Enquanto a computação tradicional em bits testa cada resultado um a um, a computação quântica testa todos os resultados do problema proposto de maneira simultânea.
26-12-2024 às 09h26
Renato Corrêa*
E se os EUA largaram na frente nessa corrida, é difícil saber por quanto tempo conseguirão manter a dianteira, uma vez que a China investe mais que o triplo do que qualquer país hoje na pesquisa de computação quântica. 9, Einstein enviou uma carta escrita junto com o físico Leo Slizard para o então presidente americano Franklin Delano Roosevelt. A carta alertava sobre a possibilidade de que um novo tipo de arma viesse a ser produzida pelos nazistas. Era o início do Projeto Manhattan e a mecânica quântica seria a base da corrida pela arma final, a mais poderosa de todas, aquela que daria supremacia a um exército a ponto de levar ao fim da Segunda Guerra Mundial: a bomba atômica.
Oitenta e cinco anos depois, uma nova (e silenciosa) corrida armamentista envolvendo a física quântica está em andamento. Não mais contra a Alemanha, mas entre Estados Unidos e China. A corrida é, novamente, pela supremacia mundial. O primeiro país que desenvolver um computador quântico viável será capaz de acabar com todas as criptografias atualmente existentes: contas de banco, conversas de WhatsApp, senhas de cadastros e sites, bitcoins, tudo estará em perigo.
Os EUA largaram primeiro, com empresas como a IBM e a Intel anunciando seus chips quânticos nos anos recentes. Há 15 dias, um novo grande anúncio dessa corrida veio do Google. A última versão do seu processador quântico, o Willow, fez um cálculo em 5 minutos que levaria 10 septilhões de anos para ser feito num supercomputador atual.
O grande diferencial do novo chip do Google é seu sistema de redução de erros. A computação quântica não se baseia nos clássicos bits, que fazem os cálculos baseados em 0 e 1 (ou seja, em dualidades como sim e não; on e off etc.), mas nos qubits, que utilizam a lógica probabilística da física quântica em que vários estados simultâneos da matéria são possíveis, ou seja, uma superposição de 1 e 0 ao mesmo tempo.
Enquanto a computação tradicional em bits testa cada resultado um a um, a computação quântica testa todos os resultados do problema proposto de maneira simultânea. Ao menos essa é a teoria, já que, por enquanto, nenhum país conseguiu fazer com que o processamento quântico seja tão confiável quanto o processamento dos computadores tradicionais. O desafio atual da computação quântica é que ela é muito frágil, instável e, consequentemente, muito vulnerável a fatores externos, como temperatura ou ondas de rádio, que acabam causando erros nos resultados finais.
E se os EUA largaram na frente nessa corrida, é difícil saber por quanto tempo conseguirão manter a dianteira, uma vez que a China investe mais que o triplo do que qualquer país hoje na pesquisa de computação quântica. Os fins justificam a quantidade imensa de recursos. Aquele que colocar as mãos no primeiro computador quântico viável do mundo terá ao seu dispor tecnologia digna de ficção científica: superinteligências artificiais, novos tipos de armas químicas e biológicas, além de exércitos autônomos de drones e robôs. E ainda que tudo isso soe extremamente ameaçador, o maior de todos os perigos relacionados a computação quântica será algo muito mais singelo: um mundo sem segredos.
*“Um Mundo sem segredos”