29-12-2024 às 12h00
Editorial
Por Soelson Araújo*
Sabe-se que a mineração para Minas Gerais sempre foi e continua sendo a essência de nosso estado. Ela está em seu próprio nome, e como diria o poeta: “minas são gerais em nosso solo”. Só que isso não dá o direito de ninguém fazer uso de nossas riquezas naturais como bem entender.
Este ano, pela primeira vez, Minas Gerais não obteve em sua balança comercial os números recordes que fazia da mineração a campeã em arrecadação de impostos todos os anos. Foram os produtos agropecuários que somaram 15,7 bilhões, deixando para trás os minérios com desvantagem.
É importante e urgente que os governos, federal, estadual, municipais e o legislativo federal, estadual e municipais mineiro, assim como o ministério público de Minas Gerais sejam provocados para que a recente regulamentação do Código Nacional de Mineração, aprimorado em 2022 seja respeitado em toda sua extensão, em particular nas questões relacionadas ao lítio do Vale do Jequitinhonha.
O que se tem notícia sobre as atividades minerárias no Vale do Jequitinhonha é que, o povo do Vale está satisfeito com as perspectivas dos benefícios da exploração do lítio na região por duas mineradoras em operação há mais tempo, e diversas outras em processo de instalação em outros municípios da região, além de Araçuaí e Itinga, mas muito apreensivo quanto ao futuro de seus mananciais hídricos.
O que tem preocupado muita gente é a falta de clareza relacionada à política de compensação ambiental, social e econômica, primordiais para levar a uma mineração sustentável e a governança de sustentabilidade, além das garantias dos novos exploradores de que o Vale já penalizado com a carência hídrica, não venha a ser ainda mais prejudicado.
O jornal Diário de Minas vem alertando o Ministério Público Estadual, Assembleia Legislativa e lideranças políticas da região sobre o risco eminente de as poucas e principais bacias hídricas do Auto, Médio e Baixo Jequitinhonha secarem devido ao processo de beneficiamento do lítio pelo método convencional, ou seja, com o uso da água, já que o processo a seco requer investimentos de aproximadamente meio bilhão de reais.
Para se ter uma ideia, a Vale investiu nesse processo de beneficiamento a seco, mais de 11 bilhões de reais. Apesar disso, é necessária uma área gigantesca para acondicionar os rejeitos do pó, que exposto ao ar livre, o vento exala-o para grandes distâncias provocando doenças respiratórias e alérgicas aos moradores das proximidades das minas, como está acontecendo na região de Araçuaí e Itinga.
Segundo o IER – Institute for Energy Research afirma que, para realizar o processo de extração de lítio é necessário aproximadamente 1,9 milhões de litros de água por tonelada, a exemplo dos mineradores de Salinas: https://247storage.energy/1-metric-ton-lithium-requires-19-million-liter-of-water/.
Assim como ocorre na Argentina também, onde se localiza uma das maiores reservas de lítio do mundo. Lá, dentre grupos chineses e australianos estão investidores e exploradores velhos conhecidos como, Elon Musk (Tesla) e Bill Gates (Lilac Solutions). Por lá, o Instituto Humanitas Unisinos afirmou categoricamente que: “Para construir a bateria de um carro elétrico, que tem em média, oito quilos de lítio, são necessários 16.000 litros de água. https://www.ihu.unisinos.br/categorias/629124-de-onde-sai-a-agua-para-atender-a-demanda-por-litio.
Corre à boca pequena no Vale do Jequitinhonha e nas redes sociais, principalmente em Minas Gerais, que Elon Musk já teria se aportado no Vale e que já teria realizado aquisições de grandes áreas prospectadas com requerimentos de concessões adiantados ou já aprovados pelo DNPM, Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério de Minas e Energia de Minas Gerais para a exploração de lítio, só que ainda em segredo.
Como já alertado por este jornal ao procurador geral de justiça de Minas Gerais, doutor Jarbas Soares Junior, sobre as questões da água e do eucalipto no Vale do Jequitinhonha, que a pedido foi até objeto de uma pauta prévia encaminhada para sua assessoria de comunicação no primeiro semestre deste ano, mas, sem respostas até hoje.
Fica aqui mais este alerta sobre a água e o lítio no Vale. Esperamos que o novo procurador geral de justiça do MPMG, doutor Paulo de Tarso Morais Filho, eleito para o biênio 2025/2026, reconheça que de fato este é um problema regional que precisa ser enfrentado, assim como o presidente reeleito da ALMG, Tadeu Leite, para mais um mandato, 2025/2026. Abaixo vídeo TV Minas sobre o Vale do lítio , https://youtu.be/ghwtLesSZ8k?si=fk3Hht6Z-zC2QJGg
Soelson Araújo é empresário, político, escritor e diretor presidente do Diário de Minas