar no leitor e esta é uma característica do autor.

Claro que recomendo a leitura do livro por inteiro, mas até para provar que o li de cabo a rabo, destaco alguns contos, a começar do primeiro, “A amante de Drummond”, “Sambas, amores e dores”, “Sal dos olhos, sal da brisa e o conto “As traições de Helena”, mulher fascinante.

É fundamental dizer sobre o toque sutil erótico que habitou vários dos contos, desse professor universitário, do qual não tive o privilégio de ser aluno, mas imagino, as aulas ele ministrava como se estivesse escrevendo um conto para os alunos e as alunas.

Não vou ousar transcrever nenhum para não tirar do leitor a oportunidade de ler com os próprios olhos a beleza dos textos e menos ainda o impacto das narrativas que não são encontradas todo dia em alguma livraria, mesmo porque ultimamente os pontos de venda estão desaparecendo a três por dois. Vender livro agora é pela internet.

Como vem de longe, Hermínio sabe, ler livro é melhor tendo-o na mão para sentir o contato com o papel e cheirar o cheiro dele a fim de ganhar a intimidade contida nas 272 páginas de uma publicação que deve ser lida e relida por quem ama literatura de qualidade e tem gosto pela vida.

*Editor Geral do DM