
05-03-2025 às 09h09
Brunello Stancioli (*)
Entre as décadas de 1960 e 1970, o mundo assistiu a uma revolução cultural que, de maneira inesperada, contou com a colaboração das drogas. O uso de substâncias psicoativas não apenas moldou uma geração, mas também deixou marcas indeléveis nas expressões artísticas e sociais.
As festas tornaram-se arenas de libertação e experimentação, onde a música e a arte se encontravam em um estado de efervescência quase narcótica. Nesse contexto, surgiu a larica, um fenômeno que redefiniu a relação das pessoas com a alimentação.
A fome, antes encarada com seriedade, passou a ser tratada com um apetite quase hedonista, onde a quantidade frequentemente eclipsava a qualidade e o simples ato de se alimentar se transformava em uma celebração de excessos.
E que melhor maneira de exemplificar essa nova abordagem gastronômica do que o insólito feijão com goiabada? Elevada ao status de iguaria em um restaurante Michelin três estrelas, essa combinação, quando acompanhada de mandiopã com doce de leite e uma refrescante Guarapan sem gelo, se torna a verdadeira experiência culinária que todos nós sempre quisemos ter.
Quem necessita de trufas ou caviar quando se tem a sublime mistura de doce e salgado que, em um momento de inspiração, poderia ser a estrela de qualquer festival gastronômico? É claro que o grand finale dessa refeição digna de festivais de gastronomia é uma penca de bananas com casca — um toque de requinte que faria até o mais exigente dos críticos aplaudir de pé. Porque, evidentemente, a verdadeira sofisticação reside em abraçar o inesperado.
Entretanto, mesmo fora dos holofotes dos Michelin, há aqueles que, com um gosto peculiar, se aventuram a consumir banana com casca. E não podemos esquecer do papagaio, que, em sua peculiaridade, também se delicia com essa opção. Os modos à mesa desse animal, aliás, são um espetáculo à parte, onde a fusão de cores e sons se transforma em uma dança cômica que, sem dúvida, não se ajusta aos padrões de etiqueta.
Em um universo onde a elegância é frequentemente confundida com a capacidade de se empanturrar, o papagaio se torna um símbolo de como o simples pode ser elevado ao sublime — ou ao grotesco, dependendo da perspectiva.
E, assim, chegamos à figura do governador Azêmula. Sua notável decisão de comer banana com casca não é apenas uma escolha alimentar; é uma manifestação de sagacidade e perspicácia. Em um gesto que muitos poderiam considerar um tanto quanto… inusitado, ele se coloca como um verdadeiro líder na luta contra a fome. Essa iniciativa, por sua vez, é um exemplo de como a simplicidade pode se encontrar com a genialidade, prometendo acabar com a fome no mundo de maneira tão eficaz quanto uma penca de bananas. A mensagem é clara: não é necessário complicar a solução quando a resposta está na casca.
Azêmula se movimenta com a beleza e desenvoltura de um papagaio, unindo uma inteligência inquestionável ao seu ar campônio, como se estivesse sempre pronto para um banquete em qualquer circunstância. Ele se destaca não apenas pela escolha alimentar, mas pela maneira como transforma uma ação tão trivial em um ato de liderança.
Convenhamos, se papagaios são comprovadamente inteligentes, talvez seja hora de olharmos para o governador com um novo respeito — ou, ao menos, um novo nível de ironia. Afinal, quem diria que a solução para a fome poderia ser tão simples quanto uma banana com casca? Ao final, essa reflexão nos leva a ponderar: será que a verdadeira sagacidade reside na capacidade de transformar o banal em extraordinário?”
(*) Brunello Stancioli é professor na Faculdade de Direito da UFMG