A próxima edição dos Jogos será em Los Angeles, em 2026. É esperado que a rivalidade que marcou a edição de Paris, entre EUA e China, empatados em número de medalhas de Ouro, se aprofunde até lá.
06/12/2024 às 10h23
Mariana Grilli Belinotte*
As Olimpíadas de Verão chegaram e passaram. Mais uma vez as grandes histórias
ocuparam nossos dias com vitórias, competições e derrotas. Histórias de superação, de
persistência, e também momentos tristes, quando mesmo com esforço e dedicação, a
medalha escapa, como ocorreu, por exemplo, com Hugo Calderano e Ana Sátila.
O Time Brasil esperava superar os resultados de Tóquio (7 Ouros, 6 Pratas e 8
Bronzes, 21 medalhas no total). Não conseguiu. Foram 20 medalhas: apenas 3 Ouros
(Ana Paula e Duda no vôlei de praia; Beatriz Souza no judô, Rebeca Andrade na ginástica
artística), 7 Pratas e 10 Bronzes.
Um resultado positivo? Negativo? Não é tão simples assim, e deve ser analisado
com calma. É claro que esperamos sempre mais, sempre desejando ver a bandeira no
lugar mais alto do pódio, e um(a) atleta emocionado(a) ao som do Hino nacional.
Alguns esportes medalhistas em outras edições decepcionaram, como a natação
e a vela. Outros, como o vôlei de praia e o judô, apresentaram os bons resultados de
sempre. Nas modalidades recém-adicionadas aos Jogos, Skate e Surf, o Brasil se
destaca, mostrando que somos mesmo o país do futuro. E, como antecipei em minha
coluna anterior, o apoio das Forças Armadas e do Ministério da Defesa novamente foi
essencial, pois os atletas do PAAR conquistaram ao menos 10 das medalhas obtidas
nesse ano.
Ressalto ainda o feito da ginástica artística feminina: é a primeira vez que um país
da América do Sul* sobe ao pódio nessa categoria — e a estreia foi em grande estilo,
com quatro medalhas, comoção nacional, e o merecido reconhecimento às atletas e sua
comissão técnica. Aliás, as mulheres em geral estão de parabéns, tendo conquistado a
maior parte das medalhas e todos os Ouros dessa edição.
O fato é que, comparado ao resto do subcontinente, o Brasil é uma potência.
Quem mais se aproximou foi o Equador, com cinco medalhas. A Argentina conquistou
apenas três medalhas, o Chile, duas. É uma diferença significativa, que mostra que nossa
competição não é a nível regional: nossa disputa se dá a nível global, e a preparação e os
investimentos devem ser de acordo.
É claro que não esquecemos os desafios superados para chegar a esse patamar.
Os Jogos Olímpicos não são o paraíso da igualdade e da meritocracia, por mais que se
apresentem dessa forma. Desde a concentração geográfica do evento, quase sempre
sediado no hemisfério norte, até as repetidas decisões no mínimo questionáveis da
arbitragem, é possível ver que barreiras geopolíticas entre o “Primeiro Mundo” (que
concentra a maior parte das medalhas) e os “outros” ainda existem.
Um sinal nítido da diferença entre “eles e nós” foi o tratamento complacente dado
à cidade-sede, Paris. Problemas como a falta de qualidade da água do Sena, da comida
e dos quartos da Vila Olímpica, a exclusão dos moradores da cidade do evento ou o fato
de que os atletas permaneceram na chuva durante a — na minha opinião, bem sem
graça — festa de abertura foram prontamente relevados. Agora, imagine se tudo isso
tivesse acontecido em alguma cidade ao sul da Linha do Equador, como o Rio de
Janeiro…
Isso sem falar na questão que ninguém quis comentar: o surf ocorreu em um
território colonizado e controlado pela França, que também foi utilizado para testes
nucleares que até hoje repercutem na saúde da população local. Liberdade, igualdade e
fraternidade? Pelo visto apenas para os nascidos na Metrópole.
A próxima edição dos Jogos será em Los Angeles, em 2028. É esperado que a
rivalidade que marcou a edição de Paris, entre EUA e China, empatados em número de
medalhas de Ouro, se aprofunde até lá. Outras questões, como mudanças nos sistemas
de pontuação e nas regras anti-doping, ou a distribuição de vistos para os atletas —
principalmente aqueles oriundos de países em conflito com os Estados Unidos —
aparecerão até lá. Para o nosso país e para os nossos atletas, é mais uma chance de
melhorar nossos resultados e de conquistar mais vitórias. Para os brasileiros e brasileiras
que representaram o Brasil, nosso mundo obrigado, e até a próxima!
Foi a primeira vez também de um país africano no pódio da ginástica artística feminina, com o
Ouro de Kaylia Nemour, da Argélia.
Mariana Grilli Belinotte é bacharel e mestre em Direito (USP, UFMG) e doutoranda em
Ciências Militares (ECEME). Participa do Laboratório de Pesquisa em Poder Cibernético
(LPCiber), do Grupo de Estudos Estratégicos Raul Soares e do Laboratório de
Simulações e Cenários (LSC).