Fomos para Nazaré, lá onde o Menino Jesus passou boa parte de sua infância e nos hospedamos em um kibutz, que, em realidade, é uma fazenda onde as pessoas trabalhavam em regime comunitário.
10-12-2024 às 08h39
Alberto Sena*
Nos dias de hoje, se me colocassem em um avião com tudo pago para ir a Israel a fim de subir a Jerusalém, como fiz em 1993, não iria porque a região ao Médio Oriente está como uma fornalha, na concepção que se tem de inferno.
E veja que foi lá onde nasceu o Menino Jesus, em Belém da Judeia. E irá nascer de novo dentro de 15 dias, para não dizer que ele nasceu todo dia e a todo momento no coração das pessoas que o deixam entrar.
E sabem o que significa o nome Jerusalém? Cidade da Paz.
Mas subi a Jerusalém tem todo um significado.
Subi uma vez.
Já contei isso noutra ocasião, e agora reconto em versão renovada, para quem não leu a anterior.
Só sei que foi de uma emoção sem igual!
Enquanto o ônibus subia se podia ver a paisagem característica da região, com predominância de pinus, e restos de tanques de guerra travada por Israel contra os seus vizinhos, contrários à instituição do país pela ONU, em 1948.
Corria o ano de 1993, na ocasião da viagem.
Fomos para Nazaré, lá onde o Menino Jesus passou boa parte de sua infância e nos hospedamos em um kibutz, que, em realidade, é uma fazenda onde as pessoas trabalhavam em regime comunitário.
Chegamos ao anoitecer de um sábado e ouvíamos judeus cantando o Sabat.
Uma quantidade enorme de pombos, rolinhas pedresas e outros pássaros da espécie arrulhavam como a nos recepcionar em meio a uma aura de leveza sem igual.
Encantado ali estava e o tempo todo sentia a sensação da presença de Jesus.
Essa sensação tornou-se mais nítida quando aos primeiros albores do dia abri a janela do apartamento e se não via a figura do Salvador da Humanidade, sentia a presença dele ali, como se estivesse andando com as vestes brancas seguido por apóstolos e crentes.
O kibutz foi instalado próximo da fronteira de Israel com a Líbano.
Podia-se ver distante uma cerca quilométrica separando uma faixa de terra por onde homens em dois jipes se cruzavam em vigília da área 24 horas por dia, área toda coberta de areia, de tal modo que os soldados podiam distinguir pegadas caso houvesse uma investida de alguém do outro lado.
Mas nem essa sensação estranha de insegurança inibiu a nossa visita a lugares onde havia plantios de frutíferas de variadas espécies, que, colhidas de manhã cedinho, logo estavam nas mesas dos europeus, porque exportadas frescas em aviões.
Emoções mil ao atravessar de barco o Mar da Galileia.
Os respingos da faixa d’água aberta à nossa passagem tinham sabor de bênçãos.
Saborear um “peixe São Pedro”, no almoço, em restaurante à beira do Mar da Galileia, foi marcante, assim como deixar o esqueleto do peixe intacto no prato, para espanto de dois cariocas. “Ele é mineiro, mas come peixe melhor do que nós, que o destroçamos”!
Mas nenhuma das emoções superou a visita à Catedral do Santo Sepulcro, onde se encontra a gruta donde Jesus Ressuscitou. Não cheguei à gruta, mas pude abraçar a lápide sobre a passagem, aberta há dois ou três anos, pela primeira vez, depois de 500 anos.
Disseram os que ali entraram, que tudo estava em ordem como se tivesse sido fechado ontem.
Acho que “subir a Jerusalém” é sonho de muita gente. O meu é de retornar, de olho na Jerusalém do Alto.
Na minha ignorância, acredito que Jesus Cristo não aprovaria o que acontece na região. É tudo uma prova de como o mal se propaga.
*Jornalista e escritor